Comunicados Zapatistas

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O que é o CNI?

Retirado de <http://www.congresonacionalindigena.org/o-que-e-o-cni/>. Acesso em: 3/5/17.

O Congresso Nacional Indígena se constituiu no dia 12 de outubro de 1996, almejando ser a casa de todos os povos indígenas, o que quer dizer que é um espaço onde os povos originários encontraremos um espaço de reflexão e de solidariedade para fortalecer nossas lutas de resistência e rebeldia, com nossas próprias formas de organização, de representação e de tomada de decisões, é um espaço dos índios que somos. Somos os povos, nações e tribos originárias desse país México: Amuzgo, Binnizá, Chichimeca, Chinanteco, Chol, Chontal de Oaxaca, Chontal de Tabasco, Coca, Comcac, Cuicateco, Cucapá, Guarijío, Ikoots, Kumiai, Lacandón, Mam, Matlazinca, Maya, Mayo, Mazahua, Mazateco, Mixe, Mixteco, Nahua, Ñahñu/Ñajtho/Ñuhu, Náyeri, Popoluca, Purépecha, Rarámuri, Sayulteco, Tepehua, Tepehuano, Tlapaneco, Tohono Oódham, Tojolabal, Totonaco, Triqui, Tzeltal, Tzotzil, Wixárika, Yaqui, Zoque, Afromestizo e Mestizo.

Que quando dizemos povo o que somos, é porque levamos em nosso sangue, em nossa carne e em nossa pele toda a história, toda a esperança, toda a sabedoria, a cultura, a língua e a identidade. Somos os povos que continuamos sendo apesar dos 5 séculos de extermínio, violência, dominação, expropriação/exclusão do capitalismo e seus aliados dos donos do dinheiro, os representantes da morte. O capitalismo nasceu do
sangue de nossos povos e continua se alimentando dele.

Não esquecemos. Porque esse sangue, essas vidas, essas lutas, essa história são a essência de nossa resistência e da nossa rebeldia, que se fazem autonomias, reivindicações ancestrais de educação, segurança, justiça, espiritualidade, comunicação, autodefesa e autogoverno.

Coletivamente construímos, abraçamos, defendemos e exercemos os acordos de San Andrés Sakamch´en de los Pobres como a constituição de nossos povos, porque representam a única forma de seguir existindo como povos que somos, são o nosso direito a livre determinação e autonomia, o que quer dizer de decidir sobre nossos território, nossas formas de nos organizar coletivamente e a forma que queremos construir nosso futuro.

Os povos que formamos o CNI nos regemos por sete princípios e nosso espaço máximo de decisão é a assembleia geral reunida no congresso, onde todas e todos temos palavra para decidir coletivamente.

1.- Servir e não servir-se.
2.- Construir e não destruir.
3.- Representar e não suplantar.
4.- Convencer e não vencer.
5.- Obedecer e não mandar.
6.- Baixar e não subir.
7.- Propor e não impor.

Em 1998 realizamos nosso II Congresso Nacional Indígena no México Tenochitlán e dissemos: Pela reconstituição integral dos nossos povos pela qual decidimos impulsionar junto aos nossos irmãos do EZLN a Consulta Nacional para o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e pelo fim da guerra de extermínio.

Em 2001, no nosso III Congresso Nacional Indígena realizado em Nurío Michoacán dissemos: pelo reconhecimento constitucional de nossos direitos coletivos e nos somamos a Marcha pela Dignidade Indígena que encabeçaram nossos irmãos do EZLN, onde a voz primeira dos nossos povos e pela voz majoritária da sociedade mexicana se expressou exigindo o tal reconhecimento. Mas a resposta desse mal governo foi a de traição ao aprovar a contrarreforma indígena de 2001, proposta pelo poder executivo, materializada pelo poder legislativo e avalizada pelo poder judiciário, evidenciando que nossa palavra e nosso sentir apenas serviram de piada e de escárnio aos poderosos. Nos demos conta que o tempo de nos virar para cima havia se acabado, que o tempo de olhar para baixo nos sacudia e exigia empreender os passos que a história nos exigia.

No ano de 2006, no IV Congresso Nacional Indígena em San Pedro Atlapulco por meio de muita reflexão decidimos assinar a Sexta Declaração da Selva Lacandona: exercer até a últimas consequências a autonomia nos fazeres e na resistência indígenas.

Mas cientes de que construímos nossas autonomias, o despojo e a guerra de extermínio que foram ficando mais violentos e nossas dores cada vez mais profundas. A guerra quer nos matar como povos e nos matar como indivíduos.

Frente aos despejos que se multiplicam em novas formas e em novos rincões e que trazem tanta morte seguimos sendo os povos vivos e coletivos, os povos dignos com nossas rebeldias e resistências que se fizeram lutas e resistências nas que vemos espelhos que se refletem no espelho que somos.

Esses espelhos são os despejos que sofremos e que vivemos em nossos territórios, são os que nos fazem saber em uma emergência que atenta contra a nossa vida.

Da nossa dor nasceu a nossa raiva, da raiva nossa rebeldia e da rebeldia nascerá a liberdade dos povos do mundo. Porque o coração de nossa mãe terra vive no espírito livre dos nossos povos.

Isso é o que somos, nossa palavra, nosso caminhar e nossa luta irrenunciável, pois somos o Congresso Nacional Indígena e nosso é o futuro de nossos povos.

Conselho Indígena de Governo

Retirado de <http://www.congresonacionalindigena.org/conselho-indigena-de-governo/>. Em 3/5/17.

As experiências coletivas de autonomia, nascidas a partir das resistências e rebeldias que somos, nos ensinaram que o exercício da autonomia nos atos não é apenas uma decisão consequente com a luta de baixo que desde o que somos temos mantido sem vender os objetivos e as causas justas da luta, sem nos render apesar dos tropeços, da repressão, do despejo que não termina, da desqualificação e da divisão. Sem ceder nem sentarmos a descansar porque isso seria esperar nossa morte coletiva.

Essas resistências e rebeldias são formas de governos próprios em cada um de nossos territórios, são trabalhos coletivos, são formas próprias de segurança e de justiça, de agricultura e defesa dos cultivos tradicionais, de formas próprias de educação e de comunicação. Esses modos de consenso, acordos e propostas civilizatórias, regidas pelos 7 princípios que nos regem e nos tem dado resposta precisa aos graves problemas que afligem não somente as nossas regiões mas ao país inteiro, aos povos camponeses não indígenas e as sociedades nas cidades, é nossa proposta para a nação inteira.

A luta do Congresso Nacional Indígena é de baixo, à esquerda e anticapitalista. Nesses tempos onde a hidra capitalista avança e devora tudo o que está ao seu alcance, decidimos que chegou o tempo dos povos, de fazer vibrar esse país com o ladrar do coração da nossa terra mãe. Porque o cuidado com a vida e com a dignidade é nossa obrigação, a que só podemos responder de forma coletiva.

No Quinto Congresso Nacional Indígena realizado no mês de outubro decidimos levar a cabo uma consulta em todos os povos que integram o CNI para decidir se em nossas comunidades se aceitava a proposta emanada do CNI, para formar o Conselho Indígena de Governo (CIG) cuja palavra seja materializada por uma mulher indígena, delegada do CNI como candidata independente que dispute em nome dos povos que integramos o CNI e a sociedade civil o processo eleitoral o ano de 2018 para a presidencia desse país. O resultado da consulta em dezembro de 2016 foi a aprovação da proposta, com a participação de 523 comunidades, de 25 estados do país e de 43 povos indígenas.

Afirmamos que nossa luta não é pelo poder, não o buscamos; mas que chamaremos aos povos originários e a sociedade civil a nos organizar para deter a destruição, fortalecer nossas resistências e rebeldias, que dizer na defesa da vida de cada pessoa, de cada família, coletivo, comunidade ou bairro.

Não nos confundam, não pretendemos competir com os partidos políticos porque não somos o mesmo, não somos suas palavras mentirosas e perversas. Somos a palavra coletiva de baixo e à esquerda, essa que sacode o mundo quando a terra treme com epicentros de autonomia.

Por isso, na próxima assembleia do Congresso Nacional Indígena que será realizada no mês de maio em San Cristobal de las Casas, Chiapas, os povos que integramos o CNI constituiremos o Conselho Indígena de Governo (CIG), como parte dos acordos tomados em dezembro de 2016.

O CIG é a parte medular da proposta que o CNI faz ao país e aos povos indígenas. É a forma de como nos organizaremos nacionalmente a partir de baixo e da esquerda para governar o país, a partir de outra política, a dos povos, a da assembleia, a da participação de todas e todos. É a forma como os povos se organizam para tomar as decisões sobre os assuntos e problemas que nos competem a todas e todos. É outra forma de fazer política, a partir da horizontalidade, desde a análise e a tomada de decisões coletiva.

O CIG se regirá pelos 7 princípios do CNI: Servir e não servir-se, construir e não destruir, obedecer e não mandar, propor e não impor, convencer e não vencer, baixar e não subir, representar e não suplantar.

O CIG estará integrado por conselheiros, uma mulher e um homem de cada língua das diferentes regiões de onde se encontram os povos, tribos e nações que conformam o CNI. Os conselheiros serão eleitos por usos e costumes em suas assembleias e/ou espaços de decisão, que assumirão o compromisso de participar ativamente nesse espaço e de levar até suas assembleias as propostas e ações que emanem do CIG.

O CIG não impulsionará uma candidata mas uma porta-voz. Uma mulher indígena, porque tem sido a discriminada, humilhada, violentada, a mais pobre dos pobres só pelo feito de ser mulher. A mulher indígena que durante séculos não só viveu a violência desse sistema capitalista mas também desse sistema patriarcal que lhe impôs os lugares do silêncio sem voz nem o voto na sua casa e na sua comunidade, da obediência ao homem, da negação a decidir sobre sua vida e sobre seu corpo. Da
superexploração do trabalho sem nenhum pagamento, trabalho que nunca termina porque é a primeira a acordar e a última a dormir. Porque é a que foi carregada com mais pesar, com mais dor de sua gente assassinada, desaparecida, porque é a que viveu na própria carne a violência e o abuso em direção ao seu corpo e a sua sexualidade como parte de uma guerra de extermínio.

Uma mulher indígena que fale língua [indígena], porque é guardiã da sabedoria de sua cultura, dos cuidados de sua família, dos cuidados de seu povo. Guardiã e doadora da vida e de nossa mãe natureza. A filha do coração de cores, a que semeia esperança passo a passo, a que constrói a vida com outras e com outros, a que limpa e cura os corações do ódio e do poder. A que trança em seu cabelo a memória do povo.

Uma mulher indígena que fale a língua e que seja do CNI, porque tem dignidade, porque sabe lutar junto com outras e outros, porque sabe escutar as palavras e os corações, porque sabe tecer unidade com amor, valentia e decisão.

Ela será quem disputará pela Presidência da República. Ela será quem leva a voz do Conselho Indígena de Governo a todo o país, a todo o mundo. Ela será quem leva a voz dos povos e da sociedade civil. Ela será *nosotros*, *nosotras*.

QUE ESTREMEÇA EM SEUS CENTROS A TERRA

Para os povos do mundo
Para a imprensa livre
Para a Sexta Nacional e Internacional

Convocados pela comemoração do 20o aniversario do Congresso Nacional Indígena e da viva resistência dos povos, nações e tribos originários deste país México, das línguas amuzgo, binni-zaá, chinanteco, chol, chontal de Oaxaca, coca, náyeri, cuicateco, kumiai, lacandón, matlazinca, maya, mayo, mazahua, mazateco, mixe, mixteco, nahua, ñahñu, ñathô, popoluca, purépecha, rarámuri, tlapaneco, tojolabal, totonaco, triqui, tzeltal, tsotsil, wixárika, yaqui, zoque, chontal de Tabasco e irmãos aymara, catalán, mam, nasa, quiché y tacaná, dizemos com firmeza que nossa luta é abaixo e à esquerda, que somos anticapitalistas e que chegou o tempo dos povos, de fazer vibrar este país com o bater ancestral do coração de nossa mãe terra.

É assim que nos reunimos para celebrar a vida no Quinto Congresso Nacional Indígena, que ocorreu de 9 a 14 de outubro de 2016 no CIDECI-UNITIERRA, Chiapas, desde onde novamente nos damos conta da agudização da desapropriação e repressão incessantes há 524 anos em que os poderosos iniciaram uma guerra que tem como fim exterminar à nós que da terra somos e que, como seus filhos, não temos permitido sua destruição e morte para beneficiar a ambição capitalista que não conhece fim, apenas a destruição. A resistência por seguir construindo a vida hoje se faz palavra, aprendizagem e acordos.

Em nossos povos, nos construímos cada dia nas resistências por deter a tempestade e ofensiva capitalista que não cessa, mas apenas que se torna cada dia mais agressiva e tem-se convertido em uma ameaça civilizatória não apenas para os povos indígenas e campesinos, mas para os povos das cidades que devem também criar formas dignas e rebeldes para não serem assassinados, desapropriados, contaminados, adoecidos, escravizados, sequestrados ou desaparecidos. Desde nossas assembleias comunitárias, temos decidido, exercido e construído nosso destino desde tempos imemoráveis, pois que manter nossas formas de organização e defesa de nossa vida coletiva é possível unicamente por meio da rebeldia ante os maus governos, suas empresas e sua delinquência organizada.

Denunciamos que:
1. Ao Povo Coca, Jalisco, o empresário Guillermo Moreno Ibarra invadiu 12 hectáres de bosque na área rural conhecida como El Pandillo em aliança com as instituições agrarias, usando a criminalização dos que lutam, que levou 10 comuneros [1] a estarem sujeitos a julgamentos por 4 anos. O mau governo está invadindo a ilha de Mezcala, que é terra sagrada comunal, ao mesmo tempo que ignora o povo coca na legislação indígena estatal, com o objetivo de apagá-los da historia.
2. Os Povos Otomí Ñhañu, Ñathö, Hui hú, e Matlatzinca do Estado do México e Michoacán estão sendo agredidos através da imposição do mega projeto de construção da rodovia privada Toluca – Naucalpan e o trem interurbano, destruindo casas e lugares sagrados, compram consciências e fraudam as assembleias comunais com presença policial, além dos trapaceiros censos de comuneros que suplantam a voz de todo um povo, privatização e despojo de água e território no vulcão Xinantécatl, conhecido como el Nevado de Toluca, ao qual os maus governos retiram a proteção que eles mesmos lhe deram para entregá-los a empresas turísticas. Se sabe que por trás de todos estos projetos está o interesse pelo despojo da água e da vida na região. Na zona de Michoacán é negada a identidade ao povo otomí ao mesmo tempo que um grupo policial entrou na região para vigiar as colinas, proibindo os indígenas de subir e cortar madeira.
3. Os povos originários residentes na Cidade do México vem sendo despojados dos territórios que conquistaram para ganhar a vida trabalhando, roubando-lhes suas mercadorias e usando força policial. São despreciados e reprimidos por usar sua roupa e sua língua, além de serem criminalizados por os acusarem de vender droga.
4. O território de Pueblo Chontal de Oaxaca é invadido por concessões mineiras que desmantelam os terrenos comunais, o que afetará a 5 comunidades, sua gente e seus recursos naturais.
5. No Povo Maya Peninsular de Campeche, Yucatán e Quintana Roo, houve despojo de terras para a plantação de soja transgênica e palma africana, contaminação dos aquíferos por agroquímicos, construção de parques eólicos, parques solares, desenvolvimentos eco turístico e empresas imobiliárias. Mesmo assim, estão em resistência contra as altas tarifas de luz elétrica, o que tem atraído perseguições e ordens de apreensão. Em Calakmul, Campeche, 5 comunidades foram despojadas pela imposição de áreas naturais protegidas, pagos por serviços ambientais e retirada de carbono. Em Candelaria, Campeche, persiste a luta pela certeza na posse da terra. Nos 3 estados ocorre uma forte criminalização aqueles que defendem o território e os recursos naturais.
6. O Povo Maya de Chiapas, tzotzil, tzeltal, tojolabal, chol e lacandón continuam sendo despojados de seus territórios para a privatização dos recursos naturais, o que trouce encarceramentos e assassinatos daqueles que defendem o direito de permanecer em seu território. São discriminados e reprimidos constantemente quando se defendem e se organizam para seguir construindo sua autonomia, aumentando as violações aos direitos humanos a cargo de forças policiais. Existem campanhas de fragmentação e divisão dentro das organizações, assim como assassinatos de companheiros que tem defendido seu território e recursos naturais em San Sebastián Bachajón. Os maus governos seguem tratando de destruir a organização das comunidades bases de apoio do EZLN e nublar a esperança que delas emana e que oferece uma luz a todo o mundo.
7. O povo Mazateco de Oaxaca vem sendo invadido por propriedades privadas, que exploram o território e a cultura para o turismo, como a nomeação de Huautla de Jiménez como “Povo Mágico” para legalizar o despojo e a comercialização de saberes ancestrais, acompanhado de concessões mineiras e exploração de espeleólogos estrangeiros nas grutas existentes. O que impõem mediante uma crescente perseguição por parte do narcotráfico e da militarização do território. Os feminicídios e estupros das mulheres na região aumentam sempre junto com a cumplicidade omissa dos maus governos.
8. Os Povos Nahua e Totonaca de Veracruz e Puebla enfrentam as pulverizações aéreas, que produzem enfermidades a nossos povos. Há exploração e extração de minerais e hidrocarbonetos através do fracking e se encontram em perigo 8 bacias hidrográficas devido a novos projetos que contaminam os rios.
9. Os povos nahua e Popoluca do sul de Veracruz enfrentam o assédio da delinquência organizada e sofrem os riscos da destruição territorial e da desaparição como povo pela ameaça da mineração, dos eólicos e, sobre tudo, da extração de hidrocarbonetos mediante o fracking.
10. O Povo Nahua, que se encontra nos estados de Puebla, Tlaxcala, Veracruz, Morelos, Estado do México, Jalisco, Guerrero, Michoacán, San Luis Potosí e Cidade do México, enfrenta uma constante luta por conter o avanço do chamado Projeto Integral Morelos, que compreende gaseodutos, aquedutos e termoelétricas. Os maus governos, buscando deter a resistência e a comunicação dos povos, tenta despojar a rádio comunitária de Amiltzingo, Morelos. Ainda assim, a construção do Novo Aeroporto da Cidade do México e as obras complementares ameaçam os territórios circundantes ao lago de Texcoco e a Bacia do Valle de México, principalmente Atenco, Texcoco e Chimalhuacán. Enquanto isso, em Michoacán, o povo nahua enfrenta o roubo dos recursos naturais e minerais por parte de assassinos contratados acompanhados pela polícia ou exército e a militarização e paramilitarização de seus territórios. Tentar deter esta guerra tem custado o assassinato, perseguição, encarceramento e hostilização de líderes comunitários.
11. O Povo Zoque de Oaxaca e Chiapas enfrenta a invasão por concessões mineiras e supostas propriedades privadas em terras comunais na região dos Chimalapas; além de três hidroelétricas e a extração de hidrocarbonetos mediante fracking. Há corredores de gado e, por consequência, excessiva devastação dos bosques para pastagem. Também estão cultivando sementes transgênicas. Ao mesmo tempo, existem migrantes zoques em vários estados do país reconstituindo sua organização coletiva.
12. O Povo Amuzgo de Guerrero enfrenta o despojo de água do rio San Pedro para zonas residenciais e para o abastecimento da cidade de Ometepec. Sua rádio comunitária tem sido objeto de constante perseguição e hostilidade.
13. O Povo Rarámuri de Chihuahua sofre a perda de áreas de cultivo para a construção de estradas, do aeroporto em Creel e do gaseoduto que vem dos Estados Unidos até Chihuahua, além das mineradoras japonesas, as represas e o turismo.
14. O Povo Wixárika de Jalisco, Nayarit e Durango enfrenta a destruição e privatização de seus lugares sagrados, dos quais dependem todos os seus tecidos sociais, políticos e familiares; o despojo de suas terras comunais a favor de caciques, valendo-se das indefinições limítrofes entre os estados da República e campanhas de divisão orquestradas pelos maus governos.
15. O Povo Kumiai de Baja California segue lutando pela reconstituição de seus territórios ancestrais contra as invasões por particulares, a privatização de seus lugares sagrados e a invasão dos territórios por gaseodutos e autopistas.
16. O Povo Purépecha de Michoacán tem o problema de desflorestação, exercida pela cumplicidade entre os maus governos e os grupos narcoparamilitares, que saqueiam os bosques e a madeira. Para eles, a organização dos de debaixo nas comunidades é um obstáculo para o saqueio.
17. No povo Triqui de Oaxaca, a presença dos partidos políticos, empresas mineradoras, paramilitares e maus governos fomentam a desintegração dos tecidos comunitários para o saqueio dos recursos naturais.
18. No Povo Chinanteco de Oaxaca, destroem suas formas de organização comunitária com o repartição agrária, a imposição de pagamentos por serviços ambientais, a captura de carbono e o ecoturismo. A projeção de uma rodovia de 4 pistas atravessa o território e o divide. Nos rios Cajono e Usila, os maus governos tem projetadas três represas que afetarão aos povos chinantecos e zapotecos. Há concessões mineradoras e a exploração de poços de petróleo.
19. O Povo Náyeri de Nayarit enfrenta a invasão e destruição de seus territórios sagrados no local denominado Muxa Tena, no Rio San Pedro, mediante o projeto hidroelétrico Las Cruces.
20. O Povo Yaqui de Sonora mantêm a luta sagrada contra o gaseoduto que atravessará seu território e em defensa das águas do Rio Yaqui, que os maus governos decidem levar à cidade de Hermosillo, Sonora, ainda que contra sentenças judiciais e recursos internacionais que deixaram clara sua razão legal e legítima, valendo-se da criminalização e hostilidade de autoridades e porta-vozes da tribo Yaqui.
21. Os Povos Binizzá e Ikoot se organizam e se articulam para conter o avanço dos projetos eólicos, mineiros, hidroelétricos, barragens, gaseodutos e em especial a zona chamada Zona Econômica Especial do Istmo de Tehuantepec e de infraestrutura que ameaçam o território e a autonomia dos povos no Istmo de Tehuantepec, que são considerados como “talibãs” do meio ambiente e “talibãs” do direito indígena, conforme as palavras expressadas pela Associação Mexicana de Energia, ao referir-se à Assembleia Popular do Povo Juchiteco.
22. O Povo Mixteco de Oaxaca sofre o despojo de seu território agrário, afetando também seus usos e costumes mediante ameaças, mortes e encarceramentos, que buscam calar as vozes dos inconformados, promovendo grupos paramilitares armados pelos maus governos, como no caso de San Juan Mixtepec, Oaxaca.
23. Os povos Mixteco, Tlapaneco e Nahua da montanha e da costa de Guerrero enfrentam a imposição de megaprojetos de mineração apoiados pelo narcotráfico, seus paramilitares e os maus governos, que disputam os territórios dos povos originários.
24. O mau governo mexicano segue mentindo e tratando de ocultar sua podridão e responsabilidade absoluta no desaparecimento forçado dos 43 estudantes da escola normal rural Raúl Isidro Burgos de Ayotzinapa, Guerrero.
25. O Estado mantém sequestrados os companheiros Pedro Sánchez Berriozábal, Rómulo Arias Míreles, Teófilo Pérez González, Dominga González Martínez, Lorenzo Sánchez Berriozábal e Marco Antonio Pérez González da comunidade Nahua de San Pedro Tlanixco no Estado do México, o companheiro zapoteco da região Loxicha Álvaro Sebastián, os companheiros Emilio Jiménez Gómez e Esteban Gómez Jiménez, presos da comunidade de Bachajón, Chiapas, o companheiro Pablo López Álvarez e, mantendo em exílio, Raúl Gatica García e Juan Nicolás López, do Conselho Indígena e Popular de Oaxaca, Ricardo Flores Magón. Recentemente, um juiz sentenciou a 33 anos de prisão o companheiro Luis Fernando Sotelo por exigir a apresentação com vida dos 43 estudantes desaparecidos de Ayotzinapa, aos companheiros Samuel Ramírez Gálvez, Gonzalo Molina González e Arturo Campos Herrera da Coordenadoria Regional de Autoridades Comunitárias- PC. Além disso, mantém centenas de presos indígenas e não indígenas em todo o país por defenderem seus territórios e exigirem justiça.
26. No povo Mayo, o território ancestral está sendo ameaçado por projetos rodoviários para unir Topolobampo ao estado de Texas, Estados Unidos; ao mesmo tempo que se configuram ambiciosos projetos turísticos na Barranca del Cobre.
27. A nação Dakota está vendo seu território sagrado ser invadido e destruído por gaseodutos e oleodutos, e por isso mantêm um acampamento permanente para proteger o que é deles.

Por todo o anterior, reiteramos que o cuidado com a vida e a dignidade, ou seja, a resistência e a rebeldia desde abaixo e à esquerda, é nossa obrigação, a qual só podemos responder de forma coletiva. A rebeldia nós a construímos desde nossas pequenas assembleias em localidades que se juntam em grandes assembleias comunais, ejidales [2], em juntas de bom governo e em acordos enquanto povos, que nos unem sob uma identidade. Ao compartir, aprender e construir daquilo que somos o Congresso Nacional Indígena, nos vemos e sentimos em nossas dores, descontentamento e em nossos fundamentos ancestrais.
Para defender o que somos, nosso caminhar e aprendizagem vem se consolidando no fortalecimento nos espaços coletivos para tomar decisões, recorrendo a recursos jurídicos nacionais e internacionais, ações de resistência civil pacífica, deixando de lado os partidos políticos que só vem gerado morte, corrupção e compra de dignidades, tem-se feito alianças com diversos setores da sociedade civil, fazendo meios de comunicação próprios, polícias comunitárias e autodefesas, assembleias e concelhos populares, cooperativas, o exercício e defesa da medicina tradicional, o exercício e defesa da agricultura tradicional e ecológica, os rituais e cerimônias próprias para agradecer a mãe terra e seguir caminhando com ela e nela, a semeadura e defesa das sementes nativas, forúns, campanhas de difusão e atividades político culturais.
Esse é o poder que vem de baixo que nos tem mantidos vivos e é por ele que comemorar a resistência e rebeldia é também ratificar nossa decisão de seguirmos vivos construindo a esperança de um futuro possível unicamente sobre as ruínas do capitalismo.
Considerando que a ofensiva contra os povos não cessará, uma vez que pretendem fazê-la crescer até que se tenha acabado com o último rastro do que somos enquanto povos do campo e da cidade, portadores de profundos descontentamentos que desabrocham também em novas, diversas e criativas formas de resistências e de rebeldias, é que este Quinto Congresso Nacional Indígena determinou iniciar uma consulta em cada um dos nossos povos para desmontar desde abaixo o poder que os de cima nos impõem e que nos oferece um panorama de morte, violência, despojo e destruição.
Ante todo o anterior, nos declaramos em assembleia permanente e consultaremos em cada uma de nossas geografias, territórios e caminhos o acordo deste Quinto CNI para nomear um concelho indígena de governo, cuja palavra será materializada por uma mulher indígena, delegada do CNI como candidata independente que enfrente em nome do Congresso Nacional Indígena e do Exército Zapatista de Liberação Nacional o processo eleitoral do ano de 2018 para a presidência deste país.
Ratificamos que nossa luta não é pelo poder, não o buscamos; mas sim que chamaremos aos povos originários e a sociedade civil a organizar-nos para deter esta destruição, fortalecer-nos em nossas resistências e rebeldias, ou seja, na defesa da vida de cada pessoa, cada família, coletivo, comunidade ou bairro. De construir a paz e a justiça desde abaixo, desde onde somos o que somos.
É o tempo da dignidade rebelde, de construir uma nova nação por e para todas e todos, de fortalecer o poder do abaixo e à esquerda anticapitalista, de que paguem os culpados pela dor dos povos deste México multicolorido.

Por último, anunciamos a criação da página oficial do CNI www.congresonacionalindigena.org

Desde o CIDECI-UNITIERRA, Chiapas, outubro de 2016

Pela Reconstituição Integral de Nossos Povos
Nunca Mais um México sem Nós
Congresso Nacional Indígena
Exército Zapatista de Liberação Nacional

Tradução: CLAZ (https://claz.noblogs.org/post/2016/10/16/que-estremeca-em-seus-centros-a-terra/)

Notas dos tradutores:
[1] As pessoas que possuem e trabalham nas terras comunais.
[2] Terreno comunal. Sistema de distribuição e posse da terra que se institucionalizou depois da revolução mexicana, que consiste em outorgar um terreno a um grupo para seu uso.

COMUNICADO ZAPATISTA 26/07

EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.

MÉXICO.

26 de Julho de 2016.

A@s participantes e assistentes do CompArte:

À Sexta Nacional e Internacional:

Companheiros, companheiras, companheiroas:

Apesar de não podermos repor os gastos para a alimentação e transporte de nossa comunidade artística, como zapatistas que somos, buscamos o modo para não apenas corresponder a@s criador@s que responderam ao nosso convite ao CompArte, mas também para fazê-los sentir de alguma forma o respeito e a admiração que seu trabalho artístico nos provoca.

Então comunicamos a decisão a qual chegamos:

Apresentaremos, ainda que em calendário e geografia diferentes, um pouco da criação artística que as zapatistas, os zapatistas preparamos para mostrar-lhes. As apresentações serão de acordo com o seguinte:

Caracol de Oventik: 29 de julho de 2016. Das 10:00 horas às 19:00 horas, horário nacional. Participam artist@s zapatistas dos povos originários tzotzil, zoque e tzeltal de Los Altos de Chiapas.

CIDECI, San Cristóbal de Las Casas: 30 de julho de 2016. Assistência de uma delegação zapatista como observadora-ouvinte ao CompArte.

Caracol de La Realidad: 3 de agosto de 2016. Das 09:00 do dia 3 à madrugada do 4 de agosto. Participam artist@s zapatistas dos povos originários tojolabal, tzeltal, tzotzil, mame e mestizo da zona Selva Fronteriza.

Caracol de La Garrucha: 6 de agosto de 2016. Das 09:00 do dia 6 à madrugada do 7 de agosto. Participam artist@s zapatistas dos povos originários tzeltal e tzotzil da zona Selva Tzeltal.

Caracol de Morelia: 9 de agosto de 2016. Celebração do 13º aniversário do nascimiento dos caracoles e juntas de bom governo zapatistas. Das 09:00 do dia 9 à madrugada do 10 de agosto. Participam artist@s zapatistas dos povos originários tojolabal e tzeltal da zona Tsots Choj.

Caracol de Roberto Barrios: 12 de agosto de 2016. Das 09:00 do dia 12 à madrugada do 13 de agosto de 2016. Participam artist@s zapatistas dos povos originários chol e tzeltal da zona Norte de Chiapas.

Para poder participar, é necessário seu crachá de registro do CompArte no CIDECI, e inscrever-se na mesa instalada para tal no CIDECI, a partir do dia 27 de julho de 2016 pela tarde. Atenção: levar em conta que aqui… bom, por todos os lados, é temporada de tormentas.

Sabemos que a imensa maioria não poderá assistir a todas as apresentações agora que o calendário e a geografia se expandiram. De repente sim, vocês que sabem. De qualquer forma, estejam ou não, nos apresentaremos considerando que estão presentes.

NÃO SE PERMITIRÁ O ACESSO ÀS MÍDIAS PAGAS (ainda que digam que também trabalham em meios que não são pagos).

As mídias compas, os seja, as mídias livres, autônomas, alternativas ou como se chamem serão bem-vindas, inclusive pelos Tercios Compas, porque aqui sim há solidariedade gremial.

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Como zapatistas que somos e neste dia, reforçamos nosso apoio à demanda de verdade e justiça para Ayotzinapa e para tod@s @s desaparecid@s, que é mantida sem fraquejar pelas mães, pais, parentes e companheir@s dos ausentes. A tod@s el@s, a quem falta e a quem buscam, nosso melhor abraço. Sua dor é nossa dor e é nossa sua digna raiva.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Moisés. Subcomandante Insurgente Galeano.

México, julho de 2016.

Tradução: CLAZ (https://claz.noblogs.org/post/2016/07/29/comunicado-zapatista-2607/)

Carta aberta sobre a agressão ao movimento popular em San Cristóbal de las Casas, Chiapas

EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.

MÉXICO.

21 de Julho de 2016.

A quem seja agora o governador em função e demais capatazes do estado de Chiapas no sudeste do México:

Damas (já) e Cavaleiros (duas vezes já):

Não recebam nossas saudações.

Antes que pensem em inventar (como já está fazendo a PGR em Nochixtlán, Oaxaca) que a covarde agressão contra o acampamento de resistência popular em San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, foi orquestrada por ISIS, passamos a vocês, de graça, o informe que obtivemos:

As seguintes palavras são de um irmão indígena partidista (PRI) de San Juan Chamula, Chiapas, México:

“Às 9 da manhã (do dia 20 de julho de 2016) chamaram aos do Verde (Partido Verde Ecologista) à casa do governador. Ali regressaram e disse-lhes para fazer o que eles fizeram no outro dia.

(NOTA: se refere a quando um grupo de indígenas do Partido Verde Ecologista colocaram passa-montanhas¹ e foram fazer ataques no bloqueio de San Cristóbal e em Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas. Quando foram detidos pela segurança da CNTE, primeiro disseram que eram zapatistas (não o eram, nem o são, nem o serão), mas logo disseram que são partidistas.

Mas que desta vez iriam dialogar, para que aqueles do bloqueio deixaram passar os caminhões dos xamãs que fazem comércio em Tuxla. O presidente municipal (do Verde Ecologista) colocou as patrulhas e a ambulância locais. No de San Cristóbal, outro tanto de polícia. Nos governos de Tuxtla, um bom tanto a mais. Por si mesmos fizeram um trato com os policiais, ou seja, tinham seu plano. E então chegaram como quem queria dialogar e um grupo se meteu no caminho e então começaram a quebrar tudo, a roubar e a queimar, ou seja, nos atacaram pelos dois lados. Logo, como traziam armas, porque os Verdes andam armados, se puseram a disparar como bêbados e drogados. E os policiais estavam como que os protegendo, ou seja, eram seu apoio. Isso que os verdes fizeram já não estamos de acordo. Porque por si mesmos agora os turistas tem medo de vir à cabecera (de San Juan Chamula) e isso prejudica a todos porque diminui muito o comercio. Não é o bloqueio, são os serviçais verdes que estão difamando tudo. Agora vamos protestar em Tuxtla para que retirem esse presidente que é tão imbecil. E, se não fazem caso, pois já irão ver como aqui nós fazemos.”

No que se refere a sua desajeitada manobra de encapuzar paramilitares para apresentá-los como zapatistas (além de ser a repetição de algo já usado antes pelos Croquetas Albores), é um total fracasso. Questionadas sobre se acreditavam que aqueles que haviam desalojado o bloqueio e feito ataques eram zapatistas, assim responderam duas pessoas do povo, sem filiação política conhecida:

Um comerciante ambulante, com idade aproximada de 60 anos, responde:

“Não! Os que fizeram aquelas destruições são gente paga pelo governo, disso sabemos. Não são os que apoiam os professores. Porque a luta dos professores é boa, se não, vamos terminar pagando a educação nós mesmos. E de onde tiram dinheiro para pagar os professores? Pois é do povo. O que falta é que pelo menos a maioria dos estados decidam entrar nessa, porque já há quatro estados que estão já postos, mas os demais não sabemos para quando.”

Uma indígena Chamula, comerciante ambulante, contesta:

“Nãããão!!! Não são eles, eles não se comportam assim! Eles (os zapatistas) sim estão apoiando aos professores e esses de ontem quiseram se fazer passar por eles, mas não são, só colocam seus passa-montanhas, mas não se portam igual.

– E quem era essa gente de ontem?
– São outros, foram pagos.
– E como você vê a luta dos professores?
– Pois estes sim precisamos apoiar”

-*-

Estamos seguros que vocês o ignoram (as idiotices que fazem é pela mesma razão, ou seja, por serem tontos), mas resulta que o assim chamado “conflito magisterial” surge pela estúpida prepotência do cinzento aspirante à polícia que todavia despacha na Secretaria de Educação Pública (SEP, nas siglas em espanhol, oh, de nada, não precisa agradecer). Depois das mobilizações e da resposta governamental a essas mobilizações com ameaças, demissões, agressões, cárceres e mortes, o magistério em resistência conseguiu que o governo federal se sentasse para dialogar. É, pois, um assunto federal. Corresponde ao governo federal e ao magistério em resistência dialogar e chegar ou não a acordos.

Vocês simpatizam com a teimosia da cinzenta polícia. Nós, zapatistas simpatizamos com as demandas do magistério e o respeitamos. E não somente com a CNTE, também e sobre tudo com o movimento popular que se levantou em torno de suas demandas. Como zapatistas que somos, temos feito pública nossa simpatia ao apoiá-los com, além de palavras, um pouco de alimento que pudemos juntar de nossas mesas.

Vocês creem que vão derrotar esse movimento, já popular, com ataques disfarçados de “indignação cidadã”? Pois já viram que não. Da mesma forma que os irmãos povos originários fizeram em Oaxaca, si os desalojam, se colocam de volta. Mais de uma vez. Porque aqui, nos de baixo, não existe cansaço. Seus patrões calcularam que o movimento do magistério em resistência iria desinflar no período das férias. Já viram que se equivocaram (mmh, já são mais de 3 falhas na avaliação, se tivessem aplicado a “reforma educativa” para eles já estariam despedidos, e buscando emprego em Iberdrola ao lado do psicopata).

O movimento não para de crescer e conquistar simpatias, enquanto vocês só convocam antipatias e repúdio.

Como apontamos há quase dois meses, o movimento já encorpa distintos setores sociais e, claro, suas demandas específicas. Por exemplo, vocês não estão sabendo, mas já pedem a destituição de Cancino (suposto presidente municipal de San Cristóbal de Las Casas, cidade que está, talvez vocês não saibam, no estado de Chiapas, México) e o encarceramento de Narciso, chefe paramilitar da ALMETRACH. Isso e outras coisas que demandam podemos resumir em apenas uma: bom governo. Não tardará que se deem conta de que vocês, tod@s, estorvam, que não são nada mais do que parasitas que adoecem a sociedade inteira, acima e abaixo?

Mas então vocês se sentem muito seguros e mandam seus cachorros roubar-lhes os poucos pertences dessas pessoas que estão se manifestando PACIFICAMENTE. Bom, pois então nós, zapatistas, voltaremos a juntar alimentos e os equipamentos que roubaram, e voltaremos a mandar para eles. Mais de uma vez.

No lugar de fazer a eles declarações ridículas (como a da negação do covarde ataque ao acampamento POPULAR em San Cristóbal), poderiam contribuir em algo à necessária diminuição da tensão para que esse diálogo e negociação siga de forma que determinem suas partes (que, os recordamos, é entre o Governo Federal e a Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação), fariam bem em amarrarem seus cachorros (chamados Marco Antonio, Domingo e Narciso). Apenas balancem um maço de dinheiro na frente deles e verão como obedecem.

E um conselho não pedido: não brinquem com fogo em San Juan Chamula, o descontento e a divisão que vocês estão fomentando com suas tonteiras dentro desse povo pode provocar um conflito interno cujo terror e destruição não se poderão tapar nem com bots em redes sociais, nem com inserções pagas, nem com o pouco dinheiro que Manuel Joffrey Velasco Baratheon-Lannister deixou na tesouraria estatal.

Então tranquilo. Paciência e respeito. Esperemos que o governo federal dialogue e negocie com seriedade e compromisso. Não apenas porque as demandas magisteriais são justas, também porque talvez esta seja uma das últimas vezes que terão com quem dialogar e negociar. Tamanha é a decomposição que vocês estão incentivando que, logo, não saberão nem a quem caluniar. Ademais, claro, não haverá nada no outro lado da mesa.

Entendido?

Então, vocês com suas sujeiras, quer dizer, com seu Photoshop, suas páginas em redes sociais, suas festas espalhafatosas, seus anúncios monumentais, suas revistas do coração, sua frivolidade de quem carece de inteligência.

Governar? Vamos, isso nem os meios de comunicação pagos já não acreditam!

Melhor colocarem-se lado e aprenderem, porque esta é Chiapas, e o chiapaneco é muito povo para um governo tão miserável.

-*-

A quem corresponda:

Como zapatistas que somos, é nossa convicção, e trabalhamos em consequência dela, que se devem respeitar as decisões, estratégicas e táticas, do movimento. E isto serve para todo o espectro político. Não é legítimo querer montar em um movimento para tratar de levá-lo para fora de sua lógica interna. Nem para freá-lo, nem para acelerá-lo. Se não, deixem claro que o que querem é usar esse movimento para seus fins e propósitos particulares. Se o disserem, talvez o movimento os siga, talvez não. Mas é mais sensato deixar claro ao movimento sobre o que se busca ali. Como querem dirigir se não respeitam às pessoas?

Nós, como zapatistas que somos, não vamos dizer à nossas professoras e professores atuais (@s da CNTE e os povos, bairros e colônias que apoiam) o que fazer ou o que não fazer. Isto deve estar bem claro a todas essas nobres pessoas que lutam: QUALQUER MOVIMENTO QUE O ZAPATISMO FAÇA NO QUE SE REFERE AO MOVIMENTO POPULAR EM CURSO (ou aos que surgirão depois) SERÁ ANUNCIADO PUBLICAMENTE COM ANTECEDÊNCIA e sempre respeitando seus tempos e modos. Tanto a Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação, como os movimentos de povos originários, colonias e bairros que apoiam ao magistério devem entender que, qualquer que seja sua decisão, seja sobre o rumo, o destino, os passos e a companhia que decidam, receberão nosso respeito e saudação.

Aqueles que se “disfarçarem” de zapatistas e gritarem coisas que envolvam a outr@s podem bem se divertir um pouco e ganhar uma medalhinha em seu curriculum, mas não deixa de ser falso e desonesto. Nós não nos levantamos para repartir junk food² roubada, sim por democracia, liberdade e justiça para tod@s. Se acreditam que é mais revolucionário e que ajuda mais ao movimento quebrar vidros e roubar comida que não alimenta, pois que o movimento analise e decida. Mas esclareçam que não são zapatistas. Não nos perturba nem irrita que nos digam que não entendemos o momento conjuntural, ou que não temos visão das vantagens eleitorais, ou que somos pequeno burgueses. Só nos interessa que essa professora, esse professor, essa senhora, esse senhor, esse jovem ou jóvena, sintam que aqui, nas montanhas do sudeste mexicano, há quem os queira, os respeita e os admira. Ainda que nas grandes estratégias eleitorais ou revolucionárias não entrem em jogo esses sentimentos.

Porque o magistério em resistência e, como se faz cada vez com mais frequência, o movimento popular que se encorpa em torno dele, enfrenta condições adversas muito difíceis. Não é justo que, em meio a tudo isto, tenham que superar não apenas barras, cassetetes, escudos, balas e, agora, paramilitares; também “conselhos”, “orientações”, e ordens “com-todo-o-respeito” indicando-os o que devem ou não fazer, avançar ou retroceder, os seja, pensar e decidir.

Nós, zapatistas, não os mandaremos junk food aos que lutam, apenas torradas de milho não transgênico, não roubadas, mas feitas com o trabalho de milhares de homens e mulheres que sabem que ser zapatista não é ocultar o rosto, mas mostrar o coração. Porque as torradas zapatistas, requentadas, aliviam a fome e estimulam a esperança. E isso não se consegue nas tendas de conveniência nem nos supermercados.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Moisés. Subcomandante Insurgente Galeano.

México, 21 de julho de 2016.

Tradução: CLAZ (https://claz.noblogs.org/post/2016/07/25/comunicado-zapatista-210716/#)

Notas d@s tradutor@s:

[1] Capuzes pretos usados pelos zapatistas.

[2] Aquilo que é servido como comida nas redes de lancherias estilo norte-americanas.

Datas e outras coisas para a escolinha zapatista

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

Datas e outras coisas para a escolinha zapatista
Exercito Zapatista de Libertação Nacional
México

Março de 2013.

Companheiras, companheiros, irmãos e irmãs da Sexta:

Sobre visitas, caravanas e projetos.

Vocês sabem que estamos preparando as aula de nossas escolinhas,e nisso nos iremos concentrar, para que tudo saia bem, e sejam bons e boas os alunos e as alunas.

E nós, juntamente com as autoridades, pensamos que existem coisas que não poderemos fazer, para que não perdermos o foco, por exemplo: recebê-los para uma entrevista, trocar experiências, caravanas, equipes de trabalho, ou discutir uma ideia de projeto. Então, por favor não faça a viagem para nada, pois nem a junta de bom governo, ou as autoridades autônomas, nem as comissões de projetos serão capazes de atendê-los.

Se qualquer pessoa ou coletivo esta pensando em trazer caravana com apoio para as comunidades, pedimos que aguardem até que chegue a hora para isso, ou se você já tiver providenciado a viagem, então por favor pare no CIDECI com o Dr. Raymundo, aqui em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México.

Não estamos dizendo que NUNCA, mas que por agora NÃO porque queremos nos concentrar na escolinha. Para que não se entenda mal, queremos avisar-lhes o porquê de que não os iremos atender.

Dizemos isto para que não se planejem viagens que requeiram conversas com autoridades, porque não seremos capazes de atendê-los, pela simples razão de que todo o nosso esforço é para a nossa escolinha, para você, para o México e para o mundo, e é por isso que o esforço vai para lá.

E assim estaremos nas Juntas de Bom Governo e nos cinco caracóis, não poderemos atendê-los. Mas será possível visitar os caracóis.

O mesmo para os projetos que já existem nas 5 juntas, existem coisas que não vamos poder fazer, somente aquilo que não seja necessária consulta ou muito movimento para nossos povos. Se não, vai ficar para outra ocasião.

Queremos que vocês nos entendam, que para nós não é tempo de caravanas, ou projetos, ou entrevistas, ou troca de experiência, ou outras coisas. Para nós, os zapatistas, as zapatistas, é hora de nos prepararmos para a escolinha. Nós não vamos ter tempo para outras coisas, a menos que o mal governo apronte uma das suas, e então a coisa muda de figura.

Com vocês companheiros, companheiras, irmãos e irmãs acreditamos que há compreensão.

Sobre escola.

Aqui vão as primeiras informações sobre a escolinha, para que já se preparem aqueles que vão receber as classes.

1 -. Para a Festa dos Caracóis estão convidados todos e todas que se sintam convocados. A festa será nos 5 caracóis, assim que podem ir ao que queiram. A chegada será no dia 8 de agosto, 9 e 10 será a festa, e 11 é dia de retorno. Cuidado: a festa não é o mesmo que a escolinha. Não confundam.

2 -. Com esta festa, as bases de apoio zapatistas irão celebrar o décimo aniversário da Juntas de Bom Governo, mas não só.

3 -. Por estes dias começa a nossa pequena escola muito outra em que noss@s chef@s, quer dizer, as bases de apoio zapatista, vão dar aulas de como foi seu pensamento e sua ação em liberdade segundo o zapatismo, seus acertos, seus erros, seus problemas, suas soluções, o que têm avançado, o que está travado e que está faltando, porque sempre falta o que está faltando.

4 -. Primeiro curso (faremos muitos para que possam participar tod@s), o primeiro nível é de 7 dias, considerando chegada e partida. Chegada em 11 de agosto, a aula começa 12 de agosto de 2013 e termina em 16 de agosto de 2013. E no dia 17 de agosto de 2013 é a partida. Aqueles que já terminaram o curso e querem ficar mais tempo, podem visitar outros caracóis diferentes daquele que fizeram o curso. O curso é o mesmo em todos os caracóis, mas você pode conhecer outros caracóis diferente daquele que você esteve, mas então cada um vai por sua conta.

5 -. Pouco a pouco vamos contando como será isso da inscrição na escolinha de liberdade segundo os zapatistas, e as zapatistas, mas já adiantamos é laica e gratuita. A pré-inscrição será com as Equipes de Apoio da Comissão Sexta, nacional e internacional, no site Enlace Zapatista e através de e-mails. O registro de alunas e alunos será no CIDECI em San Cristobal de Las Casas, Chiapas. Convites vão começar a ser enviados, conforme vamos podendo, a partir de 18 de março de 2013.

6 -. Mas não pode ir aquele que quiser a escola, senão que vamos convidar diretamente. Est@s compas que convidemos, nós vamos cuidar, vamos dar de comer, um lugar onde dormir, e vamos ter um guardião ou guardiã, que seja seu “Votán” que vai cuidar para que esteja bem e não sofra nas classes, só um pouco, só aquele pouco necessário.

7 -. Os alunos e as alunas terão que estudar bastante. O primeiro nível tem quatro temas são: Governo Autônomo I, Governo Autônomo II, Participação das Mulheres no Governo Autônomo e Resistência. Cada tema tem o seu livro-texto. Os livros didáticos tem entre 60 e 80 páginas cada, e o que lhes apresentou o SupMarcos é apenas uma pequena parte de cada livro (3 ou 4 páginas). Cada livro vai custar 20 pesos mexicanos, que é o preço de custo.

8 -. O curso dura sete dias o primeiro nível, e segundo o tempo de cada compa, porque sabemos que cada um tem o seu trabalho, sua família, sua luta, o seu compromisso, ou seja o seu calendário e sua geografia.

9 -. O primeiro curso é apenas de primeiro grau, e faltam muitos mais, ou seja, não vai acabar rápido a escola, mas ao contrário demora. Aqueles que passarem a primeira fase poderão fazer para o segundo nível.

10 – Sobre os gastos: O compa, a compa têm que ter garantir a sua passagem até o CIDECI, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, e também a sua passagem de volta. Do CIDECI, eles vão para a escolinha que lhes cabe e, quando terminar, retornam ao CIDECI já para de lá, ir para os locais de cada pessoa. Lá na escola, que é na comunidade, não precisa ter vergonha, vai ficar garantido o feijãozinho, as verdurinhas e a tortilla. Ou seja, os gastos de cada aluno vão cobrir os zapatistas. Cada estudante ou estudanta vai morar com uma família indígena zapatista. Nos dias que esteja na escola está será a família do aluno ou da aluna. Com esta família vai comer, trabalhar, descansar, cantar, dançar, e eles o vão encaminhar a sua escola. E o “Votán” ou o guardião ou a guardiã, vai estar acompanhando ele ou ela sempre. Então, vamos estar pendente de cada estudante ou estudanta. E se você ficar doente, pois ali te curaremos e se for sério, vamos te levar a um hospital. Mas o que está na sua cabeça, como vai chegar e partir, sobre isso não poderemos fazer nada, ou seja fica a critério de cada companheiro ou companheira o que vai fazer com o que ver, ouvir e aprender. Desta forma, vai ser ensinada a teoria, a pratica cada um vê como se dá nos espaços de cada quem.

11 -. Para pagar seus gastos escola, bom, isso a gente resolve. De repente, podemos fazer um festival de música e dança, ou umas pintura e artesanato, mas não se preocupe, porque damos um jeito e sempre tem gente boa que apoia coisas boas. Para aqueles que querem doar para a escola, nós vamos colocar um cesto no local de registro de alun@s, ou seja no CIDECI, com os compas da Universidad de la Tierra, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas. Então lá cada um põe o quanto pode, e ninguém vai saber quem doou quanto e ninguém fica triste porque doou mais ou menos. Não vai ser permitido que se dê dinheiro ou se deixem presentes diretamente as escolas, famílias, ou caracóis. Isto é para que seja igual o que cada um vai receber. Tudo o que você quiser doar, é no CIDECI, com os compas da Universidad de la Tierra, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México. Então se junta tudo e se divida por igual, se é que vai ter algo. Se não, não importa, o que importa são vocês.

12 -. Há outras formas de assistir as classes da escola zapatista. Vamos pedir apoio com os compas de meios livres, libertários, autônomos, e quem saiba disso de videoconferência. Porque nós sabemos que muitas pessoas não poderão vir por suas questões de trabalho ou problemas pessoais ou familiares. E há pessoas que não entendem espanhol, mas estão ansiosos para saber como é que os zapatistas, as zapatistas fizeram o que eles fizeram e como eles têm desfizeram o que desfizeram. Então, teremos um curso especial, que será gravado e mandado aonde haja um grupo de aluno e alunas dispostos e com seus livros, assim eles poderão ver o curso, e com isso de internet poderão fazer perguntas aos professores e professoras das bases de apoio zapatista.

Para isto, vamos convidar uma reunião especial com alguns meios alternativos para chegar ao acordo sobre como eles vão fazer as videoconferências e tirar foto e vídeo dos lugares que serão dadas as aulas, para que todos possam ver se é certo ou não o que estão ensinando os professores e professoras.

E outra forma, é vai levar cópias de dvd dos cursos para aqueles que não possam ir a nenhum lugar e só podem estudar em casa, porque essa também é uma forma de aprender.

13 -. Para poder participar da escolinha zapatista, terão que fazer um curso de preparação onde se vai explicar como é a vida nas comunidades zapatistas, as suas regras internas. Para que não se cometa nenhum delito. E o que é necessário levar. Por exemplo, não se devem levar aquelas que são chamados de “barracas”, que também são inúteis, já que vão ser recebid@s por famílias indígenas zapatistas.

14 -. De uma vez lhes dizemos claramente que esta PROIBIDO produzir, comercializar, trocar e consumir qualquer tipo de drogas e álcool. Também esta proibido portar qualquer tipo de armas, seja de fogo o “brancas”. Aqueles que peçam para ingressar no EZLN ou perguntar qualquer coisa militar, serão expulsos. Não se estará recrutando ou promovendo a luta armada, mas a organização e a autonomia para a liberdade. Também se proíbe qualquer propaganda política e religiosa.

15 -. Não há limite de idade para frequentar a escolinha, mas alguém é menor de idade, ele ou ela deve vir com um adulto responsável.

16 -. Quando se inscrevam, depois de serem convidad@s, pedimos que esclareç@am, se são outr@, homem ou mulher para ver como os acomodaremos, para que cada individuo ou individua seja respeitad@ e cuidad@. Nao há discriminação por gênero, orientação sexual, raça, credo, nacionalidade. Qualquer ato de discriminação será punido com a expulsão.

17 -. Se alguém tem uma doença crônica, pedimos-lhe que leve o seu remédio que nos avise para que estejamos cientes e possamos cuida-lo caso ocorra algo.

18 -. Quando se inscrevam depois de serem convidad@s, pedimos que nos digam sua idade e condição física e de saúde para que os acomodemos em uma escola em que não sofram mais do que o necessário.

19 -. Se convidad@ e não puder comparecer nessa primeira data, não seja tímido. Basta dizer-nos quando pode e a gente faz o curso quando você possa. Além disso, se alguém não pode concluir o curso ou não pode chegar quando já está inscrito, não há problema, você pode terminar mais tarde. Embora, lembre-se que você também pode participar de vídeo conferências ou cursos que estarão sendo dados fora do território zapatista.

20 -. Em outros escritos estarei explicando mais coisas e esclarecendo as dúvidas que possam ter. Mas eu digo que isso é o básico.

Isso é tudo por agora.

Das montanhas do sudeste mexicano.

Subcomandante Moisés.

Reitor da Escolinha zapatista.

México, em março de 2013.

PS- Pedi ao SupMarcos que coloque neste escrito alguns vídeos que tenham a ver.

Francisco Gabilondo Soler Cri Cri, com uma canção que já faz parte da música clássica: “Caminho a escola” (1.video)

Os esquilinhos de Lalo Guerrero com “Vamos a escola” e os pretextos de Pánfilo para não ir a escola.(2. Vídeo)

Os problemas da escola ao ritmo de ska, com a Tremenda Korte e esta cancao “Por Nefasto”. (3. Vídeo)


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Traducción de Luisa desde Brasil.

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Eles e Nós. VII. @s menores. 7 e último

Tradução feita por: dedeco

Revisão: pendente

ELES E NÓS.

VII.- @s mais pequen@s 7 e último.

7.- Dúvidas, sombras e um resumo em uma palavra.

Março de 2013.

 

As Dúvidas.

 

Se depois de ler os fragmentos da palavra das companheiras e companheiros do EZLN, você ainda sustenta que os indígenas zapatistas são manipulados pela mente perversa do submarcos (e agora também do subcomandante insurgente Moisés) e que nada mudou no território zapatistas desde 1994, então você não tem remédio.

 

Não recomendamos que apague a televisão, ou que deixe de repetir as rodas de moinho que a intelectualidade contuma repartir entre seus fregueses, porque ficaria com a mente em branco. Continue acreditando que a recente lei de telecomunicações vai democratizar a informação, que elevará a qualidade da programação, e que melhorará o serviço de telefonia celular.

 

Porque se você pensasse assim, nem sequer teria chegado até esta parte da saga “Eles e nós”, assim que, é um suposição, digamos que você é uma pessoa que se coloca com um coeficiente intelectual mediano e uma cultura progressista. Com essas características é muito provável que você pratique a dúvida metódica frente a tudo, assim que seria lógico supor que duvide do que aqui leu. E duvidar não é algo condenável, é um dos exercícios intelectuais mais sãos (e mais esquecidos) na humanidade. E mais ainda quando de trata de um movimento como o zapatista ou neo-zapatista, sobre o que se foi dito tantas coisas (a maior parte sem sequer ter se aproximado do que somos).

Pero si usted pensara así, ni siquiera habría llegado hasta esta parte de la saga “Ellos y Nosotros”, así que, es un supositorio, digamos que usted es una persona que se precia de un coeficiente intelectual promedio y una cultura progresista. Con esas características es muy probable que usted practique la duda metódica frente a todo, así que sería lógico suponer que dude de lo que aquí ha leído. Y dudar no es algo condenable, es uno de los ejercicios intelectuales más sanos (y más olvidados) en la humanidad. Y más cuando se trata de un movimiento como el zapatista o neo-zapatista, sobre el que se han dicho tantas cosas (la mayor parte sin siquiera haberse acercado a lo que somos).

 

Deixemos de lado um fato, que foi constatável até pelos grandes meios de comunicação: dezenas de milhares de indígenas zapatistas tomando, de forma simultânea, 5 municípios do estado do sudeste mexicano, Chiapas.

 

Embora, já cheios de dúvidas, se nada mudou nas comunidades zapatistas, porque continuam crescendo? Não tinham dito todos que era coisa do passado, que os erros do EZLN (ok, ok, ok, de marcos) tinham custado sua existência (midiática, mas isso não disseram)? Não tinha debandado a direção zapatista? Não tinha desaparecido o EZLN e só ficava dele a insistente memória de quem, fora de Chiapas, sentem e sabem que a luta não é algo sujeito aos vai-e-vem da moda?

 

Ok, colocamos como óbvio este fato (o EZLN cresceu exponencialmente nesses tempos em que não estava na moda), e abandonemos a tentativa de colocar essas dúvidas (só servirão para que seus comentários nos artigos da imprensa nacional sejam editados ou os destaquem para você “para sempre jamais”).

 

Retomamos a dúvida metódica:

 

E se essas palavras, que apareceram nestas páginas como de homens e mulheres indígenas zapatistas, na realidade são autoria de Marcos?

 

Quer dizer, e se Marcos simulou que eram outr@s @s que falavam e sentiam essas palavras?

 

E se essas escolas autônomas na realidade não existem?

 

E se os hospitais, e as clínicas, e a prestação de contas, e as mulheres indígenas com cargo, e a terra trabalhando, e a força aérea zapatista, e…?

 

Sério: e se nada do que aí dizem essas indígenas, esses indígenas existem realmente?

 

Em resumo, e se tudo não é nada mais que uma monumental mentira, levantada por marcos (e Moisés, já que estamos nessa) para consolar com quimeras @s esquerdistas (suj@s, fei@s, maus, irreverentes, não esqueça) que nunca faltam e que sempre são uns quantos, poucos, pouquíssimos, uma minoria desprezível? E se o submarcos inventou tudo isso?

 

Não seria bom confrontar essas dúvidas e seu são ceticismo com a realidade?

 

E se fosse possível que você visse diretamente essas escolas, essas clínicas e hospitais, esses projetos, essas mulheres e esses homens?

 

E se você pudesse escutar diretamente esses homens e mulheres, mexican@s, indígenas, zapatistas, esforçando-se em falar-lhes em espanhol e explicando-lhes, contando-lhes sua história, não para convencê-lo ou para recrutá-lo, só para que você entenda que o mundo é grande e tem muitos mundos em seu interior?

 

E se você pudesse concentrar-se só em olhar e escutar, sem falar, sem opinar?

 

Você tomaria esse caminho ou você continuaria no refúgio do ceticismo, esse sólido e magnífico castelo das razões para nada fazer?

 

Solicitaria ser convidado e aceitaria o convite?

 

Assistiria você a uma escolinha em que as professoras e os professores são indígenas cuja língua materna está tipificada como “dialeto”?

 

Aguentaria a vontade de estudá-lo como objeto da antropologia, da psicologia, do direito, do esoterismo, da historiografia, de fazer uma reportagem, de fazer uma entrevista, de dizer-lhes sua opinião, de dar conselhos, ordens?

 

Olharia a eles, quer dizer, os escutaria?

 

-*-

 

As sombras.

 

De um lado desta luz que agora brilha, não se adverte a forma irregular das sombras que a fizeram feito possível. Porque outro dos paradoxos do zapatismo é que não é a luz a que produz as sombras, mas são dessas das quais a luz nasce.

 

Mulheres e homens de rincões distantes e próximos em todo o planeta fizeram possível não só o que vai se mostrar, também enriqueceram com seus olhares o andar destes homens e mulheres, indígenas e zapatistas, que agora levantam de novo a bandeira de uma vida digna.

 

Indivíduos, indivíduas, grupos, coletivos, organizações de todo tipo, e em diferentes níveis, contribuíram para que este pequeno passo d@s mais pequen@s se realizasse.

 

Dos 5 continentes chegaram os olhares que, de baixo e à esquerda, ofereceram respeito e apoio. E com estas duas coisas não só se levantaram escolas e hospitais, também se levantou o coração indígena zapatista que, assim, se somou a todos os rincões do mundo através dessas janelas irmãs.

 

Se há um lugar cosmopolita em terras mexicanas, talvez seja a terra zapatista.

 

Diante de tal apoio, não correspondia menos que um esforço de igual magnitude.

 

Acredito, acreditamos, que toda essa gente de México e do mundo pode e deve compartilhar como própria esta pequena alegria que hoje caminha com rosto indígena nas montanhas do sudeste mexicano.

 

Sabemos, sei, que não esperam, nem exigem, nem demandam, mas como queira, lhes mandamos um grande abraço, que assim é como os zapatistas, as zapatistas, agradecemos entre companheir@s (e de maneira especial abraçamos a quem sim souberam ser ninguém). Talvez sem se proporem, vocês foram e são, para todas, todos nós, a melhor escola. E não falta dizer que não deixaremos de nos esforçar para conseguir que, sem importar seu calendário e sua geografia, respondam sempre afirmativamente a pergunta de que se vale a pena.

 

A todas (lamento desde o profundo de minha essência machista, mas as mulheres são maioria quantitativa e qualitativa), a todos: obrigado.

 

(…)

 

E bom, há sombras e sombras.

 

E as mais anônimas e imperceptíveis são umas mulheres e homens de baixa estatura e de pele cor da terra. Deixaram tudo o que tinham, ainda que fosse pouco, e se converteram em guerreiras, em guerreiros. Em silêncio e na obscuridade contribuíram e contribuem, como ninguém mais, para que tudo isso seja possível.

 

E agora falo das insurgentas e dos insurgentes, meus companheir@s.

 

Vão e vem, vivem, lutam e morrem em silêncio, sem fazer barulho, sem que ninguém, a não ser nós mesm@s, @s leve em conta. Não tem rosto nem vida própria. Seus nomes, suas histórias, talvez só venham à memória de alguém quando muitos calendários se tenham desfolhado. Então, talvez em torno de uma fogueira, enquanto o café ferve em um velho bule de estanho e se acende o fogo da palavra, alguém ou algo saúde sua memória.

 

E como queira, não importará muito, porque do que se tratava, do que se trata, do que se tratou sempre, é contribuir em algo para construir essas palavras com que costumam começar os contos, as anedotas e as histórias, reais ou fictícias, das zapatistas, dos zapatistas. Tal e como começou o que agora é uma realidade, quer dizer, com um:

 

“Haverá uma vez…”

 

Até. Saúde e que não falte, nunca, nem o ouvir nem o olhar.

(já não continuará)

 

Em nome das mulheres, homens, crianças, anciãos, insurgentas e insurgentes do

Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Das montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Março de 2013.

 

PS. QUE ADIANTA.- Continuarão saindo escritos, não se alegre de antemão. Principalmente serão do companheiro Subcomandante Insurgente Moisés, referentes à escolinha: datas, lugares, convites, inscrições, propedêuticas, regulamentos, níveis, uniformes, materiais escolares, qualificações, acessorias, onde conseguir os exames já resolvidos, etc. Mas se perguntam quantos níveis são e em quanto se chega a graduar, lhes dizemos: nós levamos mais de 500 anos e ainda não acabamos de aprender.

 

PS. QUE DÁ UM CONSELHO PARA IR À ESCOLINHA- Eduardo Galeano, um sábio na difícil arte de olhar e escutar, escreveu, em seu livro “Os Filhos dos Dias”, no calendário de março, o seguinte:

 

Carlos e Gudrun Lenkersdorf tinham nascido e vivido na Alemanha. No ano de 1973, esses ilustres professores chegaram no México. E entraram no mundo maya, numa comunidade tojolabal, e se apresentaram dizendo:

– Viemos aprender.

Os indígenas calaram.

Em um momento, alguém explicou o silêncio:

– É a primeira vez que alguém nos diz isso.

 

E aprendendo ficaram ali, Gudrun e Carlos, durante anos e anos.

 

Da língua maya aprenderam que não há hierarquia que separe o sujeito do objeto, porque eu bebo a água que me bebe e sou olhado por tudo o que eu olho, e aprenderam a saudar assim:

 

– Eu sou outro você.

– Você é outro eu.”

 

Faça caso a Dom Galeano. Porque é sabendo olhar e escutar, que se aprende.

 

PS. QUE EXPLICA ALGO DE CALENDÁRIOS E GEOGRAFIAS.- Dizem nossos mortos que tem que saber olhar e escutar tudo, mas que no sul sempre terá uma riqueza especial. Como terão dado conta os que puderam ver os vídeos (ficaram não poucos nos bolsos, para ver em outra ocasião) quem acompanharam os escritos desta série de “Eles e nós”, tratamos de rodar por diversos calendários e geografias, mas houve uma insistência em nosso respeitado sul latinoamericano. Não só pela Argentina e Uruguai, terras sábias em rebeldia, também porque, segundo nós, no povo Mapuche não só há dor e raiva, mas também inteireza na luta e uma profunda sabedoria para sabe olhar e escutar. Se tem um rincão no mundo para onde se deve fazer pontes, é o território Mapuche. Por esse povo, e por tod@s @s desaparecid@s e pres@s desse dolorido continente, continua viva a memória. Porque não sei se do outro lado dessas letras, mas sim desse lado: nem perdão, nem esquecimento!

 

 

PS SINTÉTICA.- Sim, sabemos, este desafio não foi e nem será fácil. Virão grandes ameaças, golpes de todo tipo e de todos os lados. Assim tem sido e será nosso caminhar. Coisas terríveis e maravilhosas compõem nossa história. E assim será. Mas se nos pergunta como podemos resumir em uma palavra tudo: as dores, as ansiedades, as mortes que nos doem, os sacrifícios, o contínuo navegar contra a corrente, as solidões, as ausências, as perseguições e, sobretudo, este insistente fazer memória de quem nos precedeu e já não estão mais, então é algo que une todas as cores de baixo e à esquerda, sem importar o calendário ou a geografia. E, mais que uma palavra, é um grito:

 

Liberdade… Liberdade! LIBERDADE!

 

Até de novo.

 

O sub guardando o computador e caminhando, sempre caminhando.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Um poema de Mario Benedetti (que responde à pergunta de por quê, apesar de tudo, cantamos), musicalizada por Alberto Favero. Aqui na interpretação de Silvana Garre, Juan Carlos Baglietto, Nito Mestre. Nem perdão, nem esquecimento!

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=g6TVm-MuhL8

 

Camila Moreno interpreta “De la tierra”, dedicado ao lutador Mapuche, Jaime Mendoza Collio, assassinado pelas costas pelos carabineiros.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=SSVgl8QE8L0

 

Mercedes Sosa, a nossa, a de tod@s, a de sempre, cantando, de Rafael Amor, “Corazón Libre”. A mensagem é terrível e maravilhosa: jamais render-se.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gwlii20ZZd8

 

Eles e Nós. VII. @s menores. 6. A Resistência

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente


ELES E NÓS.

VII.- @s menores 6.

6.- A Resistência.

Março de 2013.



NOTA: Os seguintes fragmentos falam da resistência opa... um momento!... Existe uma Força Aérea Zapatista? O sistema de saúde zapatista é superior ao do mal governo!? Durante esses quase 20 anos, as comunidades zapatistas resistiram, com engenhosidade, criatividade e inteligência próprias, a todas as variáveis contra-insurgentes. A chamada "Cruzada contra a Fome", d@s capatazes priistas em turno, não faz senão reeditar a falácia de que o que os indígenas demandam são esmolas, e não Democracia, Liberdade e Justiça. Esta campanha contra-insurgente não chega sozinha, a acompanham a midiática (a mesma que na Venezuela de hoje reitera sua vocação golpista contra um povo que saberá tirar força de sua dor), a cumplicidade da classe política em seu conjunto (no que deveria se chamar "Pacto contra o México") e, claro, uma nova escalada militar e policial: em territórios zapatistas se tornam mais valentes os grupos paramilitares (com o aval do governo estatal), as tropas federais intensificam suas patrulhas provocadoras "para localizar a direção zapatista", as agências de "inteligência" se reativam, e o sistema de justiça reedita seu ridiculês (que rima com Cassez) ao negar ao professor Alberto Pathistán Gómez a liberdade, e assim condená-lo por ser indígena no México do século XXI. Mas o professor resiste, sem falar das comunidades indígenas zapatistas...

-*-

Bom dia companheiros, bom dia companheiras. Me nome é Ana, da Junta de Bom Governo atual, da quarta geração 2011-2014, do Caracol I de La Realidad. Vou lhes falar um pouco da resistência ideológica, o subtema que trazemos nós dois, eu e o companheiro. Vou lhes falar da ideologia do mal governo. O mal governo utiliza todos os meios de comunicação para controlar e desinformar o povo, por exemplo a televisão, rádio, telenovelas, celulares, jornais, revistas e até o esporte. Com a televisão e o rádio colocam muitos comerciais para distrair as pessoas, as telenovelas para viciar as pessoas e para que acreditem que o que passa na TV vai acontecer com a gente. Na educação o sistema do mal governo, ideologicamente, os que não são zapatistas os manipula para que seus filhos estejam na escola bem uniformizados todos os dias, sem importar se sabe ler ou escrever, só para aparentar ou para que os vejam bem. Também lhes facilita bolsas para que tenham estudo, mas no fim das contas o único que se beneficia são as empresas que vendem todos os materiais e esses uniformes. Como resistimos a todos esses malefícios da ideologia do governo em nosso Caracol? Nossa arma principal é a educação autônoma. Em nosso Caracol se ensina aos educadores histórias verdadeiras relacionadas com o povo para que sejam transmitidas aos meninos e meninas, dando a conhecer também nossas demandas. Se começou também a dar palestras políticas a nossos jovens para que estejam despertos e não caiam tão fácil da ideologia do governo. Estão sendo dadas também palestras ao povo sobre as treze demandas, por parte de gente local de cada povo. Isto é o pouco que posso explicar e vai ficar com vocês agora o companheiro.

(…)

-*-

(…)

Tem também aquilo dos programas, dos projetos de governo. O governo começa a colocar projetos como para que os irmãos recebam desses projetos e acreditem que isso é bom e para que eles comecem a receber isso e se esqueçam de seus trabalhos. Para que os irmãos já não dependam deles mesmos mas dependam do mal governo.

O que nós fazemos para resistir a essas coisas? Começamos a nos organizar para fazer trabalhos coletivos, como já disseram alguns compas que fazemos trabalhos coletivos desde o povoado, da região, nos municípios e até na zona. Estes trabalhos fazemos para satisfazer nossas necessidades de diferentes tipos de trabalhos e é como resistimos para não cair nos projetos do mal governo e que façamos nossos próprios trabalhos para depender de nós mesmos e não do mal governo.

-*-

Lá tem um hospital grandinho em uma comunidade que se chama Guadalupe Tepeyac e agora mesmo está sendo construído muito perto, a meia hora de caminhada, uma hora, que é no centro de La Realidad, outro hospital que é infantil. Mas o que acontece, o que temos visto nesse hospital que está funcionando em Guadalupe Tepeyac? Apesar de que o governo têm todo o equipamento, chegam gente de diferentes comunidades, de diferentes municípios, e o que acontece? Acontece que precisam fazer um exame de ultra-som, por exemplo, ou uma análise de laboratório, então como os doutores dali sabem, sabem porque estão muito perto também do hospital que temos, o Hospital-Escola "Os Sem Rosto de San Pedro", que está perto de outra comundiade, então sabem que eles não podem fazer esses exames nesse hospital do governo porque não tem pessoal capacitado lá, tem a máquina mas não tem pessoal, então o que fazem eles é dar a consulta e os encaminha ao nosso hospital, ao hospital-escola zapatista. Se faz esse exame - até que nível estamos chegando companheiros -, se faz o exame e claro, também há regulamentos nesse hospital para cobrar uma cota de quem for, e se faz o exame.

Então a gente vai se dando conta, vai se admirando, que em um hospital oficial não tem o que muitos esperam, a solução de seu problema, então recorrem a nosso hospital, ainda que simples, como dissemos, mas aí é onde lhes dizem que problemas temos quando sai o exame de ultra-som, e também no caso do laboratório. Lá está o hospital de Guadalupe, mas não tem um especialista em laboratório, então tem muitas casos que não se pode fazer o exame e mandam para o nosso hospital-escola. Lá temos um companheiro que está capacitado e já capacitou mais vários companheiros, então ele faz diferentes exames. Mas não só isso, a vantagem que ele tem e que o outro não tem, o do hospital oficial, porque este só faz o exame é ponto, e o manda para outro doutor para que lhe dê um tratamento; então o que faz esse companheiro do hospital quando chega gente que é encaminhado dos médicos do hospital de Guadalupe é que faz o exame, e também lhe dá a receita, o tratamento de sua doença, porque ele tem muito conhecimento nessa área de laboratório.

-*-

(…)

Para completar um pouco o que é da cidade rural [levantada, com o aplauso midiático, pelo governo de "esquerda" do corrupto Juan Sabines Guerrero], a princípio houve construções de casas. Segundo o que nos contam os companheiros é que as construções, ou seja, os materiais que fizeram as construções, são esses 'triplay', esses bem fininhos, não com as tábuas que temos aqui. Atualmente as construções estão infladas como balões, quando há ventos fortes e quando é época de calor e de chuva pois todos os materiais que estão construídas as casas atualmente já estão deteriorados. É o que é. Então em umas comunidades aí nesse município foram viver por uns dias as famílias, estiveram, e segundo as notícias da mídia tem uma cozinha que se construiu com a medida de 3X3, bem pequeno, e um quartinho, uma sala do lado. Mas não se pode fazer nada ali porque se fazem seu fogão ali, como se pode fazer fogão ou seu fogo ali? Não se pode.

Atualmente não está funcionando, foram por uns dias as famílias, mas o que sabemos é que tiveram que retornar à sua comundade. Algumas famílias estão ainda lá mas em condições muito ruins. Segundo dizem que ali num morrinho, logo acima de onde estão as construções, fizeram tanques de água, mas que não estão funcionando, companheiros, não estão funcionando. Dizem que tem um banco aí para investir o dnheiro, não sei se é banco mundial, estatal, municipal, não sei, mas não está funcionando. São só cascas já deterioradas.Não é como dizem a 'cidade rural', que o nome é muito bonito, mas realmente não tem nada. Por isso assim como diziam os companheiros, por que acreditamos nisso de que existem projetos e outras coisas? São puras mentiras.

(…)

Assim como diziam os companheiros, é parte da guerra do inimigo, por isso sim alguns companheiros dessa região se tem deixado convencer com essas ideias porque chegaram até aí, não é porque vão ter uma vida mais digna. Em muitos lados os que saem da organização ou os que estão nos partidos, mas tem tido uma vida melhor os companheiros das bases de apoio. A cidade rural são puras mentiras o que tem sido dito e o que estão fazendo lá.

Para fazer entender a manipulação ideológica que faz o mal goveno em Santiago El Pinar, prometeram às mulheres que lhes dariam granjas, de galinhas. Então vem que as granjas é com alimentação, quando lhes deram isso deram muitas galinhas para que ponham ovos, então muito bonito o início porque sem as galinhas começaram a pôr muitos ovos, mas o governo não fez o mercado onde vender. Puseram muitos ovos as galinhas e agora, o que fazemos? Não se pode fazer concorrência com as grandes empresas onde se vende os ovos. Então os irmãos nos contam que o que fizeram é que então vamos dividir, e repartiram mas então o governo não deu mais alimentação às galinhas, as galinhas começaram a ficar pálidas, começaram a deixar de pôr ovos. E então as mulheres dizem, 'então o que fazemos? Temos que cooperar. Mas como vou cooperar se os ovos eu já comi? onde vou encontrar dinheiro?'. Aí as galinhas morreram, não deu resultado o que diz o mal governo. É nada mais para que cheguem as câmeras que filmem sim que nos entregaram, é muito bonito e não sei o que. Mas isso nada mais que um mês, dois meses, três meses e se acabou.

Assim entre mais outras coisas está o problema, como o compa está dizendo, que as casas não servem porque enchem, como disse, como sapo. As mulheres estão acostumadas a fazer sua tortilla, seja com fogão ou com fogo no chão, mas é chão de terra, nesse caso é chão de madeira, triplay, não se pode fazer fogo ali. Então o botijão que deram não se sabe mexr, botijão de gás não dura nem um mês, então estão vazios os botijões, não serve para nada. Depois vem que a vida dos camponeses, indígenas é que atrás de sua casa tem a verdura, a cana, a pinha, a batata, o que seja, que é nosso modo de vida, mas aqui não tem, é simplesmente a casa e ponto. Não sabem o que fazer mas já foram retirados do terreno onde vivem, então tem que ir trabalhar mas é gasto outra vez para ir e vir. 

A política do mal governo é acabar com a vida comum, a vida comunitária, é que deixe seu terreno ou que o venda, agora se você vende está ferrado. É uma política de injustiça, é de criar mais miséria. Todos os milhões que recebem da ONU, que é a Organização das Nações Unidas, o mal governo, tanto estatal, municipal e federal, ficam com eles para organizar os que provocam problemas nas comunidades, sobretudo com a gente que somos bases de apoio. 

É a continuação da política, que se falava muito, agora já não querem que se fale, já não falam na mídia, que é o Plan Puebla-Panamá. Agora tem outro nome que estão falando porque se atacou muito o Plan Puebla-Panamá, mas é a mesma coisa, só mudaram de nome para continuar individualizando as comunidades, para acabar o comum que se pode ficar ainda.

(…)


-*-

É mais ou menos assim que se está fazendo nos trabalhos na resistência, porque estamos falando da resistência. E nesses trabalhos às vezes os companheiros que trabalharam no milho ou no café, ou se já tem o seu gado, às vezes vende seu animal fica com um pouco de recurso econômico e como o mal governo está nos atacando com seus projetos de pisos firmes, de moradia, de melhoramento de moradia, outras coisas que recebem esses irmãos priistas, partidários em outras comunidades. 

Mas acontece que eles já estão acostumados muito com o dinheiro, como que seu olhar já está mais com o governo, que venha mais dinheiro e nesses projetos que recebem, como explicaram alguns companheiros de Garrucha, assim está acontecendo também no Caracol de Morelia. Às vezes esses irmãos vendem a lâmina e é um projeto de governo, o governo pensa que está melhorando seu partido mas está saindo ao contrário, o fruto do trabalho dos companheiros que estamos em resistência, pois aí chegam a vender esses partidistas.

Digamos um exemplo em uma folha de lâmina pois o melhor na loja está em 180 pesos, mas chegam a vender até em 100 pesos, 80 pesos; e recebem blocos para construção, pode ser que nas lojas estão a 5, 6, ou 7 pesos, mas eles chegam a vender até 3 pesos, 2 pesos. E os companheiros, nós, como estamos na resistência não estamos acostumados a gastar o fruto de nosso trabalho, são eles os que compram e pode ser que ao melhor algum dia vocês vão ver em alguns novos centros de povoados que a lâmina é de cor, mas realmente saiu do trabalho dos companheiros. É assim o que está acontecendo também lá.

Mas também o governo se deu conta pra onde está indo seu projeto. Não está beneficiando os partidários, os priistas, mas que os zapatistas estão aproveitando, é aí onde manda suas construções de moradia, mas já não só entregam o material mas que já vai o pedreiro. Chegando o material já está o pedreiro porque já se deu conta que sim se está melhorando suas casas os zapatistas, é por isso que vai mudando, são muitas formas que está usando o mal governo que passou de 94 até aqui.

-*-

Bom compas, de novo outra vez a explicar o que é a resistência militar, por exemplo o que explicou já a companheira. A mim me toca explicar o que passou em 1999 no ejido Amador Hernández, município General Emiliano Zapata.

Nessa época um dia de 11 de agosto chegaram os militares e companheiras e companheiros resistimos o que foi essa entrada dos militares. Como eles queríam tomar o que é a comunidade, em um salão de festa chegaram os militares e o que fizeram as companheiras foi enfrentá-los; os tiraram da comunidade e os colocaram para fora da comunidade. Mas continuou, se fez um plantão. Aí participou todo o que é a zona, o que é do Caracol La Realidad. Nessa resistência também chegaram os da sociedade civil e toda essa resistência se aguentou porque era tempo de lama, como esse tempo de chuva. Tudo isso e não caímos em suas provocações, não nos enfrentamos militarmente mas pacificamente chegamos frente a eles.

O que se organizava nesse plantão, se faziam bailes, dançávamos em frente aos militares. E se faziam cultos religiosos, se faziam programas de eventos dos compas, de repente dávamos palestra política da luta.

O que fizeram os militares? Começaram como que os convencíamos porque estamos de frente pra eles, então o que fez os mandos militares do exército foi colocar uns alto-falanes para que não escutassem nossas palavras e os retiraram um pouco mais.

O que aconteceu então? È que os companheiros voltaram a inventar, acho que tinham escutado os aviõezinhos de papel, escrevendo porque do plantão e jogávamos assim para os militares. Foi quando se fez a primeira força aérea do Exérrcito Zapatista em Amador Hernández, mas são de puro papel.

(…)

Tudo isso, compas, aconteceu nessa resistência militar e como fazíamos empurrões aos militares, companheiros e companheiras em frente e os militares em duas filas, e tinha um compa que, um rapazinho o compa, como os militares nos empurravam com seus escudos e tinham esses toletes que dizem, nos empurravam e o compa então pisava no pé do militar, e pisavam nele também. Como estava outro soldado mais grandinho assim como que deu curiosidade de rir, começou a rir porque o compa pisava o pé do outro, e o pisavam também. E começou a rir o militar e o compa rapazinho disse ao soldado “de que você tá rindo rapaz?”, e era maior o soldado e mais pequeno o compa.

(…)

-*-

Isso é  que eu consegui ver e estamos vendo. O resultado sim aí está. Não em vão que comemos torradas para entrar e a torrada sim dá força e dá sabedoria. Aí se utilizou muito do que é o coletivismo, porque falo dessa forma, companheiros? Me desculpem a palavra companheiras, aí aprendemos com muitos dos companheiros em cada povo, em cada município, para enfrentar os malditos soldados que tem dentro de nossos lugares, que chegam a nos hostilizar. Aí aprendenram as companheiras a se defender, não sei, com pauladas tem que tirar os soldados, a força, com pedra ou com gritaria assim fizeram. Assim se organizaram as companheiros, eu vi e tenho presente que as companheiras se convenceram a enfrentar, demonstraram que as companheiras podem sim.

(…)

-*-

As autoridades também começaram a mudar e a receber nossas necessidades que vamos apresentando em cada povo, em cada região, em cada centro, no município. Assim fomos trabalhando pouco a pouco, avançando. Já quando está formado começamos a criar, a iniciar o trabalho de saúde e educação, então como disse a companheira, temos já a clínica no município, a “Companheira Maria Luísa” [nome de luta de Deni Prieto Stock, caída em combate em 14 de fevereiro de 1974 em Nepantla, Estado de México, México] e no ejido San Jerónimo Tulijá se chama “Companheira Murcia Elisa Irina Sáenz Garza”, uma companheira que lutou, que morreu em combate no tancho El Chilar [na Selva Lacandona, Chiapas, México, em fevereiro de 1974], aqui perto de onde estamos, em nossa fronteira ali onde eles morreram, esse nome que a clínica levou.

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Dení Prieto Stock “Murcia”


Elisa Irina Sáenz Garza “Murcia”

-*-

(Continuará...)
Dou fé.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Março de  2013

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TOP SECRET. Treinamento da Força Aérea Zapatista (FAZ, por suas siglas em espanhol) em algum lugar das montanhas do Sudeste Mexicano.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BliFqcIgdqs

Uma mostra maisdo ânimo guerreiro inculcado nos meninos e meninas nas comunidades indígenas zapatistas em resistência: aqui lendo “O engenhoso Hidalgo Don Quixote de La Mancha”, de um tal Miguel de Cervantes Saavedra, que deve ser algum acessor militar estrangeiro soviético.... Já não há URSS? Não te digo, uma mostra mais de que estes indígenas são desesperadamente pré-modernos: lêem livros! Certamente o fazem por serem subversivos porque com Peña Nieto ler livros é um delito.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=zlQJTI1p47k

Canto de dor e raiva de uma mãe Mapuche ao perder seu filho assassinado pelos carabineiros do Chile.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=5MA-Dt6tDn8

Canção para os Caracóis do EZLN, de Erick de Jesús. No inicío do vídeo, palavras das mulheres zapatistas.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=EYdSJVQP0ug

Eles e Nós. VII. @s menores

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

Eles e nós.

VII.- @s menores.

Introdução.

Fevereiro de 2013.

Há vários anos, enquanto na política de acima se disputava o butim de uma Nação em pedaços, enquanto os meios de comunicação calavam ou mentiam sobre o que abaixo destes céus acontecia, enquanto os povos originários saíam de moda e voltavam ao rincão do esquecimento: suas terras saqueadas, seus habitantes explorados, reprimidos, expropriados, desprezados…

Os povos indígenas zapatistas,

cercados pelo exército federal, perseguidos pelas polícias estatais e municipais, agredidos pelos grupos paramilitares formados e equipados pelos diferentes governos de todo o espectro político do México (PRI, PAN, PRD, PT, PVEM, MC e os diferentes nomes que os parasitas da classe política mexicana tomam), acossados por agentes das diferentes centrais de espionagem nacionais e estrangeiras, vendo seus homens e mulheres, bases de apoio do EZLN, golpead@s, roubad@s e encarcerad@s…

Os povos indígenas zapatistas,

sem alarde,

sem mais imperativos que o dever,

sem manuais,

sem mais líderes que não nós mesm@s

sem outro referente que não seja o sonho de nossos mortos,

só com as armas da história e da memória,

olhando perto e longe nos calendários e geografias,

com o caminho de Servir e não se Servir / Representar e não Suplantar / Construir e não Destruir / Obedecer e não Mandar / Propor e não Impor / Convencer e não Vencer / Descer e não Subir.

 

Os povos zapatistas, os indígenas zapatistas, as indígenas zapatistas, as bases de apoio do EZLN, com uma nova forma de fazer política,

fizemos,

fazemos,

faremos,

a liberdade.

A LIBERDADE

NOSSA LIBERDADE!

 

-*-

Nota de esclarecimento:

Os textos que irão aparecendo nesta sétima e última parte de “Eles e Nós” são fragmentos retirados do “Caderno de Texto de Primeiro Grau do Curso A Liberdade segundo @s Zapatistas. Governo Autônomo I” e “Caderno de Texto de Primeiro Grau do Curso A Liberdade segundo @s Zapatistas. Governo Autônomo II”, versão em espanhol SOMENTE para compas da Sexta (esperamos que haverá versões nas línguas originárias que determine o Congresso Nacional Indígena, assim como em inglês, italiano, francês, português, grego, alemão, basco, catalão, árabe, hebraico, galego, kurdo, aragonês, dinamarquês, sueco, finlandês, japonês e outras línguas, segundo nos apóiem @s compas da Sexta no mundo que sabem isso das traduções). Estes cadernos formam parte do material de apoio para o curso que as bases de apoio zapatistas darão a compas da Sexta no México e no mundo.

 

Todos os textos são de autoria de homens e mulheres bases de apoio zapatistas, e expressam não só parte do processo de luta pela liberdade, mas também suas reflexões críticas e autocríticas sobre nossos passos. Quer dizer, assim vemos as zapatistas, os zapatistas, a liberdade e nossas lutas para consegui-la, exercê-la, defendê-la.
Como já explicou nosso companheiro Subcomandante Insurgente Moisés, noss@s compas bases de apoio zapatistas vão compartilhar o pouco que temos aprendido da luta pela liberdade, e @s compas da Sexta aí verão o que lhes serve e o que não para suas lutas.

 

A aula da escolhinha zapatista, agora já sabem, se chama “A Liberdade segundo @s Zapatistas”, e será dada diretamente por companheiros e companheiras bases de apoio do EZLN, que desempenharam os diferentes cargos de governo, vigilância e cargos de diferentes responsabilidades na construção da autonomia zapatista.
Para poder ingressar na escolhinha, além de ser convidad@s, @s compas da Sexta e convidad@s especiais, deverão ter alguns cursos preparatórios, prévios ou propedêuticos (o como se diz o equivalente à pré-escola ou jardim de infância), antes de passar ao “primeiro grau”. Estes cursos serão dados por compas das equipes de apoio da Comissão Sexta do EZLN e não tem outro objetivo a não ser dar-lhes os elementos básicos da história do neo-zapatismo e sua luta por democracia, liberdade e justiça.
Nas geografias onde não há compas de equipe de apoio, se fará chegar os temas para que @s convidad@s se preparem.
As datas e lugares, quer dizer, os calendários e as geografias nas quais os cursos serão dados pelas bases de apoio zapatistas serão dados a conhecer em sua oportunidade, sempre tomando especial consideração a situação de cada convidad@ individual, grupo ou coletivo.

Todas as convidadas e convidados ao curso o receberão, sem importar se podem vir ou não a terras zapatistas. Estamos vendo a forma e o modo de chegar até seus corações sem importar seu calendário e sua geografia. Assim não tenham vergonha.
Saúde e, de todo modo, prepare o coração, e sim, também o caderno e o lápis.

Desde as Montanhas do Sudeste Mexicano.

SupMarcos.

México, Fevereiro de 2013.

PS.: QUE DÁ LIÇÕES DE BOA EDUCAÇÃO.- Esta sétima e última parte da série “Eles e Nós” consta, por sua vez, de várias peças e são SOMENTE para compas da Sexta. Junto com a parte V (que, como sua numeração indica, tem o título “A Sexta”) e o final da parte VI.- Olhares 6: “Eles Somos”, forma parte da correspondência particular que o EZLN, através de seus voceros(1), dirige a seus compas da Sexta. Nessas partes, e nesta, se assinala com claridade que é o destinatário.

A quem não são compas e tratam de zombar, polemizar, discutir ou replicar, lembramos que isso de ler e comentar a correspondência alheia é coisa de fofoqueir@s e/ou de polícia. Assim que vejam em qual categoria entram. Além disso, com seus comentários só refletem um racismo vulgar (são tão críticos à TV e só repetem seus clichês), expressam uma redação lamentável e reiteram sua falta de imaginação (que é uma consequência da falta de inteligência… e de sua pressa para ler). Embora, claro, agora terão que ampliar a cantoria de “marcos não, ezln sim” e passar a “marcos e moisés não, ezln sim”; depois “CCRI-CG não, ezln sim”. Depois, se chegarem a conhecer as palavras diretas das bases de apoio zapatistas (o que eu duvido) terão que dizer “ezln não, ezln também não”, mas já vai ser muito tarde.

Oh, não fiquem tristes, quando colocarmos vídeos musicais de Ricardo Arjona, Luis Miguel, Justin Bieber ou Ricky Martin, poderão se sentir convocados. Enquanto isso esperem sentados, continuem olhando o calendário de acima (3 ou 6 anos passam rápido), movam-se um pouco mais à direita (certo, já estão acostumados), e fiquem de um lado, não vamos respingar…

 

¡Órales razaaaaa! ¡Yvenga a darle al baile! ¡Ajúa!

(1): Voceros: porta-vozes; vozeiros. Optou-se por manter o termo em espanhol, pois este já é quase um conceito acerca daquel@s que fazem ecoar as palavras zapatistas.

 

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Escute e veja os vídeos que acompanham este texto:

 

La Estrella del Desello” com Eulalio González El Piporro. A canção aparece também, em uma versão mais curta, no filme “La Nave de los Monstruos” (1959, de Rogelio A. González). Não traz nada de ezetaelene, inseri aqui sem teimosia, e para saudar às/aos compas do norte e que não fiquem tristes, ainda que estejam longe @s vamos olhar. ¡Ajúa!

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ticsxPf3-3c

 

“La Despedida” com Manu Chao e Radio Bemba, em uma comunidade indígena zapatista.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Co-XQm9NDd0

 

“Brigadistak” com Fermín Muguruza. Na luta contra o Poder, não há fronteiras! ¡Marichiweu!

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=sVB0M5RgvWs&list=PL_836k-Dgy4-OrmJCZOezrl3DJQE6NaT-

 

Eles e Nós VI. Os olhares 5. Olhar a noite em que somos

Tradução feita por: mandinga

Revisão: pendente

ELES E NÓS
VI.- Os olhares 5.
5.- Olhar a noite em que somos.
(Da lua nova ao quarto crescente)
Há muitas luas: lua nova, novinha, como somando-se ela, apenas para ver as sombras de abaixo, e então…
Chega ele-somos.  Sem precisar de papéis de consulta ou apoio, sua palavra vai desenhando os olhares de quem aqui manda e a quem obedecemos. Ao terminar, olhamos.
A mensagem dos povos é clara, curta, simples, contundente. Como devem ser as ordens.
Nós, soldados, nada dizemos, só olhamos, pensamos: “É muito grande. Isso já não é só nosso, nem só dos povos zapatistas. Nem sequer é só desse canto, dessas terras. É de muitas veredas, de todos os mundos.
 – É preciso cuida-lo – dizemos todas-somos, e sabemos que falamos disso, mas também de ele-somos.
Vai ficar bem… mas precisa se preparar para que acabe mal, como por si é nosso modo – dizemos todos-somos.
– Então, temos que prepará-la – nos dizemos todas-somos, – cuidá-la já, cresce-la.
– Sim – nos respondemos todos-somos.
– É preciso falar com nossos mortos. Eles nos apontarão o tempo e o lugar – dizemos, nos dizemos todas-somos.
Olhando nossos mortos, abaixo, os escutamos. Lhes levamos a pequena pedra. Ao pé de sua casa as levamos. A olham. Nos olhamos olhá-la. Nos olham e levam nossos olhares muito longe, onde não alcançam nem os calendários nem a geografia. Olhamos o que seu olhar nos mostra. Calamos.
Voltamos, nos olhamos, nos falamos.
– É preciso cuidar muito, preparar cada passo, cada olho, cada ouvido… vai demorar.
– Será preciso fazer algo para que não nos olham e logo para que sim nos olham.
– Aí já não nos olham, ou olham o que creem que olham.
– Mas sim, é preciso fazer algo… Me toca, meu turno.
 – Que ele-somos veja-o dos povos… Todos-somos vemos de cuidá-lo, bem, silenciosamente, calando, como é nosso jeito
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Há umas poucas luas, chovia…
– Já? Pensamos que tomariam mais tempo.
– Pois sim, mas assim está.
– Bom, agora fixe bem o que vamos te perguntar. Querem que voltem a olhá-los?
– Querem, se sentem fortes, estão fortes. Dizem que isso é de todos, de todas, de ninguém. Dispostos, dispostas estão, dizem.
– Mas, se dá conta de que não vão nos olhar apenas os que são como nós, mas também os Mandões de um e outro lado que odeiam e perseguem o que somos?
– Sim, vai na nossa conta, sabemos. Nosso turno, seu turno.
– Bom, só falta o lugar e a data.
– Aqui – e a mão aponta o calendário e a geografia.
– O olhar que provocaremos com isso já não será o da lástima, da pena, da compaixão, da caridade, da esmola. Haverá alegria em quem é como somos, porém coragem e ódio nos Mandões. Vão nos atacar com todos os seus meios.
– Sim, lhes disse. Se olharam, mas assim disseram: “Queremos olhar e olhar-nos com os que somos ainda que não saibamos nem saibam que são o que somos. Que nos olham queremos. Dos Mandões estamos cheios, cheias, dispostas, dispostos estamos”.
– Quando, onde então? – colocam calendários e mapas sobre a mesa
 – A noite, quando alvorecer o inverno.
 – Onde?
 – No seu coração
– Tudo pronto?
– Tudo pronto, já
– Vá.
Cada um ao que te toca. Só nos demos um aperto de mão. Mas não foi necessário.
-*-
Há umas noites, a lua revelada e limpa…
– Já está. Já estão os que olhamos. A parte que segue vai lhe tocar outros olhares. Se toca – lhe dizemos a eles-somos
– Estou pronto, disposto estou – diz eles-somos
Todos-somos assenamos em silêncio, como já é nosso modo.
– Quando?
– Quando falam nossos mortos.
– Onde?
No seu coração.
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Fevereiro de 2013. Noite. Lua em quarto crescente. A mão que somos escreve:
“Companheiroas, companheiras e companheiros da Sexta:
Queremos apresentar-lhes a um dos muitos eles que somos, nosso companheiro Subcomandante Insurgente Moisés. Ele cuida de nossa porta e em sua palavra também falamos os todos e todas que somos. Lhes pedimos que o escutem, quer dizer, que o olhem e assim nos olhem. (…)”
(Continuará…)
Desde qualquer canto em qualquer mundo.
SupMarcos
Planeta Terra
Fevereiro de 2013.
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P.S. QUE ADVERTE E DÁ PISTAS: O texto que segue a continuação e que aparecerá na página eletronica de Enlace Zapatista nesse 14 de fevereiro, dia em que os zapatistas, as zapatistas honramos e saudamos a noss@s morto@s, é principalmente para nossos companheiros, companheiras e companheiroas da Sexta. O texto completo só poderá ser lido com uma senha (da qual se tem dado várias pistas e que pode ser deduzida) que foi enviada por correio eletronico onde pudemos. Se você não recebeu e não entendeu a dica (pode encontrá-la lendo com atenção esse texto e o anterior -“Olhar e comunicar”-), só tem que mandar um emeio para página e o remetente te mandará a senha. Como já explicamos em ocasiões anteriores, os meios livres são também livres para publicar ou não o texto completo segundo suas próprias considerações autônomas e libertárias. O mesmo para qualquer companheira, companheiro e companheiroa da Sexta de qualquer geografia. Nosso afã não é outro que faze-los saber que são a vocês que nos dirigimos e, de maneira muito especial, a quem vocês decidam por ao outro lado da ponte de nosso olhar.
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“B Side Players” de São Diego, Califas, com a canção “Nuestras Demandas”. “B Side Players” é formado por Karlos “Solrak” Paez – voz, violão; Damián DeRobbio – baixo, Luis “O General” cuenca – percusão e voz; Victor Tapia – congas e percusões.; Sax; Emmanuel Alarcon – violão, cuatro  puertorriqueño, e vozes; Aldo Perretta – charango, tres cubano, jarana veracruzana,  ronrroco, cuatro venezolano, kena, zampoña; Russ Gonzales –  sax tenor; Mike Benge – trombone; Michael Cannon – tambores; Camilo  Moreno – congas e percusão; Jamal Siurano – alto sax; Kevin Nolan –  trombone e trompete; Andy Krier – teclado; Omar Lopez – baixo.
De Galícia, Estado Espanhol, a canção “EZLN”, do grupo “Dakidarria” formado por: Gabri (violão e voz principal);  Simón: (violão e vozes); Toñete: (trombone); David: (baixo e vozes);  Juaki: (trompete  e vozes); Anxo: (sax barítono); Charli: (teclado);  Jorge Guerra: (bateria)
Uma versão muito especial do “Hino Zapatista”, música e vozes de “Flor del Fango”. O grupo musical “Flor del Fango” está formado por Marucha Castillo – cantora: Napo Romero –  cantor,  violão,  charango e quena; Alejandro Marassi – baixo, cantor,  coros e  guitarrón;  Danie Jamer “o perigoso” – guitarras flamenca, folk e elétrica e cuatro; Sven Pohlhammer – guitarras, sinte  e eletro acústica,  Cavaquinho e Mandolina; Philippe Teboul  “Garbancito” – cantor, bateria,  percusões, coros; Patrick Lemarchand –  bateria e percusões; Martín  Longan –  coordenação