Comunicados Zapatistas

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Datas e outras coisas para a escolinha zapatista

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

Datas e outras coisas para a escolinha zapatista
Exercito Zapatista de Libertação Nacional
México

Março de 2013.

Companheiras, companheiros, irmãos e irmãs da Sexta:

Sobre visitas, caravanas e projetos.

Vocês sabem que estamos preparando as aula de nossas escolinhas,e nisso nos iremos concentrar, para que tudo saia bem, e sejam bons e boas os alunos e as alunas.

E nós, juntamente com as autoridades, pensamos que existem coisas que não poderemos fazer, para que não perdermos o foco, por exemplo: recebê-los para uma entrevista, trocar experiências, caravanas, equipes de trabalho, ou discutir uma ideia de projeto. Então, por favor não faça a viagem para nada, pois nem a junta de bom governo, ou as autoridades autônomas, nem as comissões de projetos serão capazes de atendê-los.

Se qualquer pessoa ou coletivo esta pensando em trazer caravana com apoio para as comunidades, pedimos que aguardem até que chegue a hora para isso, ou se você já tiver providenciado a viagem, então por favor pare no CIDECI com o Dr. Raymundo, aqui em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México.

Não estamos dizendo que NUNCA, mas que por agora NÃO porque queremos nos concentrar na escolinha. Para que não se entenda mal, queremos avisar-lhes o porquê de que não os iremos atender.

Dizemos isto para que não se planejem viagens que requeiram conversas com autoridades, porque não seremos capazes de atendê-los, pela simples razão de que todo o nosso esforço é para a nossa escolinha, para você, para o México e para o mundo, e é por isso que o esforço vai para lá.

E assim estaremos nas Juntas de Bom Governo e nos cinco caracóis, não poderemos atendê-los. Mas será possível visitar os caracóis.

O mesmo para os projetos que já existem nas 5 juntas, existem coisas que não vamos poder fazer, somente aquilo que não seja necessária consulta ou muito movimento para nossos povos. Se não, vai ficar para outra ocasião.

Queremos que vocês nos entendam, que para nós não é tempo de caravanas, ou projetos, ou entrevistas, ou troca de experiência, ou outras coisas. Para nós, os zapatistas, as zapatistas, é hora de nos prepararmos para a escolinha. Nós não vamos ter tempo para outras coisas, a menos que o mal governo apronte uma das suas, e então a coisa muda de figura.

Com vocês companheiros, companheiras, irmãos e irmãs acreditamos que há compreensão.

Sobre escola.

Aqui vão as primeiras informações sobre a escolinha, para que já se preparem aqueles que vão receber as classes.

1 -. Para a Festa dos Caracóis estão convidados todos e todas que se sintam convocados. A festa será nos 5 caracóis, assim que podem ir ao que queiram. A chegada será no dia 8 de agosto, 9 e 10 será a festa, e 11 é dia de retorno. Cuidado: a festa não é o mesmo que a escolinha. Não confundam.

2 -. Com esta festa, as bases de apoio zapatistas irão celebrar o décimo aniversário da Juntas de Bom Governo, mas não só.

3 -. Por estes dias começa a nossa pequena escola muito outra em que noss@s chef@s, quer dizer, as bases de apoio zapatista, vão dar aulas de como foi seu pensamento e sua ação em liberdade segundo o zapatismo, seus acertos, seus erros, seus problemas, suas soluções, o que têm avançado, o que está travado e que está faltando, porque sempre falta o que está faltando.

4 -. Primeiro curso (faremos muitos para que possam participar tod@s), o primeiro nível é de 7 dias, considerando chegada e partida. Chegada em 11 de agosto, a aula começa 12 de agosto de 2013 e termina em 16 de agosto de 2013. E no dia 17 de agosto de 2013 é a partida. Aqueles que já terminaram o curso e querem ficar mais tempo, podem visitar outros caracóis diferentes daquele que fizeram o curso. O curso é o mesmo em todos os caracóis, mas você pode conhecer outros caracóis diferente daquele que você esteve, mas então cada um vai por sua conta.

5 -. Pouco a pouco vamos contando como será isso da inscrição na escolinha de liberdade segundo os zapatistas, e as zapatistas, mas já adiantamos é laica e gratuita. A pré-inscrição será com as Equipes de Apoio da Comissão Sexta, nacional e internacional, no site Enlace Zapatista e através de e-mails. O registro de alunas e alunos será no CIDECI em San Cristobal de Las Casas, Chiapas. Convites vão começar a ser enviados, conforme vamos podendo, a partir de 18 de março de 2013.

6 -. Mas não pode ir aquele que quiser a escola, senão que vamos convidar diretamente. Est@s compas que convidemos, nós vamos cuidar, vamos dar de comer, um lugar onde dormir, e vamos ter um guardião ou guardiã, que seja seu “Votán” que vai cuidar para que esteja bem e não sofra nas classes, só um pouco, só aquele pouco necessário.

7 -. Os alunos e as alunas terão que estudar bastante. O primeiro nível tem quatro temas são: Governo Autônomo I, Governo Autônomo II, Participação das Mulheres no Governo Autônomo e Resistência. Cada tema tem o seu livro-texto. Os livros didáticos tem entre 60 e 80 páginas cada, e o que lhes apresentou o SupMarcos é apenas uma pequena parte de cada livro (3 ou 4 páginas). Cada livro vai custar 20 pesos mexicanos, que é o preço de custo.

8 -. O curso dura sete dias o primeiro nível, e segundo o tempo de cada compa, porque sabemos que cada um tem o seu trabalho, sua família, sua luta, o seu compromisso, ou seja o seu calendário e sua geografia.

9 -. O primeiro curso é apenas de primeiro grau, e faltam muitos mais, ou seja, não vai acabar rápido a escola, mas ao contrário demora. Aqueles que passarem a primeira fase poderão fazer para o segundo nível.

10 – Sobre os gastos: O compa, a compa têm que ter garantir a sua passagem até o CIDECI, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, e também a sua passagem de volta. Do CIDECI, eles vão para a escolinha que lhes cabe e, quando terminar, retornam ao CIDECI já para de lá, ir para os locais de cada pessoa. Lá na escola, que é na comunidade, não precisa ter vergonha, vai ficar garantido o feijãozinho, as verdurinhas e a tortilla. Ou seja, os gastos de cada aluno vão cobrir os zapatistas. Cada estudante ou estudanta vai morar com uma família indígena zapatista. Nos dias que esteja na escola está será a família do aluno ou da aluna. Com esta família vai comer, trabalhar, descansar, cantar, dançar, e eles o vão encaminhar a sua escola. E o “Votán” ou o guardião ou a guardiã, vai estar acompanhando ele ou ela sempre. Então, vamos estar pendente de cada estudante ou estudanta. E se você ficar doente, pois ali te curaremos e se for sério, vamos te levar a um hospital. Mas o que está na sua cabeça, como vai chegar e partir, sobre isso não poderemos fazer nada, ou seja fica a critério de cada companheiro ou companheira o que vai fazer com o que ver, ouvir e aprender. Desta forma, vai ser ensinada a teoria, a pratica cada um vê como se dá nos espaços de cada quem.

11 -. Para pagar seus gastos escola, bom, isso a gente resolve. De repente, podemos fazer um festival de música e dança, ou umas pintura e artesanato, mas não se preocupe, porque damos um jeito e sempre tem gente boa que apoia coisas boas. Para aqueles que querem doar para a escola, nós vamos colocar um cesto no local de registro de alun@s, ou seja no CIDECI, com os compas da Universidad de la Tierra, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas. Então lá cada um põe o quanto pode, e ninguém vai saber quem doou quanto e ninguém fica triste porque doou mais ou menos. Não vai ser permitido que se dê dinheiro ou se deixem presentes diretamente as escolas, famílias, ou caracóis. Isto é para que seja igual o que cada um vai receber. Tudo o que você quiser doar, é no CIDECI, com os compas da Universidad de la Tierra, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México. Então se junta tudo e se divida por igual, se é que vai ter algo. Se não, não importa, o que importa são vocês.

12 -. Há outras formas de assistir as classes da escola zapatista. Vamos pedir apoio com os compas de meios livres, libertários, autônomos, e quem saiba disso de videoconferência. Porque nós sabemos que muitas pessoas não poderão vir por suas questões de trabalho ou problemas pessoais ou familiares. E há pessoas que não entendem espanhol, mas estão ansiosos para saber como é que os zapatistas, as zapatistas fizeram o que eles fizeram e como eles têm desfizeram o que desfizeram. Então, teremos um curso especial, que será gravado e mandado aonde haja um grupo de aluno e alunas dispostos e com seus livros, assim eles poderão ver o curso, e com isso de internet poderão fazer perguntas aos professores e professoras das bases de apoio zapatista.

Para isto, vamos convidar uma reunião especial com alguns meios alternativos para chegar ao acordo sobre como eles vão fazer as videoconferências e tirar foto e vídeo dos lugares que serão dadas as aulas, para que todos possam ver se é certo ou não o que estão ensinando os professores e professoras.

E outra forma, é vai levar cópias de dvd dos cursos para aqueles que não possam ir a nenhum lugar e só podem estudar em casa, porque essa também é uma forma de aprender.

13 -. Para poder participar da escolinha zapatista, terão que fazer um curso de preparação onde se vai explicar como é a vida nas comunidades zapatistas, as suas regras internas. Para que não se cometa nenhum delito. E o que é necessário levar. Por exemplo, não se devem levar aquelas que são chamados de “barracas”, que também são inúteis, já que vão ser recebid@s por famílias indígenas zapatistas.

14 -. De uma vez lhes dizemos claramente que esta PROIBIDO produzir, comercializar, trocar e consumir qualquer tipo de drogas e álcool. Também esta proibido portar qualquer tipo de armas, seja de fogo o “brancas”. Aqueles que peçam para ingressar no EZLN ou perguntar qualquer coisa militar, serão expulsos. Não se estará recrutando ou promovendo a luta armada, mas a organização e a autonomia para a liberdade. Também se proíbe qualquer propaganda política e religiosa.

15 -. Não há limite de idade para frequentar a escolinha, mas alguém é menor de idade, ele ou ela deve vir com um adulto responsável.

16 -. Quando se inscrevam, depois de serem convidad@s, pedimos que esclareç@am, se são outr@, homem ou mulher para ver como os acomodaremos, para que cada individuo ou individua seja respeitad@ e cuidad@. Nao há discriminação por gênero, orientação sexual, raça, credo, nacionalidade. Qualquer ato de discriminação será punido com a expulsão.

17 -. Se alguém tem uma doença crônica, pedimos-lhe que leve o seu remédio que nos avise para que estejamos cientes e possamos cuida-lo caso ocorra algo.

18 -. Quando se inscrevam depois de serem convidad@s, pedimos que nos digam sua idade e condição física e de saúde para que os acomodemos em uma escola em que não sofram mais do que o necessário.

19 -. Se convidad@ e não puder comparecer nessa primeira data, não seja tímido. Basta dizer-nos quando pode e a gente faz o curso quando você possa. Além disso, se alguém não pode concluir o curso ou não pode chegar quando já está inscrito, não há problema, você pode terminar mais tarde. Embora, lembre-se que você também pode participar de vídeo conferências ou cursos que estarão sendo dados fora do território zapatista.

20 -. Em outros escritos estarei explicando mais coisas e esclarecendo as dúvidas que possam ter. Mas eu digo que isso é o básico.

Isso é tudo por agora.

Das montanhas do sudeste mexicano.

Subcomandante Moisés.

Reitor da Escolinha zapatista.

México, em março de 2013.

PS- Pedi ao SupMarcos que coloque neste escrito alguns vídeos que tenham a ver.

Francisco Gabilondo Soler Cri Cri, com uma canção que já faz parte da música clássica: “Caminho a escola” (1.video)

Os esquilinhos de Lalo Guerrero com “Vamos a escola” e os pretextos de Pánfilo para não ir a escola.(2. Vídeo)

Os problemas da escola ao ritmo de ska, com a Tremenda Korte e esta cancao “Por Nefasto”. (3. Vídeo)


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Traducción de Luisa desde Brasil.

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Eles e Nós. VII. @s menores. 7 e último

Tradução feita por: dedeco

Revisão: pendente

ELES E NÓS.

VII.- @s mais pequen@s 7 e último.

7.- Dúvidas, sombras e um resumo em uma palavra.

Março de 2013.

 

As Dúvidas.

 

Se depois de ler os fragmentos da palavra das companheiras e companheiros do EZLN, você ainda sustenta que os indígenas zapatistas são manipulados pela mente perversa do submarcos (e agora também do subcomandante insurgente Moisés) e que nada mudou no território zapatistas desde 1994, então você não tem remédio.

 

Não recomendamos que apague a televisão, ou que deixe de repetir as rodas de moinho que a intelectualidade contuma repartir entre seus fregueses, porque ficaria com a mente em branco. Continue acreditando que a recente lei de telecomunicações vai democratizar a informação, que elevará a qualidade da programação, e que melhorará o serviço de telefonia celular.

 

Porque se você pensasse assim, nem sequer teria chegado até esta parte da saga “Eles e nós”, assim que, é um suposição, digamos que você é uma pessoa que se coloca com um coeficiente intelectual mediano e uma cultura progressista. Com essas características é muito provável que você pratique a dúvida metódica frente a tudo, assim que seria lógico supor que duvide do que aqui leu. E duvidar não é algo condenável, é um dos exercícios intelectuais mais sãos (e mais esquecidos) na humanidade. E mais ainda quando de trata de um movimento como o zapatista ou neo-zapatista, sobre o que se foi dito tantas coisas (a maior parte sem sequer ter se aproximado do que somos).

Pero si usted pensara así, ni siquiera habría llegado hasta esta parte de la saga “Ellos y Nosotros”, así que, es un supositorio, digamos que usted es una persona que se precia de un coeficiente intelectual promedio y una cultura progresista. Con esas características es muy probable que usted practique la duda metódica frente a todo, así que sería lógico suponer que dude de lo que aquí ha leído. Y dudar no es algo condenable, es uno de los ejercicios intelectuales más sanos (y más olvidados) en la humanidad. Y más cuando se trata de un movimiento como el zapatista o neo-zapatista, sobre el que se han dicho tantas cosas (la mayor parte sin siquiera haberse acercado a lo que somos).

 

Deixemos de lado um fato, que foi constatável até pelos grandes meios de comunicação: dezenas de milhares de indígenas zapatistas tomando, de forma simultânea, 5 municípios do estado do sudeste mexicano, Chiapas.

 

Embora, já cheios de dúvidas, se nada mudou nas comunidades zapatistas, porque continuam crescendo? Não tinham dito todos que era coisa do passado, que os erros do EZLN (ok, ok, ok, de marcos) tinham custado sua existência (midiática, mas isso não disseram)? Não tinha debandado a direção zapatista? Não tinha desaparecido o EZLN e só ficava dele a insistente memória de quem, fora de Chiapas, sentem e sabem que a luta não é algo sujeito aos vai-e-vem da moda?

 

Ok, colocamos como óbvio este fato (o EZLN cresceu exponencialmente nesses tempos em que não estava na moda), e abandonemos a tentativa de colocar essas dúvidas (só servirão para que seus comentários nos artigos da imprensa nacional sejam editados ou os destaquem para você “para sempre jamais”).

 

Retomamos a dúvida metódica:

 

E se essas palavras, que apareceram nestas páginas como de homens e mulheres indígenas zapatistas, na realidade são autoria de Marcos?

 

Quer dizer, e se Marcos simulou que eram outr@s @s que falavam e sentiam essas palavras?

 

E se essas escolas autônomas na realidade não existem?

 

E se os hospitais, e as clínicas, e a prestação de contas, e as mulheres indígenas com cargo, e a terra trabalhando, e a força aérea zapatista, e…?

 

Sério: e se nada do que aí dizem essas indígenas, esses indígenas existem realmente?

 

Em resumo, e se tudo não é nada mais que uma monumental mentira, levantada por marcos (e Moisés, já que estamos nessa) para consolar com quimeras @s esquerdistas (suj@s, fei@s, maus, irreverentes, não esqueça) que nunca faltam e que sempre são uns quantos, poucos, pouquíssimos, uma minoria desprezível? E se o submarcos inventou tudo isso?

 

Não seria bom confrontar essas dúvidas e seu são ceticismo com a realidade?

 

E se fosse possível que você visse diretamente essas escolas, essas clínicas e hospitais, esses projetos, essas mulheres e esses homens?

 

E se você pudesse escutar diretamente esses homens e mulheres, mexican@s, indígenas, zapatistas, esforçando-se em falar-lhes em espanhol e explicando-lhes, contando-lhes sua história, não para convencê-lo ou para recrutá-lo, só para que você entenda que o mundo é grande e tem muitos mundos em seu interior?

 

E se você pudesse concentrar-se só em olhar e escutar, sem falar, sem opinar?

 

Você tomaria esse caminho ou você continuaria no refúgio do ceticismo, esse sólido e magnífico castelo das razões para nada fazer?

 

Solicitaria ser convidado e aceitaria o convite?

 

Assistiria você a uma escolinha em que as professoras e os professores são indígenas cuja língua materna está tipificada como “dialeto”?

 

Aguentaria a vontade de estudá-lo como objeto da antropologia, da psicologia, do direito, do esoterismo, da historiografia, de fazer uma reportagem, de fazer uma entrevista, de dizer-lhes sua opinião, de dar conselhos, ordens?

 

Olharia a eles, quer dizer, os escutaria?

 

-*-

 

As sombras.

 

De um lado desta luz que agora brilha, não se adverte a forma irregular das sombras que a fizeram feito possível. Porque outro dos paradoxos do zapatismo é que não é a luz a que produz as sombras, mas são dessas das quais a luz nasce.

 

Mulheres e homens de rincões distantes e próximos em todo o planeta fizeram possível não só o que vai se mostrar, também enriqueceram com seus olhares o andar destes homens e mulheres, indígenas e zapatistas, que agora levantam de novo a bandeira de uma vida digna.

 

Indivíduos, indivíduas, grupos, coletivos, organizações de todo tipo, e em diferentes níveis, contribuíram para que este pequeno passo d@s mais pequen@s se realizasse.

 

Dos 5 continentes chegaram os olhares que, de baixo e à esquerda, ofereceram respeito e apoio. E com estas duas coisas não só se levantaram escolas e hospitais, também se levantou o coração indígena zapatista que, assim, se somou a todos os rincões do mundo através dessas janelas irmãs.

 

Se há um lugar cosmopolita em terras mexicanas, talvez seja a terra zapatista.

 

Diante de tal apoio, não correspondia menos que um esforço de igual magnitude.

 

Acredito, acreditamos, que toda essa gente de México e do mundo pode e deve compartilhar como própria esta pequena alegria que hoje caminha com rosto indígena nas montanhas do sudeste mexicano.

 

Sabemos, sei, que não esperam, nem exigem, nem demandam, mas como queira, lhes mandamos um grande abraço, que assim é como os zapatistas, as zapatistas, agradecemos entre companheir@s (e de maneira especial abraçamos a quem sim souberam ser ninguém). Talvez sem se proporem, vocês foram e são, para todas, todos nós, a melhor escola. E não falta dizer que não deixaremos de nos esforçar para conseguir que, sem importar seu calendário e sua geografia, respondam sempre afirmativamente a pergunta de que se vale a pena.

 

A todas (lamento desde o profundo de minha essência machista, mas as mulheres são maioria quantitativa e qualitativa), a todos: obrigado.

 

(…)

 

E bom, há sombras e sombras.

 

E as mais anônimas e imperceptíveis são umas mulheres e homens de baixa estatura e de pele cor da terra. Deixaram tudo o que tinham, ainda que fosse pouco, e se converteram em guerreiras, em guerreiros. Em silêncio e na obscuridade contribuíram e contribuem, como ninguém mais, para que tudo isso seja possível.

 

E agora falo das insurgentas e dos insurgentes, meus companheir@s.

 

Vão e vem, vivem, lutam e morrem em silêncio, sem fazer barulho, sem que ninguém, a não ser nós mesm@s, @s leve em conta. Não tem rosto nem vida própria. Seus nomes, suas histórias, talvez só venham à memória de alguém quando muitos calendários se tenham desfolhado. Então, talvez em torno de uma fogueira, enquanto o café ferve em um velho bule de estanho e se acende o fogo da palavra, alguém ou algo saúde sua memória.

 

E como queira, não importará muito, porque do que se tratava, do que se trata, do que se tratou sempre, é contribuir em algo para construir essas palavras com que costumam começar os contos, as anedotas e as histórias, reais ou fictícias, das zapatistas, dos zapatistas. Tal e como começou o que agora é uma realidade, quer dizer, com um:

 

“Haverá uma vez…”

 

Até. Saúde e que não falte, nunca, nem o ouvir nem o olhar.

(já não continuará)

 

Em nome das mulheres, homens, crianças, anciãos, insurgentas e insurgentes do

Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Das montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Março de 2013.

 

PS. QUE ADIANTA.- Continuarão saindo escritos, não se alegre de antemão. Principalmente serão do companheiro Subcomandante Insurgente Moisés, referentes à escolinha: datas, lugares, convites, inscrições, propedêuticas, regulamentos, níveis, uniformes, materiais escolares, qualificações, acessorias, onde conseguir os exames já resolvidos, etc. Mas se perguntam quantos níveis são e em quanto se chega a graduar, lhes dizemos: nós levamos mais de 500 anos e ainda não acabamos de aprender.

 

PS. QUE DÁ UM CONSELHO PARA IR À ESCOLINHA- Eduardo Galeano, um sábio na difícil arte de olhar e escutar, escreveu, em seu livro “Os Filhos dos Dias”, no calendário de março, o seguinte:

 

Carlos e Gudrun Lenkersdorf tinham nascido e vivido na Alemanha. No ano de 1973, esses ilustres professores chegaram no México. E entraram no mundo maya, numa comunidade tojolabal, e se apresentaram dizendo:

– Viemos aprender.

Os indígenas calaram.

Em um momento, alguém explicou o silêncio:

– É a primeira vez que alguém nos diz isso.

 

E aprendendo ficaram ali, Gudrun e Carlos, durante anos e anos.

 

Da língua maya aprenderam que não há hierarquia que separe o sujeito do objeto, porque eu bebo a água que me bebe e sou olhado por tudo o que eu olho, e aprenderam a saudar assim:

 

– Eu sou outro você.

– Você é outro eu.”

 

Faça caso a Dom Galeano. Porque é sabendo olhar e escutar, que se aprende.

 

PS. QUE EXPLICA ALGO DE CALENDÁRIOS E GEOGRAFIAS.- Dizem nossos mortos que tem que saber olhar e escutar tudo, mas que no sul sempre terá uma riqueza especial. Como terão dado conta os que puderam ver os vídeos (ficaram não poucos nos bolsos, para ver em outra ocasião) quem acompanharam os escritos desta série de “Eles e nós”, tratamos de rodar por diversos calendários e geografias, mas houve uma insistência em nosso respeitado sul latinoamericano. Não só pela Argentina e Uruguai, terras sábias em rebeldia, também porque, segundo nós, no povo Mapuche não só há dor e raiva, mas também inteireza na luta e uma profunda sabedoria para sabe olhar e escutar. Se tem um rincão no mundo para onde se deve fazer pontes, é o território Mapuche. Por esse povo, e por tod@s @s desaparecid@s e pres@s desse dolorido continente, continua viva a memória. Porque não sei se do outro lado dessas letras, mas sim desse lado: nem perdão, nem esquecimento!

 

 

PS SINTÉTICA.- Sim, sabemos, este desafio não foi e nem será fácil. Virão grandes ameaças, golpes de todo tipo e de todos os lados. Assim tem sido e será nosso caminhar. Coisas terríveis e maravilhosas compõem nossa história. E assim será. Mas se nos pergunta como podemos resumir em uma palavra tudo: as dores, as ansiedades, as mortes que nos doem, os sacrifícios, o contínuo navegar contra a corrente, as solidões, as ausências, as perseguições e, sobretudo, este insistente fazer memória de quem nos precedeu e já não estão mais, então é algo que une todas as cores de baixo e à esquerda, sem importar o calendário ou a geografia. E, mais que uma palavra, é um grito:

 

Liberdade… Liberdade! LIBERDADE!

 

Até de novo.

 

O sub guardando o computador e caminhando, sempre caminhando.

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Um poema de Mario Benedetti (que responde à pergunta de por quê, apesar de tudo, cantamos), musicalizada por Alberto Favero. Aqui na interpretação de Silvana Garre, Juan Carlos Baglietto, Nito Mestre. Nem perdão, nem esquecimento!

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=g6TVm-MuhL8

 

Camila Moreno interpreta “De la tierra”, dedicado ao lutador Mapuche, Jaime Mendoza Collio, assassinado pelas costas pelos carabineiros.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=SSVgl8QE8L0

 

Mercedes Sosa, a nossa, a de tod@s, a de sempre, cantando, de Rafael Amor, “Corazón Libre”. A mensagem é terrível e maravilhosa: jamais render-se.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gwlii20ZZd8

 

Eles e Nós. VII. @s menores. 6. A Resistência

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente


ELES E NÓS.

VII.- @s menores 6.

6.- A Resistência.

Março de 2013.



NOTA: Os seguintes fragmentos falam da resistência opa... um momento!... Existe uma Força Aérea Zapatista? O sistema de saúde zapatista é superior ao do mal governo!? Durante esses quase 20 anos, as comunidades zapatistas resistiram, com engenhosidade, criatividade e inteligência próprias, a todas as variáveis contra-insurgentes. A chamada "Cruzada contra a Fome", d@s capatazes priistas em turno, não faz senão reeditar a falácia de que o que os indígenas demandam são esmolas, e não Democracia, Liberdade e Justiça. Esta campanha contra-insurgente não chega sozinha, a acompanham a midiática (a mesma que na Venezuela de hoje reitera sua vocação golpista contra um povo que saberá tirar força de sua dor), a cumplicidade da classe política em seu conjunto (no que deveria se chamar "Pacto contra o México") e, claro, uma nova escalada militar e policial: em territórios zapatistas se tornam mais valentes os grupos paramilitares (com o aval do governo estatal), as tropas federais intensificam suas patrulhas provocadoras "para localizar a direção zapatista", as agências de "inteligência" se reativam, e o sistema de justiça reedita seu ridiculês (que rima com Cassez) ao negar ao professor Alberto Pathistán Gómez a liberdade, e assim condená-lo por ser indígena no México do século XXI. Mas o professor resiste, sem falar das comunidades indígenas zapatistas...

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Bom dia companheiros, bom dia companheiras. Me nome é Ana, da Junta de Bom Governo atual, da quarta geração 2011-2014, do Caracol I de La Realidad. Vou lhes falar um pouco da resistência ideológica, o subtema que trazemos nós dois, eu e o companheiro. Vou lhes falar da ideologia do mal governo. O mal governo utiliza todos os meios de comunicação para controlar e desinformar o povo, por exemplo a televisão, rádio, telenovelas, celulares, jornais, revistas e até o esporte. Com a televisão e o rádio colocam muitos comerciais para distrair as pessoas, as telenovelas para viciar as pessoas e para que acreditem que o que passa na TV vai acontecer com a gente. Na educação o sistema do mal governo, ideologicamente, os que não são zapatistas os manipula para que seus filhos estejam na escola bem uniformizados todos os dias, sem importar se sabe ler ou escrever, só para aparentar ou para que os vejam bem. Também lhes facilita bolsas para que tenham estudo, mas no fim das contas o único que se beneficia são as empresas que vendem todos os materiais e esses uniformes. Como resistimos a todos esses malefícios da ideologia do governo em nosso Caracol? Nossa arma principal é a educação autônoma. Em nosso Caracol se ensina aos educadores histórias verdadeiras relacionadas com o povo para que sejam transmitidas aos meninos e meninas, dando a conhecer também nossas demandas. Se começou também a dar palestras políticas a nossos jovens para que estejam despertos e não caiam tão fácil da ideologia do governo. Estão sendo dadas também palestras ao povo sobre as treze demandas, por parte de gente local de cada povo. Isto é o pouco que posso explicar e vai ficar com vocês agora o companheiro.

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(…)

Tem também aquilo dos programas, dos projetos de governo. O governo começa a colocar projetos como para que os irmãos recebam desses projetos e acreditem que isso é bom e para que eles comecem a receber isso e se esqueçam de seus trabalhos. Para que os irmãos já não dependam deles mesmos mas dependam do mal governo.

O que nós fazemos para resistir a essas coisas? Começamos a nos organizar para fazer trabalhos coletivos, como já disseram alguns compas que fazemos trabalhos coletivos desde o povoado, da região, nos municípios e até na zona. Estes trabalhos fazemos para satisfazer nossas necessidades de diferentes tipos de trabalhos e é como resistimos para não cair nos projetos do mal governo e que façamos nossos próprios trabalhos para depender de nós mesmos e não do mal governo.

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Lá tem um hospital grandinho em uma comunidade que se chama Guadalupe Tepeyac e agora mesmo está sendo construído muito perto, a meia hora de caminhada, uma hora, que é no centro de La Realidad, outro hospital que é infantil. Mas o que acontece, o que temos visto nesse hospital que está funcionando em Guadalupe Tepeyac? Apesar de que o governo têm todo o equipamento, chegam gente de diferentes comunidades, de diferentes municípios, e o que acontece? Acontece que precisam fazer um exame de ultra-som, por exemplo, ou uma análise de laboratório, então como os doutores dali sabem, sabem porque estão muito perto também do hospital que temos, o Hospital-Escola "Os Sem Rosto de San Pedro", que está perto de outra comundiade, então sabem que eles não podem fazer esses exames nesse hospital do governo porque não tem pessoal capacitado lá, tem a máquina mas não tem pessoal, então o que fazem eles é dar a consulta e os encaminha ao nosso hospital, ao hospital-escola zapatista. Se faz esse exame - até que nível estamos chegando companheiros -, se faz o exame e claro, também há regulamentos nesse hospital para cobrar uma cota de quem for, e se faz o exame.

Então a gente vai se dando conta, vai se admirando, que em um hospital oficial não tem o que muitos esperam, a solução de seu problema, então recorrem a nosso hospital, ainda que simples, como dissemos, mas aí é onde lhes dizem que problemas temos quando sai o exame de ultra-som, e também no caso do laboratório. Lá está o hospital de Guadalupe, mas não tem um especialista em laboratório, então tem muitas casos que não se pode fazer o exame e mandam para o nosso hospital-escola. Lá temos um companheiro que está capacitado e já capacitou mais vários companheiros, então ele faz diferentes exames. Mas não só isso, a vantagem que ele tem e que o outro não tem, o do hospital oficial, porque este só faz o exame é ponto, e o manda para outro doutor para que lhe dê um tratamento; então o que faz esse companheiro do hospital quando chega gente que é encaminhado dos médicos do hospital de Guadalupe é que faz o exame, e também lhe dá a receita, o tratamento de sua doença, porque ele tem muito conhecimento nessa área de laboratório.

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Para completar um pouco o que é da cidade rural [levantada, com o aplauso midiático, pelo governo de "esquerda" do corrupto Juan Sabines Guerrero], a princípio houve construções de casas. Segundo o que nos contam os companheiros é que as construções, ou seja, os materiais que fizeram as construções, são esses 'triplay', esses bem fininhos, não com as tábuas que temos aqui. Atualmente as construções estão infladas como balões, quando há ventos fortes e quando é época de calor e de chuva pois todos os materiais que estão construídas as casas atualmente já estão deteriorados. É o que é. Então em umas comunidades aí nesse município foram viver por uns dias as famílias, estiveram, e segundo as notícias da mídia tem uma cozinha que se construiu com a medida de 3X3, bem pequeno, e um quartinho, uma sala do lado. Mas não se pode fazer nada ali porque se fazem seu fogão ali, como se pode fazer fogão ou seu fogo ali? Não se pode.

Atualmente não está funcionando, foram por uns dias as famílias, mas o que sabemos é que tiveram que retornar à sua comundade. Algumas famílias estão ainda lá mas em condições muito ruins. Segundo dizem que ali num morrinho, logo acima de onde estão as construções, fizeram tanques de água, mas que não estão funcionando, companheiros, não estão funcionando. Dizem que tem um banco aí para investir o dnheiro, não sei se é banco mundial, estatal, municipal, não sei, mas não está funcionando. São só cascas já deterioradas.Não é como dizem a 'cidade rural', que o nome é muito bonito, mas realmente não tem nada. Por isso assim como diziam os companheiros, por que acreditamos nisso de que existem projetos e outras coisas? São puras mentiras.

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Assim como diziam os companheiros, é parte da guerra do inimigo, por isso sim alguns companheiros dessa região se tem deixado convencer com essas ideias porque chegaram até aí, não é porque vão ter uma vida mais digna. Em muitos lados os que saem da organização ou os que estão nos partidos, mas tem tido uma vida melhor os companheiros das bases de apoio. A cidade rural são puras mentiras o que tem sido dito e o que estão fazendo lá.

Para fazer entender a manipulação ideológica que faz o mal goveno em Santiago El Pinar, prometeram às mulheres que lhes dariam granjas, de galinhas. Então vem que as granjas é com alimentação, quando lhes deram isso deram muitas galinhas para que ponham ovos, então muito bonito o início porque sem as galinhas começaram a pôr muitos ovos, mas o governo não fez o mercado onde vender. Puseram muitos ovos as galinhas e agora, o que fazemos? Não se pode fazer concorrência com as grandes empresas onde se vende os ovos. Então os irmãos nos contam que o que fizeram é que então vamos dividir, e repartiram mas então o governo não deu mais alimentação às galinhas, as galinhas começaram a ficar pálidas, começaram a deixar de pôr ovos. E então as mulheres dizem, 'então o que fazemos? Temos que cooperar. Mas como vou cooperar se os ovos eu já comi? onde vou encontrar dinheiro?'. Aí as galinhas morreram, não deu resultado o que diz o mal governo. É nada mais para que cheguem as câmeras que filmem sim que nos entregaram, é muito bonito e não sei o que. Mas isso nada mais que um mês, dois meses, três meses e se acabou.

Assim entre mais outras coisas está o problema, como o compa está dizendo, que as casas não servem porque enchem, como disse, como sapo. As mulheres estão acostumadas a fazer sua tortilla, seja com fogão ou com fogo no chão, mas é chão de terra, nesse caso é chão de madeira, triplay, não se pode fazer fogo ali. Então o botijão que deram não se sabe mexr, botijão de gás não dura nem um mês, então estão vazios os botijões, não serve para nada. Depois vem que a vida dos camponeses, indígenas é que atrás de sua casa tem a verdura, a cana, a pinha, a batata, o que seja, que é nosso modo de vida, mas aqui não tem, é simplesmente a casa e ponto. Não sabem o que fazer mas já foram retirados do terreno onde vivem, então tem que ir trabalhar mas é gasto outra vez para ir e vir. 

A política do mal governo é acabar com a vida comum, a vida comunitária, é que deixe seu terreno ou que o venda, agora se você vende está ferrado. É uma política de injustiça, é de criar mais miséria. Todos os milhões que recebem da ONU, que é a Organização das Nações Unidas, o mal governo, tanto estatal, municipal e federal, ficam com eles para organizar os que provocam problemas nas comunidades, sobretudo com a gente que somos bases de apoio. 

É a continuação da política, que se falava muito, agora já não querem que se fale, já não falam na mídia, que é o Plan Puebla-Panamá. Agora tem outro nome que estão falando porque se atacou muito o Plan Puebla-Panamá, mas é a mesma coisa, só mudaram de nome para continuar individualizando as comunidades, para acabar o comum que se pode ficar ainda.

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É mais ou menos assim que se está fazendo nos trabalhos na resistência, porque estamos falando da resistência. E nesses trabalhos às vezes os companheiros que trabalharam no milho ou no café, ou se já tem o seu gado, às vezes vende seu animal fica com um pouco de recurso econômico e como o mal governo está nos atacando com seus projetos de pisos firmes, de moradia, de melhoramento de moradia, outras coisas que recebem esses irmãos priistas, partidários em outras comunidades. 

Mas acontece que eles já estão acostumados muito com o dinheiro, como que seu olhar já está mais com o governo, que venha mais dinheiro e nesses projetos que recebem, como explicaram alguns companheiros de Garrucha, assim está acontecendo também no Caracol de Morelia. Às vezes esses irmãos vendem a lâmina e é um projeto de governo, o governo pensa que está melhorando seu partido mas está saindo ao contrário, o fruto do trabalho dos companheiros que estamos em resistência, pois aí chegam a vender esses partidistas.

Digamos um exemplo em uma folha de lâmina pois o melhor na loja está em 180 pesos, mas chegam a vender até em 100 pesos, 80 pesos; e recebem blocos para construção, pode ser que nas lojas estão a 5, 6, ou 7 pesos, mas eles chegam a vender até 3 pesos, 2 pesos. E os companheiros, nós, como estamos na resistência não estamos acostumados a gastar o fruto de nosso trabalho, são eles os que compram e pode ser que ao melhor algum dia vocês vão ver em alguns novos centros de povoados que a lâmina é de cor, mas realmente saiu do trabalho dos companheiros. É assim o que está acontecendo também lá.

Mas também o governo se deu conta pra onde está indo seu projeto. Não está beneficiando os partidários, os priistas, mas que os zapatistas estão aproveitando, é aí onde manda suas construções de moradia, mas já não só entregam o material mas que já vai o pedreiro. Chegando o material já está o pedreiro porque já se deu conta que sim se está melhorando suas casas os zapatistas, é por isso que vai mudando, são muitas formas que está usando o mal governo que passou de 94 até aqui.

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Bom compas, de novo outra vez a explicar o que é a resistência militar, por exemplo o que explicou já a companheira. A mim me toca explicar o que passou em 1999 no ejido Amador Hernández, município General Emiliano Zapata.

Nessa época um dia de 11 de agosto chegaram os militares e companheiras e companheiros resistimos o que foi essa entrada dos militares. Como eles queríam tomar o que é a comunidade, em um salão de festa chegaram os militares e o que fizeram as companheiras foi enfrentá-los; os tiraram da comunidade e os colocaram para fora da comunidade. Mas continuou, se fez um plantão. Aí participou todo o que é a zona, o que é do Caracol La Realidad. Nessa resistência também chegaram os da sociedade civil e toda essa resistência se aguentou porque era tempo de lama, como esse tempo de chuva. Tudo isso e não caímos em suas provocações, não nos enfrentamos militarmente mas pacificamente chegamos frente a eles.

O que se organizava nesse plantão, se faziam bailes, dançávamos em frente aos militares. E se faziam cultos religiosos, se faziam programas de eventos dos compas, de repente dávamos palestra política da luta.

O que fizeram os militares? Começaram como que os convencíamos porque estamos de frente pra eles, então o que fez os mandos militares do exército foi colocar uns alto-falanes para que não escutassem nossas palavras e os retiraram um pouco mais.

O que aconteceu então? È que os companheiros voltaram a inventar, acho que tinham escutado os aviõezinhos de papel, escrevendo porque do plantão e jogávamos assim para os militares. Foi quando se fez a primeira força aérea do Exérrcito Zapatista em Amador Hernández, mas são de puro papel.

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Tudo isso, compas, aconteceu nessa resistência militar e como fazíamos empurrões aos militares, companheiros e companheiras em frente e os militares em duas filas, e tinha um compa que, um rapazinho o compa, como os militares nos empurravam com seus escudos e tinham esses toletes que dizem, nos empurravam e o compa então pisava no pé do militar, e pisavam nele também. Como estava outro soldado mais grandinho assim como que deu curiosidade de rir, começou a rir porque o compa pisava o pé do outro, e o pisavam também. E começou a rir o militar e o compa rapazinho disse ao soldado “de que você tá rindo rapaz?”, e era maior o soldado e mais pequeno o compa.

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Isso é  que eu consegui ver e estamos vendo. O resultado sim aí está. Não em vão que comemos torradas para entrar e a torrada sim dá força e dá sabedoria. Aí se utilizou muito do que é o coletivismo, porque falo dessa forma, companheiros? Me desculpem a palavra companheiras, aí aprendemos com muitos dos companheiros em cada povo, em cada município, para enfrentar os malditos soldados que tem dentro de nossos lugares, que chegam a nos hostilizar. Aí aprendenram as companheiras a se defender, não sei, com pauladas tem que tirar os soldados, a força, com pedra ou com gritaria assim fizeram. Assim se organizaram as companheiros, eu vi e tenho presente que as companheiras se convenceram a enfrentar, demonstraram que as companheiras podem sim.

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As autoridades também começaram a mudar e a receber nossas necessidades que vamos apresentando em cada povo, em cada região, em cada centro, no município. Assim fomos trabalhando pouco a pouco, avançando. Já quando está formado começamos a criar, a iniciar o trabalho de saúde e educação, então como disse a companheira, temos já a clínica no município, a “Companheira Maria Luísa” [nome de luta de Deni Prieto Stock, caída em combate em 14 de fevereiro de 1974 em Nepantla, Estado de México, México] e no ejido San Jerónimo Tulijá se chama “Companheira Murcia Elisa Irina Sáenz Garza”, uma companheira que lutou, que morreu em combate no tancho El Chilar [na Selva Lacandona, Chiapas, México, em fevereiro de 1974], aqui perto de onde estamos, em nossa fronteira ali onde eles morreram, esse nome que a clínica levou.

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Dení Prieto Stock “Murcia”


Elisa Irina Sáenz Garza “Murcia”

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(Continuará...)
Dou fé.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Março de  2013

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TOP SECRET. Treinamento da Força Aérea Zapatista (FAZ, por suas siglas em espanhol) em algum lugar das montanhas do Sudeste Mexicano.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BliFqcIgdqs

Uma mostra maisdo ânimo guerreiro inculcado nos meninos e meninas nas comunidades indígenas zapatistas em resistência: aqui lendo “O engenhoso Hidalgo Don Quixote de La Mancha”, de um tal Miguel de Cervantes Saavedra, que deve ser algum acessor militar estrangeiro soviético.... Já não há URSS? Não te digo, uma mostra mais de que estes indígenas são desesperadamente pré-modernos: lêem livros! Certamente o fazem por serem subversivos porque com Peña Nieto ler livros é um delito.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=zlQJTI1p47k

Canto de dor e raiva de uma mãe Mapuche ao perder seu filho assassinado pelos carabineiros do Chile.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=5MA-Dt6tDn8

Canção para os Caracóis do EZLN, de Erick de Jesús. No inicío do vídeo, palavras das mulheres zapatistas.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=EYdSJVQP0ug