Comunicados Zapatistas

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Datas e outras coisas para a escolinha zapatista

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

Datas e outras coisas para a escolinha zapatista
Exercito Zapatista de Libertação Nacional
México

Março de 2013.

Companheiras, companheiros, irmãos e irmãs da Sexta:

Sobre visitas, caravanas e projetos.

Vocês sabem que estamos preparando as aula de nossas escolinhas,e nisso nos iremos concentrar, para que tudo saia bem, e sejam bons e boas os alunos e as alunas.

E nós, juntamente com as autoridades, pensamos que existem coisas que não poderemos fazer, para que não perdermos o foco, por exemplo: recebê-los para uma entrevista, trocar experiências, caravanas, equipes de trabalho, ou discutir uma ideia de projeto. Então, por favor não faça a viagem para nada, pois nem a junta de bom governo, ou as autoridades autônomas, nem as comissões de projetos serão capazes de atendê-los.

Se qualquer pessoa ou coletivo esta pensando em trazer caravana com apoio para as comunidades, pedimos que aguardem até que chegue a hora para isso, ou se você já tiver providenciado a viagem, então por favor pare no CIDECI com o Dr. Raymundo, aqui em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México.

Não estamos dizendo que NUNCA, mas que por agora NÃO porque queremos nos concentrar na escolinha. Para que não se entenda mal, queremos avisar-lhes o porquê de que não os iremos atender.

Dizemos isto para que não se planejem viagens que requeiram conversas com autoridades, porque não seremos capazes de atendê-los, pela simples razão de que todo o nosso esforço é para a nossa escolinha, para você, para o México e para o mundo, e é por isso que o esforço vai para lá.

E assim estaremos nas Juntas de Bom Governo e nos cinco caracóis, não poderemos atendê-los. Mas será possível visitar os caracóis.

O mesmo para os projetos que já existem nas 5 juntas, existem coisas que não vamos poder fazer, somente aquilo que não seja necessária consulta ou muito movimento para nossos povos. Se não, vai ficar para outra ocasião.

Queremos que vocês nos entendam, que para nós não é tempo de caravanas, ou projetos, ou entrevistas, ou troca de experiência, ou outras coisas. Para nós, os zapatistas, as zapatistas, é hora de nos prepararmos para a escolinha. Nós não vamos ter tempo para outras coisas, a menos que o mal governo apronte uma das suas, e então a coisa muda de figura.

Com vocês companheiros, companheiras, irmãos e irmãs acreditamos que há compreensão.

Sobre escola.

Aqui vão as primeiras informações sobre a escolinha, para que já se preparem aqueles que vão receber as classes.

1 -. Para a Festa dos Caracóis estão convidados todos e todas que se sintam convocados. A festa será nos 5 caracóis, assim que podem ir ao que queiram. A chegada será no dia 8 de agosto, 9 e 10 será a festa, e 11 é dia de retorno. Cuidado: a festa não é o mesmo que a escolinha. Não confundam.

2 -. Com esta festa, as bases de apoio zapatistas irão celebrar o décimo aniversário da Juntas de Bom Governo, mas não só.

3 -. Por estes dias começa a nossa pequena escola muito outra em que noss@s chef@s, quer dizer, as bases de apoio zapatista, vão dar aulas de como foi seu pensamento e sua ação em liberdade segundo o zapatismo, seus acertos, seus erros, seus problemas, suas soluções, o que têm avançado, o que está travado e que está faltando, porque sempre falta o que está faltando.

4 -. Primeiro curso (faremos muitos para que possam participar tod@s), o primeiro nível é de 7 dias, considerando chegada e partida. Chegada em 11 de agosto, a aula começa 12 de agosto de 2013 e termina em 16 de agosto de 2013. E no dia 17 de agosto de 2013 é a partida. Aqueles que já terminaram o curso e querem ficar mais tempo, podem visitar outros caracóis diferentes daquele que fizeram o curso. O curso é o mesmo em todos os caracóis, mas você pode conhecer outros caracóis diferente daquele que você esteve, mas então cada um vai por sua conta.

5 -. Pouco a pouco vamos contando como será isso da inscrição na escolinha de liberdade segundo os zapatistas, e as zapatistas, mas já adiantamos é laica e gratuita. A pré-inscrição será com as Equipes de Apoio da Comissão Sexta, nacional e internacional, no site Enlace Zapatista e através de e-mails. O registro de alunas e alunos será no CIDECI em San Cristobal de Las Casas, Chiapas. Convites vão começar a ser enviados, conforme vamos podendo, a partir de 18 de março de 2013.

6 -. Mas não pode ir aquele que quiser a escola, senão que vamos convidar diretamente. Est@s compas que convidemos, nós vamos cuidar, vamos dar de comer, um lugar onde dormir, e vamos ter um guardião ou guardiã, que seja seu “Votán” que vai cuidar para que esteja bem e não sofra nas classes, só um pouco, só aquele pouco necessário.

7 -. Os alunos e as alunas terão que estudar bastante. O primeiro nível tem quatro temas são: Governo Autônomo I, Governo Autônomo II, Participação das Mulheres no Governo Autônomo e Resistência. Cada tema tem o seu livro-texto. Os livros didáticos tem entre 60 e 80 páginas cada, e o que lhes apresentou o SupMarcos é apenas uma pequena parte de cada livro (3 ou 4 páginas). Cada livro vai custar 20 pesos mexicanos, que é o preço de custo.

8 -. O curso dura sete dias o primeiro nível, e segundo o tempo de cada compa, porque sabemos que cada um tem o seu trabalho, sua família, sua luta, o seu compromisso, ou seja o seu calendário e sua geografia.

9 -. O primeiro curso é apenas de primeiro grau, e faltam muitos mais, ou seja, não vai acabar rápido a escola, mas ao contrário demora. Aqueles que passarem a primeira fase poderão fazer para o segundo nível.

10 – Sobre os gastos: O compa, a compa têm que ter garantir a sua passagem até o CIDECI, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, e também a sua passagem de volta. Do CIDECI, eles vão para a escolinha que lhes cabe e, quando terminar, retornam ao CIDECI já para de lá, ir para os locais de cada pessoa. Lá na escola, que é na comunidade, não precisa ter vergonha, vai ficar garantido o feijãozinho, as verdurinhas e a tortilla. Ou seja, os gastos de cada aluno vão cobrir os zapatistas. Cada estudante ou estudanta vai morar com uma família indígena zapatista. Nos dias que esteja na escola está será a família do aluno ou da aluna. Com esta família vai comer, trabalhar, descansar, cantar, dançar, e eles o vão encaminhar a sua escola. E o “Votán” ou o guardião ou a guardiã, vai estar acompanhando ele ou ela sempre. Então, vamos estar pendente de cada estudante ou estudanta. E se você ficar doente, pois ali te curaremos e se for sério, vamos te levar a um hospital. Mas o que está na sua cabeça, como vai chegar e partir, sobre isso não poderemos fazer nada, ou seja fica a critério de cada companheiro ou companheira o que vai fazer com o que ver, ouvir e aprender. Desta forma, vai ser ensinada a teoria, a pratica cada um vê como se dá nos espaços de cada quem.

11 -. Para pagar seus gastos escola, bom, isso a gente resolve. De repente, podemos fazer um festival de música e dança, ou umas pintura e artesanato, mas não se preocupe, porque damos um jeito e sempre tem gente boa que apoia coisas boas. Para aqueles que querem doar para a escola, nós vamos colocar um cesto no local de registro de alun@s, ou seja no CIDECI, com os compas da Universidad de la Tierra, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas. Então lá cada um põe o quanto pode, e ninguém vai saber quem doou quanto e ninguém fica triste porque doou mais ou menos. Não vai ser permitido que se dê dinheiro ou se deixem presentes diretamente as escolas, famílias, ou caracóis. Isto é para que seja igual o que cada um vai receber. Tudo o que você quiser doar, é no CIDECI, com os compas da Universidad de la Tierra, em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México. Então se junta tudo e se divida por igual, se é que vai ter algo. Se não, não importa, o que importa são vocês.

12 -. Há outras formas de assistir as classes da escola zapatista. Vamos pedir apoio com os compas de meios livres, libertários, autônomos, e quem saiba disso de videoconferência. Porque nós sabemos que muitas pessoas não poderão vir por suas questões de trabalho ou problemas pessoais ou familiares. E há pessoas que não entendem espanhol, mas estão ansiosos para saber como é que os zapatistas, as zapatistas fizeram o que eles fizeram e como eles têm desfizeram o que desfizeram. Então, teremos um curso especial, que será gravado e mandado aonde haja um grupo de aluno e alunas dispostos e com seus livros, assim eles poderão ver o curso, e com isso de internet poderão fazer perguntas aos professores e professoras das bases de apoio zapatista.

Para isto, vamos convidar uma reunião especial com alguns meios alternativos para chegar ao acordo sobre como eles vão fazer as videoconferências e tirar foto e vídeo dos lugares que serão dadas as aulas, para que todos possam ver se é certo ou não o que estão ensinando os professores e professoras.

E outra forma, é vai levar cópias de dvd dos cursos para aqueles que não possam ir a nenhum lugar e só podem estudar em casa, porque essa também é uma forma de aprender.

13 -. Para poder participar da escolinha zapatista, terão que fazer um curso de preparação onde se vai explicar como é a vida nas comunidades zapatistas, as suas regras internas. Para que não se cometa nenhum delito. E o que é necessário levar. Por exemplo, não se devem levar aquelas que são chamados de “barracas”, que também são inúteis, já que vão ser recebid@s por famílias indígenas zapatistas.

14 -. De uma vez lhes dizemos claramente que esta PROIBIDO produzir, comercializar, trocar e consumir qualquer tipo de drogas e álcool. Também esta proibido portar qualquer tipo de armas, seja de fogo o “brancas”. Aqueles que peçam para ingressar no EZLN ou perguntar qualquer coisa militar, serão expulsos. Não se estará recrutando ou promovendo a luta armada, mas a organização e a autonomia para a liberdade. Também se proíbe qualquer propaganda política e religiosa.

15 -. Não há limite de idade para frequentar a escolinha, mas alguém é menor de idade, ele ou ela deve vir com um adulto responsável.

16 -. Quando se inscrevam, depois de serem convidad@s, pedimos que esclareç@am, se são outr@, homem ou mulher para ver como os acomodaremos, para que cada individuo ou individua seja respeitad@ e cuidad@. Nao há discriminação por gênero, orientação sexual, raça, credo, nacionalidade. Qualquer ato de discriminação será punido com a expulsão.

17 -. Se alguém tem uma doença crônica, pedimos-lhe que leve o seu remédio que nos avise para que estejamos cientes e possamos cuida-lo caso ocorra algo.

18 -. Quando se inscrevam depois de serem convidad@s, pedimos que nos digam sua idade e condição física e de saúde para que os acomodemos em uma escola em que não sofram mais do que o necessário.

19 -. Se convidad@ e não puder comparecer nessa primeira data, não seja tímido. Basta dizer-nos quando pode e a gente faz o curso quando você possa. Além disso, se alguém não pode concluir o curso ou não pode chegar quando já está inscrito, não há problema, você pode terminar mais tarde. Embora, lembre-se que você também pode participar de vídeo conferências ou cursos que estarão sendo dados fora do território zapatista.

20 -. Em outros escritos estarei explicando mais coisas e esclarecendo as dúvidas que possam ter. Mas eu digo que isso é o básico.

Isso é tudo por agora.

Das montanhas do sudeste mexicano.

Subcomandante Moisés.

Reitor da Escolinha zapatista.

México, em março de 2013.

PS- Pedi ao SupMarcos que coloque neste escrito alguns vídeos que tenham a ver.

Francisco Gabilondo Soler Cri Cri, com uma canção que já faz parte da música clássica: “Caminho a escola” (1.video)

Os esquilinhos de Lalo Guerrero com “Vamos a escola” e os pretextos de Pánfilo para não ir a escola.(2. Vídeo)

Os problemas da escola ao ritmo de ska, com a Tremenda Korte e esta cancao “Por Nefasto”. (3. Vídeo)


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Traducción de Luisa desde Brasil.

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Eles e Nós. VII. @s menores. 7 e último

Tradução feita por: dedeco

Revisão: pendente

ELES E NÓS.

VII.- @s mais pequen@s 7 e último.

7.- Dúvidas, sombras e um resumo em uma palavra.

Março de 2013.

 

As Dúvidas.

 

Se depois de ler os fragmentos da palavra das companheiras e companheiros do EZLN, você ainda sustenta que os indígenas zapatistas são manipulados pela mente perversa do submarcos (e agora também do subcomandante insurgente Moisés) e que nada mudou no território zapatistas desde 1994, então você não tem remédio.

 

Não recomendamos que apague a televisão, ou que deixe de repetir as rodas de moinho que a intelectualidade contuma repartir entre seus fregueses, porque ficaria com a mente em branco. Continue acreditando que a recente lei de telecomunicações vai democratizar a informação, que elevará a qualidade da programação, e que melhorará o serviço de telefonia celular.

 

Porque se você pensasse assim, nem sequer teria chegado até esta parte da saga “Eles e nós”, assim que, é um suposição, digamos que você é uma pessoa que se coloca com um coeficiente intelectual mediano e uma cultura progressista. Com essas características é muito provável que você pratique a dúvida metódica frente a tudo, assim que seria lógico supor que duvide do que aqui leu. E duvidar não é algo condenável, é um dos exercícios intelectuais mais sãos (e mais esquecidos) na humanidade. E mais ainda quando de trata de um movimento como o zapatista ou neo-zapatista, sobre o que se foi dito tantas coisas (a maior parte sem sequer ter se aproximado do que somos).

Pero si usted pensara así, ni siquiera habría llegado hasta esta parte de la saga “Ellos y Nosotros”, así que, es un supositorio, digamos que usted es una persona que se precia de un coeficiente intelectual promedio y una cultura progresista. Con esas características es muy probable que usted practique la duda metódica frente a todo, así que sería lógico suponer que dude de lo que aquí ha leído. Y dudar no es algo condenable, es uno de los ejercicios intelectuales más sanos (y más olvidados) en la humanidad. Y más cuando se trata de un movimiento como el zapatista o neo-zapatista, sobre el que se han dicho tantas cosas (la mayor parte sin siquiera haberse acercado a lo que somos).

 

Deixemos de lado um fato, que foi constatável até pelos grandes meios de comunicação: dezenas de milhares de indígenas zapatistas tomando, de forma simultânea, 5 municípios do estado do sudeste mexicano, Chiapas.

 

Embora, já cheios de dúvidas, se nada mudou nas comunidades zapatistas, porque continuam crescendo? Não tinham dito todos que era coisa do passado, que os erros do EZLN (ok, ok, ok, de marcos) tinham custado sua existência (midiática, mas isso não disseram)? Não tinha debandado a direção zapatista? Não tinha desaparecido o EZLN e só ficava dele a insistente memória de quem, fora de Chiapas, sentem e sabem que a luta não é algo sujeito aos vai-e-vem da moda?

 

Ok, colocamos como óbvio este fato (o EZLN cresceu exponencialmente nesses tempos em que não estava na moda), e abandonemos a tentativa de colocar essas dúvidas (só servirão para que seus comentários nos artigos da imprensa nacional sejam editados ou os destaquem para você “para sempre jamais”).

 

Retomamos a dúvida metódica:

 

E se essas palavras, que apareceram nestas páginas como de homens e mulheres indígenas zapatistas, na realidade são autoria de Marcos?

 

Quer dizer, e se Marcos simulou que eram outr@s @s que falavam e sentiam essas palavras?

 

E se essas escolas autônomas na realidade não existem?

 

E se os hospitais, e as clínicas, e a prestação de contas, e as mulheres indígenas com cargo, e a terra trabalhando, e a força aérea zapatista, e…?

 

Sério: e se nada do que aí dizem essas indígenas, esses indígenas existem realmente?

 

Em resumo, e se tudo não é nada mais que uma monumental mentira, levantada por marcos (e Moisés, já que estamos nessa) para consolar com quimeras @s esquerdistas (suj@s, fei@s, maus, irreverentes, não esqueça) que nunca faltam e que sempre são uns quantos, poucos, pouquíssimos, uma minoria desprezível? E se o submarcos inventou tudo isso?

 

Não seria bom confrontar essas dúvidas e seu são ceticismo com a realidade?

 

E se fosse possível que você visse diretamente essas escolas, essas clínicas e hospitais, esses projetos, essas mulheres e esses homens?

 

E se você pudesse escutar diretamente esses homens e mulheres, mexican@s, indígenas, zapatistas, esforçando-se em falar-lhes em espanhol e explicando-lhes, contando-lhes sua história, não para convencê-lo ou para recrutá-lo, só para que você entenda que o mundo é grande e tem muitos mundos em seu interior?

 

E se você pudesse concentrar-se só em olhar e escutar, sem falar, sem opinar?

 

Você tomaria esse caminho ou você continuaria no refúgio do ceticismo, esse sólido e magnífico castelo das razões para nada fazer?

 

Solicitaria ser convidado e aceitaria o convite?

 

Assistiria você a uma escolinha em que as professoras e os professores são indígenas cuja língua materna está tipificada como “dialeto”?

 

Aguentaria a vontade de estudá-lo como objeto da antropologia, da psicologia, do direito, do esoterismo, da historiografia, de fazer uma reportagem, de fazer uma entrevista, de dizer-lhes sua opinião, de dar conselhos, ordens?

 

Olharia a eles, quer dizer, os escutaria?

 

-*-

 

As sombras.

 

De um lado desta luz que agora brilha, não se adverte a forma irregular das sombras que a fizeram feito possível. Porque outro dos paradoxos do zapatismo é que não é a luz a que produz as sombras, mas são dessas das quais a luz nasce.

 

Mulheres e homens de rincões distantes e próximos em todo o planeta fizeram possível não só o que vai se mostrar, também enriqueceram com seus olhares o andar destes homens e mulheres, indígenas e zapatistas, que agora levantam de novo a bandeira de uma vida digna.

 

Indivíduos, indivíduas, grupos, coletivos, organizações de todo tipo, e em diferentes níveis, contribuíram para que este pequeno passo d@s mais pequen@s se realizasse.

 

Dos 5 continentes chegaram os olhares que, de baixo e à esquerda, ofereceram respeito e apoio. E com estas duas coisas não só se levantaram escolas e hospitais, também se levantou o coração indígena zapatista que, assim, se somou a todos os rincões do mundo através dessas janelas irmãs.

 

Se há um lugar cosmopolita em terras mexicanas, talvez seja a terra zapatista.

 

Diante de tal apoio, não correspondia menos que um esforço de igual magnitude.

 

Acredito, acreditamos, que toda essa gente de México e do mundo pode e deve compartilhar como própria esta pequena alegria que hoje caminha com rosto indígena nas montanhas do sudeste mexicano.

 

Sabemos, sei, que não esperam, nem exigem, nem demandam, mas como queira, lhes mandamos um grande abraço, que assim é como os zapatistas, as zapatistas, agradecemos entre companheir@s (e de maneira especial abraçamos a quem sim souberam ser ninguém). Talvez sem se proporem, vocês foram e são, para todas, todos nós, a melhor escola. E não falta dizer que não deixaremos de nos esforçar para conseguir que, sem importar seu calendário e sua geografia, respondam sempre afirmativamente a pergunta de que se vale a pena.

 

A todas (lamento desde o profundo de minha essência machista, mas as mulheres são maioria quantitativa e qualitativa), a todos: obrigado.

 

(…)

 

E bom, há sombras e sombras.

 

E as mais anônimas e imperceptíveis são umas mulheres e homens de baixa estatura e de pele cor da terra. Deixaram tudo o que tinham, ainda que fosse pouco, e se converteram em guerreiras, em guerreiros. Em silêncio e na obscuridade contribuíram e contribuem, como ninguém mais, para que tudo isso seja possível.

 

E agora falo das insurgentas e dos insurgentes, meus companheir@s.

 

Vão e vem, vivem, lutam e morrem em silêncio, sem fazer barulho, sem que ninguém, a não ser nós mesm@s, @s leve em conta. Não tem rosto nem vida própria. Seus nomes, suas histórias, talvez só venham à memória de alguém quando muitos calendários se tenham desfolhado. Então, talvez em torno de uma fogueira, enquanto o café ferve em um velho bule de estanho e se acende o fogo da palavra, alguém ou algo saúde sua memória.

 

E como queira, não importará muito, porque do que se tratava, do que se trata, do que se tratou sempre, é contribuir em algo para construir essas palavras com que costumam começar os contos, as anedotas e as histórias, reais ou fictícias, das zapatistas, dos zapatistas. Tal e como começou o que agora é uma realidade, quer dizer, com um:

 

“Haverá uma vez…”

 

Até. Saúde e que não falte, nunca, nem o ouvir nem o olhar.

(já não continuará)

 

Em nome das mulheres, homens, crianças, anciãos, insurgentas e insurgentes do

Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Das montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Março de 2013.

 

PS. QUE ADIANTA.- Continuarão saindo escritos, não se alegre de antemão. Principalmente serão do companheiro Subcomandante Insurgente Moisés, referentes à escolinha: datas, lugares, convites, inscrições, propedêuticas, regulamentos, níveis, uniformes, materiais escolares, qualificações, acessorias, onde conseguir os exames já resolvidos, etc. Mas se perguntam quantos níveis são e em quanto se chega a graduar, lhes dizemos: nós levamos mais de 500 anos e ainda não acabamos de aprender.

 

PS. QUE DÁ UM CONSELHO PARA IR À ESCOLINHA- Eduardo Galeano, um sábio na difícil arte de olhar e escutar, escreveu, em seu livro “Os Filhos dos Dias”, no calendário de março, o seguinte:

 

Carlos e Gudrun Lenkersdorf tinham nascido e vivido na Alemanha. No ano de 1973, esses ilustres professores chegaram no México. E entraram no mundo maya, numa comunidade tojolabal, e se apresentaram dizendo:

– Viemos aprender.

Os indígenas calaram.

Em um momento, alguém explicou o silêncio:

– É a primeira vez que alguém nos diz isso.

 

E aprendendo ficaram ali, Gudrun e Carlos, durante anos e anos.

 

Da língua maya aprenderam que não há hierarquia que separe o sujeito do objeto, porque eu bebo a água que me bebe e sou olhado por tudo o que eu olho, e aprenderam a saudar assim:

 

– Eu sou outro você.

– Você é outro eu.”

 

Faça caso a Dom Galeano. Porque é sabendo olhar e escutar, que se aprende.

 

PS. QUE EXPLICA ALGO DE CALENDÁRIOS E GEOGRAFIAS.- Dizem nossos mortos que tem que saber olhar e escutar tudo, mas que no sul sempre terá uma riqueza especial. Como terão dado conta os que puderam ver os vídeos (ficaram não poucos nos bolsos, para ver em outra ocasião) quem acompanharam os escritos desta série de “Eles e nós”, tratamos de rodar por diversos calendários e geografias, mas houve uma insistência em nosso respeitado sul latinoamericano. Não só pela Argentina e Uruguai, terras sábias em rebeldia, também porque, segundo nós, no povo Mapuche não só há dor e raiva, mas também inteireza na luta e uma profunda sabedoria para sabe olhar e escutar. Se tem um rincão no mundo para onde se deve fazer pontes, é o território Mapuche. Por esse povo, e por tod@s @s desaparecid@s e pres@s desse dolorido continente, continua viva a memória. Porque não sei se do outro lado dessas letras, mas sim desse lado: nem perdão, nem esquecimento!

 

 

PS SINTÉTICA.- Sim, sabemos, este desafio não foi e nem será fácil. Virão grandes ameaças, golpes de todo tipo e de todos os lados. Assim tem sido e será nosso caminhar. Coisas terríveis e maravilhosas compõem nossa história. E assim será. Mas se nos pergunta como podemos resumir em uma palavra tudo: as dores, as ansiedades, as mortes que nos doem, os sacrifícios, o contínuo navegar contra a corrente, as solidões, as ausências, as perseguições e, sobretudo, este insistente fazer memória de quem nos precedeu e já não estão mais, então é algo que une todas as cores de baixo e à esquerda, sem importar o calendário ou a geografia. E, mais que uma palavra, é um grito:

 

Liberdade… Liberdade! LIBERDADE!

 

Até de novo.

 

O sub guardando o computador e caminhando, sempre caminhando.

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Um poema de Mario Benedetti (que responde à pergunta de por quê, apesar de tudo, cantamos), musicalizada por Alberto Favero. Aqui na interpretação de Silvana Garre, Juan Carlos Baglietto, Nito Mestre. Nem perdão, nem esquecimento!

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=g6TVm-MuhL8

 

Camila Moreno interpreta “De la tierra”, dedicado ao lutador Mapuche, Jaime Mendoza Collio, assassinado pelas costas pelos carabineiros.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=SSVgl8QE8L0

 

Mercedes Sosa, a nossa, a de tod@s, a de sempre, cantando, de Rafael Amor, “Corazón Libre”. A mensagem é terrível e maravilhosa: jamais render-se.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gwlii20ZZd8

 

Eles e Nós. VII. @s menores. 6. A Resistência

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente


ELES E NÓS.

VII.- @s menores 6.

6.- A Resistência.

Março de 2013.



NOTA: Os seguintes fragmentos falam da resistência opa... um momento!... Existe uma Força Aérea Zapatista? O sistema de saúde zapatista é superior ao do mal governo!? Durante esses quase 20 anos, as comunidades zapatistas resistiram, com engenhosidade, criatividade e inteligência próprias, a todas as variáveis contra-insurgentes. A chamada "Cruzada contra a Fome", d@s capatazes priistas em turno, não faz senão reeditar a falácia de que o que os indígenas demandam são esmolas, e não Democracia, Liberdade e Justiça. Esta campanha contra-insurgente não chega sozinha, a acompanham a midiática (a mesma que na Venezuela de hoje reitera sua vocação golpista contra um povo que saberá tirar força de sua dor), a cumplicidade da classe política em seu conjunto (no que deveria se chamar "Pacto contra o México") e, claro, uma nova escalada militar e policial: em territórios zapatistas se tornam mais valentes os grupos paramilitares (com o aval do governo estatal), as tropas federais intensificam suas patrulhas provocadoras "para localizar a direção zapatista", as agências de "inteligência" se reativam, e o sistema de justiça reedita seu ridiculês (que rima com Cassez) ao negar ao professor Alberto Pathistán Gómez a liberdade, e assim condená-lo por ser indígena no México do século XXI. Mas o professor resiste, sem falar das comunidades indígenas zapatistas...

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Bom dia companheiros, bom dia companheiras. Me nome é Ana, da Junta de Bom Governo atual, da quarta geração 2011-2014, do Caracol I de La Realidad. Vou lhes falar um pouco da resistência ideológica, o subtema que trazemos nós dois, eu e o companheiro. Vou lhes falar da ideologia do mal governo. O mal governo utiliza todos os meios de comunicação para controlar e desinformar o povo, por exemplo a televisão, rádio, telenovelas, celulares, jornais, revistas e até o esporte. Com a televisão e o rádio colocam muitos comerciais para distrair as pessoas, as telenovelas para viciar as pessoas e para que acreditem que o que passa na TV vai acontecer com a gente. Na educação o sistema do mal governo, ideologicamente, os que não são zapatistas os manipula para que seus filhos estejam na escola bem uniformizados todos os dias, sem importar se sabe ler ou escrever, só para aparentar ou para que os vejam bem. Também lhes facilita bolsas para que tenham estudo, mas no fim das contas o único que se beneficia são as empresas que vendem todos os materiais e esses uniformes. Como resistimos a todos esses malefícios da ideologia do governo em nosso Caracol? Nossa arma principal é a educação autônoma. Em nosso Caracol se ensina aos educadores histórias verdadeiras relacionadas com o povo para que sejam transmitidas aos meninos e meninas, dando a conhecer também nossas demandas. Se começou também a dar palestras políticas a nossos jovens para que estejam despertos e não caiam tão fácil da ideologia do governo. Estão sendo dadas também palestras ao povo sobre as treze demandas, por parte de gente local de cada povo. Isto é o pouco que posso explicar e vai ficar com vocês agora o companheiro.

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(…)

Tem também aquilo dos programas, dos projetos de governo. O governo começa a colocar projetos como para que os irmãos recebam desses projetos e acreditem que isso é bom e para que eles comecem a receber isso e se esqueçam de seus trabalhos. Para que os irmãos já não dependam deles mesmos mas dependam do mal governo.

O que nós fazemos para resistir a essas coisas? Começamos a nos organizar para fazer trabalhos coletivos, como já disseram alguns compas que fazemos trabalhos coletivos desde o povoado, da região, nos municípios e até na zona. Estes trabalhos fazemos para satisfazer nossas necessidades de diferentes tipos de trabalhos e é como resistimos para não cair nos projetos do mal governo e que façamos nossos próprios trabalhos para depender de nós mesmos e não do mal governo.

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Lá tem um hospital grandinho em uma comunidade que se chama Guadalupe Tepeyac e agora mesmo está sendo construído muito perto, a meia hora de caminhada, uma hora, que é no centro de La Realidad, outro hospital que é infantil. Mas o que acontece, o que temos visto nesse hospital que está funcionando em Guadalupe Tepeyac? Apesar de que o governo têm todo o equipamento, chegam gente de diferentes comunidades, de diferentes municípios, e o que acontece? Acontece que precisam fazer um exame de ultra-som, por exemplo, ou uma análise de laboratório, então como os doutores dali sabem, sabem porque estão muito perto também do hospital que temos, o Hospital-Escola "Os Sem Rosto de San Pedro", que está perto de outra comundiade, então sabem que eles não podem fazer esses exames nesse hospital do governo porque não tem pessoal capacitado lá, tem a máquina mas não tem pessoal, então o que fazem eles é dar a consulta e os encaminha ao nosso hospital, ao hospital-escola zapatista. Se faz esse exame - até que nível estamos chegando companheiros -, se faz o exame e claro, também há regulamentos nesse hospital para cobrar uma cota de quem for, e se faz o exame.

Então a gente vai se dando conta, vai se admirando, que em um hospital oficial não tem o que muitos esperam, a solução de seu problema, então recorrem a nosso hospital, ainda que simples, como dissemos, mas aí é onde lhes dizem que problemas temos quando sai o exame de ultra-som, e também no caso do laboratório. Lá está o hospital de Guadalupe, mas não tem um especialista em laboratório, então tem muitas casos que não se pode fazer o exame e mandam para o nosso hospital-escola. Lá temos um companheiro que está capacitado e já capacitou mais vários companheiros, então ele faz diferentes exames. Mas não só isso, a vantagem que ele tem e que o outro não tem, o do hospital oficial, porque este só faz o exame é ponto, e o manda para outro doutor para que lhe dê um tratamento; então o que faz esse companheiro do hospital quando chega gente que é encaminhado dos médicos do hospital de Guadalupe é que faz o exame, e também lhe dá a receita, o tratamento de sua doença, porque ele tem muito conhecimento nessa área de laboratório.

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(…)

Para completar um pouco o que é da cidade rural [levantada, com o aplauso midiático, pelo governo de "esquerda" do corrupto Juan Sabines Guerrero], a princípio houve construções de casas. Segundo o que nos contam os companheiros é que as construções, ou seja, os materiais que fizeram as construções, são esses 'triplay', esses bem fininhos, não com as tábuas que temos aqui. Atualmente as construções estão infladas como balões, quando há ventos fortes e quando é época de calor e de chuva pois todos os materiais que estão construídas as casas atualmente já estão deteriorados. É o que é. Então em umas comunidades aí nesse município foram viver por uns dias as famílias, estiveram, e segundo as notícias da mídia tem uma cozinha que se construiu com a medida de 3X3, bem pequeno, e um quartinho, uma sala do lado. Mas não se pode fazer nada ali porque se fazem seu fogão ali, como se pode fazer fogão ou seu fogo ali? Não se pode.

Atualmente não está funcionando, foram por uns dias as famílias, mas o que sabemos é que tiveram que retornar à sua comundade. Algumas famílias estão ainda lá mas em condições muito ruins. Segundo dizem que ali num morrinho, logo acima de onde estão as construções, fizeram tanques de água, mas que não estão funcionando, companheiros, não estão funcionando. Dizem que tem um banco aí para investir o dnheiro, não sei se é banco mundial, estatal, municipal, não sei, mas não está funcionando. São só cascas já deterioradas.Não é como dizem a 'cidade rural', que o nome é muito bonito, mas realmente não tem nada. Por isso assim como diziam os companheiros, por que acreditamos nisso de que existem projetos e outras coisas? São puras mentiras.

(…)

Assim como diziam os companheiros, é parte da guerra do inimigo, por isso sim alguns companheiros dessa região se tem deixado convencer com essas ideias porque chegaram até aí, não é porque vão ter uma vida mais digna. Em muitos lados os que saem da organização ou os que estão nos partidos, mas tem tido uma vida melhor os companheiros das bases de apoio. A cidade rural são puras mentiras o que tem sido dito e o que estão fazendo lá.

Para fazer entender a manipulação ideológica que faz o mal goveno em Santiago El Pinar, prometeram às mulheres que lhes dariam granjas, de galinhas. Então vem que as granjas é com alimentação, quando lhes deram isso deram muitas galinhas para que ponham ovos, então muito bonito o início porque sem as galinhas começaram a pôr muitos ovos, mas o governo não fez o mercado onde vender. Puseram muitos ovos as galinhas e agora, o que fazemos? Não se pode fazer concorrência com as grandes empresas onde se vende os ovos. Então os irmãos nos contam que o que fizeram é que então vamos dividir, e repartiram mas então o governo não deu mais alimentação às galinhas, as galinhas começaram a ficar pálidas, começaram a deixar de pôr ovos. E então as mulheres dizem, 'então o que fazemos? Temos que cooperar. Mas como vou cooperar se os ovos eu já comi? onde vou encontrar dinheiro?'. Aí as galinhas morreram, não deu resultado o que diz o mal governo. É nada mais para que cheguem as câmeras que filmem sim que nos entregaram, é muito bonito e não sei o que. Mas isso nada mais que um mês, dois meses, três meses e se acabou.

Assim entre mais outras coisas está o problema, como o compa está dizendo, que as casas não servem porque enchem, como disse, como sapo. As mulheres estão acostumadas a fazer sua tortilla, seja com fogão ou com fogo no chão, mas é chão de terra, nesse caso é chão de madeira, triplay, não se pode fazer fogo ali. Então o botijão que deram não se sabe mexr, botijão de gás não dura nem um mês, então estão vazios os botijões, não serve para nada. Depois vem que a vida dos camponeses, indígenas é que atrás de sua casa tem a verdura, a cana, a pinha, a batata, o que seja, que é nosso modo de vida, mas aqui não tem, é simplesmente a casa e ponto. Não sabem o que fazer mas já foram retirados do terreno onde vivem, então tem que ir trabalhar mas é gasto outra vez para ir e vir. 

A política do mal governo é acabar com a vida comum, a vida comunitária, é que deixe seu terreno ou que o venda, agora se você vende está ferrado. É uma política de injustiça, é de criar mais miséria. Todos os milhões que recebem da ONU, que é a Organização das Nações Unidas, o mal governo, tanto estatal, municipal e federal, ficam com eles para organizar os que provocam problemas nas comunidades, sobretudo com a gente que somos bases de apoio. 

É a continuação da política, que se falava muito, agora já não querem que se fale, já não falam na mídia, que é o Plan Puebla-Panamá. Agora tem outro nome que estão falando porque se atacou muito o Plan Puebla-Panamá, mas é a mesma coisa, só mudaram de nome para continuar individualizando as comunidades, para acabar o comum que se pode ficar ainda.

(…)


-*-

É mais ou menos assim que se está fazendo nos trabalhos na resistência, porque estamos falando da resistência. E nesses trabalhos às vezes os companheiros que trabalharam no milho ou no café, ou se já tem o seu gado, às vezes vende seu animal fica com um pouco de recurso econômico e como o mal governo está nos atacando com seus projetos de pisos firmes, de moradia, de melhoramento de moradia, outras coisas que recebem esses irmãos priistas, partidários em outras comunidades. 

Mas acontece que eles já estão acostumados muito com o dinheiro, como que seu olhar já está mais com o governo, que venha mais dinheiro e nesses projetos que recebem, como explicaram alguns companheiros de Garrucha, assim está acontecendo também no Caracol de Morelia. Às vezes esses irmãos vendem a lâmina e é um projeto de governo, o governo pensa que está melhorando seu partido mas está saindo ao contrário, o fruto do trabalho dos companheiros que estamos em resistência, pois aí chegam a vender esses partidistas.

Digamos um exemplo em uma folha de lâmina pois o melhor na loja está em 180 pesos, mas chegam a vender até em 100 pesos, 80 pesos; e recebem blocos para construção, pode ser que nas lojas estão a 5, 6, ou 7 pesos, mas eles chegam a vender até 3 pesos, 2 pesos. E os companheiros, nós, como estamos na resistência não estamos acostumados a gastar o fruto de nosso trabalho, são eles os que compram e pode ser que ao melhor algum dia vocês vão ver em alguns novos centros de povoados que a lâmina é de cor, mas realmente saiu do trabalho dos companheiros. É assim o que está acontecendo também lá.

Mas também o governo se deu conta pra onde está indo seu projeto. Não está beneficiando os partidários, os priistas, mas que os zapatistas estão aproveitando, é aí onde manda suas construções de moradia, mas já não só entregam o material mas que já vai o pedreiro. Chegando o material já está o pedreiro porque já se deu conta que sim se está melhorando suas casas os zapatistas, é por isso que vai mudando, são muitas formas que está usando o mal governo que passou de 94 até aqui.

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Bom compas, de novo outra vez a explicar o que é a resistência militar, por exemplo o que explicou já a companheira. A mim me toca explicar o que passou em 1999 no ejido Amador Hernández, município General Emiliano Zapata.

Nessa época um dia de 11 de agosto chegaram os militares e companheiras e companheiros resistimos o que foi essa entrada dos militares. Como eles queríam tomar o que é a comunidade, em um salão de festa chegaram os militares e o que fizeram as companheiras foi enfrentá-los; os tiraram da comunidade e os colocaram para fora da comunidade. Mas continuou, se fez um plantão. Aí participou todo o que é a zona, o que é do Caracol La Realidad. Nessa resistência também chegaram os da sociedade civil e toda essa resistência se aguentou porque era tempo de lama, como esse tempo de chuva. Tudo isso e não caímos em suas provocações, não nos enfrentamos militarmente mas pacificamente chegamos frente a eles.

O que se organizava nesse plantão, se faziam bailes, dançávamos em frente aos militares. E se faziam cultos religiosos, se faziam programas de eventos dos compas, de repente dávamos palestra política da luta.

O que fizeram os militares? Começaram como que os convencíamos porque estamos de frente pra eles, então o que fez os mandos militares do exército foi colocar uns alto-falanes para que não escutassem nossas palavras e os retiraram um pouco mais.

O que aconteceu então? È que os companheiros voltaram a inventar, acho que tinham escutado os aviõezinhos de papel, escrevendo porque do plantão e jogávamos assim para os militares. Foi quando se fez a primeira força aérea do Exérrcito Zapatista em Amador Hernández, mas são de puro papel.

(…)

Tudo isso, compas, aconteceu nessa resistência militar e como fazíamos empurrões aos militares, companheiros e companheiras em frente e os militares em duas filas, e tinha um compa que, um rapazinho o compa, como os militares nos empurravam com seus escudos e tinham esses toletes que dizem, nos empurravam e o compa então pisava no pé do militar, e pisavam nele também. Como estava outro soldado mais grandinho assim como que deu curiosidade de rir, começou a rir porque o compa pisava o pé do outro, e o pisavam também. E começou a rir o militar e o compa rapazinho disse ao soldado “de que você tá rindo rapaz?”, e era maior o soldado e mais pequeno o compa.

(…)

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Isso é  que eu consegui ver e estamos vendo. O resultado sim aí está. Não em vão que comemos torradas para entrar e a torrada sim dá força e dá sabedoria. Aí se utilizou muito do que é o coletivismo, porque falo dessa forma, companheiros? Me desculpem a palavra companheiras, aí aprendemos com muitos dos companheiros em cada povo, em cada município, para enfrentar os malditos soldados que tem dentro de nossos lugares, que chegam a nos hostilizar. Aí aprendenram as companheiras a se defender, não sei, com pauladas tem que tirar os soldados, a força, com pedra ou com gritaria assim fizeram. Assim se organizaram as companheiros, eu vi e tenho presente que as companheiras se convenceram a enfrentar, demonstraram que as companheiras podem sim.

(…)

-*-

As autoridades também começaram a mudar e a receber nossas necessidades que vamos apresentando em cada povo, em cada região, em cada centro, no município. Assim fomos trabalhando pouco a pouco, avançando. Já quando está formado começamos a criar, a iniciar o trabalho de saúde e educação, então como disse a companheira, temos já a clínica no município, a “Companheira Maria Luísa” [nome de luta de Deni Prieto Stock, caída em combate em 14 de fevereiro de 1974 em Nepantla, Estado de México, México] e no ejido San Jerónimo Tulijá se chama “Companheira Murcia Elisa Irina Sáenz Garza”, uma companheira que lutou, que morreu em combate no tancho El Chilar [na Selva Lacandona, Chiapas, México, em fevereiro de 1974], aqui perto de onde estamos, em nossa fronteira ali onde eles morreram, esse nome que a clínica levou.

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Dení Prieto Stock “Murcia”


Elisa Irina Sáenz Garza “Murcia”

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(Continuará...)
Dou fé.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Março de  2013

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TOP SECRET. Treinamento da Força Aérea Zapatista (FAZ, por suas siglas em espanhol) em algum lugar das montanhas do Sudeste Mexicano.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BliFqcIgdqs

Uma mostra maisdo ânimo guerreiro inculcado nos meninos e meninas nas comunidades indígenas zapatistas em resistência: aqui lendo “O engenhoso Hidalgo Don Quixote de La Mancha”, de um tal Miguel de Cervantes Saavedra, que deve ser algum acessor militar estrangeiro soviético.... Já não há URSS? Não te digo, uma mostra mais de que estes indígenas são desesperadamente pré-modernos: lêem livros! Certamente o fazem por serem subversivos porque com Peña Nieto ler livros é um delito.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=zlQJTI1p47k

Canto de dor e raiva de uma mãe Mapuche ao perder seu filho assassinado pelos carabineiros do Chile.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=5MA-Dt6tDn8

Canção para os Caracóis do EZLN, de Erick de Jesús. No inicío do vídeo, palavras das mulheres zapatistas.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=EYdSJVQP0ug

Eles e Nós. VII. @s menores

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

Eles e nós.

VII.- @s menores.

Introdução.

Fevereiro de 2013.

Há vários anos, enquanto na política de acima se disputava o butim de uma Nação em pedaços, enquanto os meios de comunicação calavam ou mentiam sobre o que abaixo destes céus acontecia, enquanto os povos originários saíam de moda e voltavam ao rincão do esquecimento: suas terras saqueadas, seus habitantes explorados, reprimidos, expropriados, desprezados…

Os povos indígenas zapatistas,

cercados pelo exército federal, perseguidos pelas polícias estatais e municipais, agredidos pelos grupos paramilitares formados e equipados pelos diferentes governos de todo o espectro político do México (PRI, PAN, PRD, PT, PVEM, MC e os diferentes nomes que os parasitas da classe política mexicana tomam), acossados por agentes das diferentes centrais de espionagem nacionais e estrangeiras, vendo seus homens e mulheres, bases de apoio do EZLN, golpead@s, roubad@s e encarcerad@s…

Os povos indígenas zapatistas,

sem alarde,

sem mais imperativos que o dever,

sem manuais,

sem mais líderes que não nós mesm@s

sem outro referente que não seja o sonho de nossos mortos,

só com as armas da história e da memória,

olhando perto e longe nos calendários e geografias,

com o caminho de Servir e não se Servir / Representar e não Suplantar / Construir e não Destruir / Obedecer e não Mandar / Propor e não Impor / Convencer e não Vencer / Descer e não Subir.

 

Os povos zapatistas, os indígenas zapatistas, as indígenas zapatistas, as bases de apoio do EZLN, com uma nova forma de fazer política,

fizemos,

fazemos,

faremos,

a liberdade.

A LIBERDADE

NOSSA LIBERDADE!

 

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Nota de esclarecimento:

Os textos que irão aparecendo nesta sétima e última parte de “Eles e Nós” são fragmentos retirados do “Caderno de Texto de Primeiro Grau do Curso A Liberdade segundo @s Zapatistas. Governo Autônomo I” e “Caderno de Texto de Primeiro Grau do Curso A Liberdade segundo @s Zapatistas. Governo Autônomo II”, versão em espanhol SOMENTE para compas da Sexta (esperamos que haverá versões nas línguas originárias que determine o Congresso Nacional Indígena, assim como em inglês, italiano, francês, português, grego, alemão, basco, catalão, árabe, hebraico, galego, kurdo, aragonês, dinamarquês, sueco, finlandês, japonês e outras línguas, segundo nos apóiem @s compas da Sexta no mundo que sabem isso das traduções). Estes cadernos formam parte do material de apoio para o curso que as bases de apoio zapatistas darão a compas da Sexta no México e no mundo.

 

Todos os textos são de autoria de homens e mulheres bases de apoio zapatistas, e expressam não só parte do processo de luta pela liberdade, mas também suas reflexões críticas e autocríticas sobre nossos passos. Quer dizer, assim vemos as zapatistas, os zapatistas, a liberdade e nossas lutas para consegui-la, exercê-la, defendê-la.
Como já explicou nosso companheiro Subcomandante Insurgente Moisés, noss@s compas bases de apoio zapatistas vão compartilhar o pouco que temos aprendido da luta pela liberdade, e @s compas da Sexta aí verão o que lhes serve e o que não para suas lutas.

 

A aula da escolhinha zapatista, agora já sabem, se chama “A Liberdade segundo @s Zapatistas”, e será dada diretamente por companheiros e companheiras bases de apoio do EZLN, que desempenharam os diferentes cargos de governo, vigilância e cargos de diferentes responsabilidades na construção da autonomia zapatista.
Para poder ingressar na escolhinha, além de ser convidad@s, @s compas da Sexta e convidad@s especiais, deverão ter alguns cursos preparatórios, prévios ou propedêuticos (o como se diz o equivalente à pré-escola ou jardim de infância), antes de passar ao “primeiro grau”. Estes cursos serão dados por compas das equipes de apoio da Comissão Sexta do EZLN e não tem outro objetivo a não ser dar-lhes os elementos básicos da história do neo-zapatismo e sua luta por democracia, liberdade e justiça.
Nas geografias onde não há compas de equipe de apoio, se fará chegar os temas para que @s convidad@s se preparem.
As datas e lugares, quer dizer, os calendários e as geografias nas quais os cursos serão dados pelas bases de apoio zapatistas serão dados a conhecer em sua oportunidade, sempre tomando especial consideração a situação de cada convidad@ individual, grupo ou coletivo.

Todas as convidadas e convidados ao curso o receberão, sem importar se podem vir ou não a terras zapatistas. Estamos vendo a forma e o modo de chegar até seus corações sem importar seu calendário e sua geografia. Assim não tenham vergonha.
Saúde e, de todo modo, prepare o coração, e sim, também o caderno e o lápis.

Desde as Montanhas do Sudeste Mexicano.

SupMarcos.

México, Fevereiro de 2013.

PS.: QUE DÁ LIÇÕES DE BOA EDUCAÇÃO.- Esta sétima e última parte da série “Eles e Nós” consta, por sua vez, de várias peças e são SOMENTE para compas da Sexta. Junto com a parte V (que, como sua numeração indica, tem o título “A Sexta”) e o final da parte VI.- Olhares 6: “Eles Somos”, forma parte da correspondência particular que o EZLN, através de seus voceros(1), dirige a seus compas da Sexta. Nessas partes, e nesta, se assinala com claridade que é o destinatário.

A quem não são compas e tratam de zombar, polemizar, discutir ou replicar, lembramos que isso de ler e comentar a correspondência alheia é coisa de fofoqueir@s e/ou de polícia. Assim que vejam em qual categoria entram. Além disso, com seus comentários só refletem um racismo vulgar (são tão críticos à TV e só repetem seus clichês), expressam uma redação lamentável e reiteram sua falta de imaginação (que é uma consequência da falta de inteligência… e de sua pressa para ler). Embora, claro, agora terão que ampliar a cantoria de “marcos não, ezln sim” e passar a “marcos e moisés não, ezln sim”; depois “CCRI-CG não, ezln sim”. Depois, se chegarem a conhecer as palavras diretas das bases de apoio zapatistas (o que eu duvido) terão que dizer “ezln não, ezln também não”, mas já vai ser muito tarde.

Oh, não fiquem tristes, quando colocarmos vídeos musicais de Ricardo Arjona, Luis Miguel, Justin Bieber ou Ricky Martin, poderão se sentir convocados. Enquanto isso esperem sentados, continuem olhando o calendário de acima (3 ou 6 anos passam rápido), movam-se um pouco mais à direita (certo, já estão acostumados), e fiquem de um lado, não vamos respingar…

 

¡Órales razaaaaa! ¡Yvenga a darle al baile! ¡Ajúa!

(1): Voceros: porta-vozes; vozeiros. Optou-se por manter o termo em espanhol, pois este já é quase um conceito acerca daquel@s que fazem ecoar as palavras zapatistas.

 

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Escute e veja os vídeos que acompanham este texto:

 

La Estrella del Desello” com Eulalio González El Piporro. A canção aparece também, em uma versão mais curta, no filme “La Nave de los Monstruos” (1959, de Rogelio A. González). Não traz nada de ezetaelene, inseri aqui sem teimosia, e para saudar às/aos compas do norte e que não fiquem tristes, ainda que estejam longe @s vamos olhar. ¡Ajúa!

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ticsxPf3-3c

 

“La Despedida” com Manu Chao e Radio Bemba, em uma comunidade indígena zapatista.

 

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Co-XQm9NDd0

 

“Brigadistak” com Fermín Muguruza. Na luta contra o Poder, não há fronteiras! ¡Marichiweu!

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=sVB0M5RgvWs&list=PL_836k-Dgy4-OrmJCZOezrl3DJQE6NaT-

 

Eles e Nós. VI. Os olhares. 3. Alguns outros olhares

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS
VI.- Os Olhares 3.
3.- Alguns outros olhares
Um: Um sonho à vista
É uma rua,  um milharal, uma fábrica, um tunel, um bosque, uma escola, uma loja de departamento, um escritório, uma praça, um mercado, uma cidade, um campo, um país, um continente, um mundo.
O Chefão está gravemente ferido, a máquina quebrada, a besta exausta, a selvagem presa.
De nada serviram as mudanças de nome e de bandeiras, os golpes, os cárceres, os cemitérios, o dinheiro fluindo pelas mil artérias da corrupção, os “reality shows”, as celebrações religiosas, os anúncios pagos, os exorcismos cibernéticos.
O Chefão chama seu último capataz. Alguma coisa te sussurra no ouvido. O capataz sai e enfrenta a multidão.
Diz, pergunta, demanda, exige:
“Queremos falar com o …”
Hesita, a maioria das que o enfrentam são mulheres
Corrige:
“Queremos falar com a …”
Volta a hesitar, não é pequeno o número de outr@s que o enfrentam
Volta a corrigir:
“Queremos falar com quem está no comando”
Pelo silêncio se aproximam uma/um anciã/o e uma criança, param em frente ao capataz e, com uma voz inocente e sábia, dizem:
“Aqui todas e todos mandamos”
O capataz estremece, e estremece a voz do Chefão no seu último grito.
O olhar desperta. “Sonho estranho”, diz. E, sem importar o calendário e a geografia, segue a vida, a luta, a resistência.
Do estranho sonho só se lembra de umas palavras:
“Aqui todas e todos mandamos”.
Dois: Outro olhar desde outro calendário e outra geografia
(fragmento de uma carta recebida no quartel general de ezetelene, sem data)
“Saudações Compas.
(…)
Minha opinião é que tudo foi um monte de porcaria. Mas não nego que isso tudo é em retrospectiva. Seria muito fácil dizer que entendi perfeitamente o silêncio e que nada me surpreendeu. Falso, eu também me fiquei impaciente com o silêncio (desde já, não tem a ver com o que dizem que os zapatistas não falavam antes, eu sim li todas as denúncias). A questão é que visto com a vantagem dos fatos que passaram, e que estão passando, desde já a conclusão é lógica: estamos no meio da iniciativa mais audáz, ao menos desde a inssureição, dos zapatistas. E isso tem a ver com tudo, não só com a situação nacional, mas também internacional, creio eu.
 
Permitam-me que conte o que entendi do que, do meu ponto de vista, foi o feito mais significativo da ação de 21 [de dezembro de 2012]. Desde já, há muitas coisas: a organização, o esforço militante, a demonstração de força, a presença dos jovens e mulheres etc. Mas a mim, o que mais impressionou foi que marcharam carregando umas tábuas de madeira e que, chegando nas praças fizeram uns palanques. Conforme ia se narrando o que acontecia, muitos meios privados, e alguns livres, especulavam sobre a chegada dos líderes zapatistas. E não se davam conta de que os líderes zapatistas estavam ali. Que eram os povos que subiam no palanque e diziam, sem falar, aqui estamos, isso somos, isso seremos.
 O palco tocou aos que devia tocar. Ninguém reparou, creio eu, neste fato e, sem dúvida, creio eu, aí está, em poucas palavras, o significado profundo de uma nova forma de fazer política. O que rompe com todo o velho, o único verdadeiramente novo, o único que merece a pena ter [ilegível no original] “século XXI”.
A alma plebéia e libertária do que tem sido na história momentos conjunturais, aqui se construiu sem grandes alardes teóricos. Mas bem com uma prática enraizada. Já vem de vários anos para ser rotineiro. Já é um processo histórico social grande e sólido no terreno da auto organização.
Finalmente recolheram seu palanque, voltaram a transformar-se em tábuas e todos devíamos ter um pouco de vergonha e ser mais modestos e simples e reconhecer que algo inesperado e novo está a frente de nossos olhos e devemos olhar, calar, escutar e aprender.
Um abraço para tod@s. Espero que, dentro do possível, estejam bem.
 O Chueco.”
 
três: “Instruções sobre o que fazer em caso de … que te olhem”
Se alguem o olha, a olha, e você se dá conta de que …
Não te olha como se você fosse transparente.
Não quer convence-l@ que sim ou que não.
Não quer te cooptar.
Não quer te recrutar.
Não quer te dirigir.
Não quer te julgar-condenar-absolver.
Não quer te usar.
Não quer te dizer o que pode ou não fazer.
Não quer te dar conselhos, recomendações, ordens.
Não quer te recriminar porque não sabes, tampouco porque sabes.
Não te despreza.
Não quer te dizer o que deve ou não deve fazer.
Não quer comprar seu carro velho, sua cara, seu corpo, seu futuro, sua dignidade, sua vontade.
Não quer te vender algo.
(um tempo negociado, uma televisão lcd em 4D, uma máquina super-ultra-hiper-moderna com botão de crise instantânea (veja bem: não confunda com o botão de ejeção, porque a garantia não inclui amnésia por ridículos midiáticos), um partido político que muda de ideologia segundo o vento, um seguro de vida, uma enciclopédia, uma entrada vip para o espetáculo ou revolução ou céu da moda, um móvel em parcelas pequeninas, um plano de telefonia celular, uma membresia exclusiva, um futuro dado pelo líder generoso, um álibi para render-se, vender-se, mancar, um novo paradigma ideológico, etc.).
Então…
Primeiro.- Descarte que se trata de um depravado ou depravada. Você pode ser o quão suja, feia, má e grosseira quiser, mas, seja o que for de cada um, tenha esse toque sexy e gozador dest@s que trabalham muito, e esse “isso” pode despertar as baixas paixões de qualquer um/a. Mmh… Bom, sim, uma penteada não seria mal. Se não se trata de um/a depravad@, não desanime, o mundo é redondo e dá voltas, e segue mais abaixo (desta linha, se entende)
Segundo.-   Você está segur@ de que é para você que olham? Não estará olhando esse anúncio de desodorantes que está às suas costas (de você, se entende)? Ou não será que está pensando (quem te olha, se entende): “Acho que é assim que fico quando não me penteio“? Se descartou isso, continue.
Terceiro.-   Não tem cara de polícia tentando completar o pagamento que tem que  reportar  ao seu superior? Sim sim, corra, ainda está em tempo de não  perder o de  passagem. Se não, passe ao ponto seguinte.
Quarto,- Devolva-lhe o olhar, com sinal severo. Uma olhada mistura de nojo, dor de barriga, incômodo e look de  assassin@ em série vai servir. Não, assim parece ursinh@ constipad@.  Volte a tentar. Ok, passável, mas siga praticando. Agora, não foge apavorad@?, não desvia o olhar?, não se aproxima exclamando “ti@ juanch@! Não te reconhecia! Mas com esse gesto…”? Não? Ok, continue.
Quinto.-  Repita os passos primeiro, segundo, terceiro e quarto. Podem haver  falhas em nosso sistema (que, claro, é feito na China). Se volta a  chegar nesse ponto, passe ao seguinte:
Sexto.-  Você tem grande possibilidade de ter topado com alguém da Sexta. Não  sabemos se felicitar-lhe ou dar-lhe os pêsames. Em todo caso, é sua  decisão e sua responsabilidade o que acompanha este olhar.
quatro: Um olhar a um posto zapatista.
(calendário e geografia sem precisar)
O SupMarcos: Deve-se apurar porque se acaba o tempo.
A insurgenta de sanidade: Escute Sup, o tempo não se acaba, se acabam as pessoas. O tempo vem de muito distante e segue seu caminho até láaaaaa, onde não podemos olhar. E nós somos como pedacinhos de tempo, ou seja o tempo não pode caminhar sem nós. Nós é que fazemos com que o tempo caminhe, e quando nos acabamos vem outro e empurra um outro tanto ao tempo, até que se chega aonde se tem que chegar, mas não vamos ver onde é que chega senão que outros vão ver se é que chega cabal ou de repente não alcançou a força para chegar e outra volta que tem que empurrá-lo outra vez, até que chegue por si.
(…)
(…)
A capitã de infantaria: E por que demoraste tanto?
A insurgenta da sanidade: É  que estava dando a “aulas” sobre política ao Sup, , ou seja o estava ajudando para que explique bem que é preciso olhar distante, até onde não nos alcança nem o tempo nem o olhar.
A capitã de infantaria: Aham, e então?
A insurgenta da sanidade: Me castigou porque não cumpri com meus trabalhos e me mandou para o correio.
(…)
cinco: Extrato dos “Apontamentos para olhar o Inverno”
(…)
E  sim, tod@s subiram ao palanque com o punho ao alto. Mas não olharam bem.  Não viram o olhar desses homens e mulheres. Não viram que, quando  cruzavam por cima, voltavam o olhar até abaixo e viam suas dezenas de milhares de companheiros. Ou seja, olhavam a si mesmos. Lá em cima não nos olharam olhando-os. Lá acima não entenderam, nem entenderão nada.
(…)
seis: Ponha você sua olhada (ou seu xingamento, desde que não seja de menta).
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(Continuará…)
Desde qualquer canto de qualquer mundo.
SupMarcos.
Planeta Terra.
México, Fevereiro de 2013.
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Escucha y ve los videos que acompañan este texto.
Escute e veja os videos que acompanham esse texto.
Daniel Viglietti e Mário Benedetti interpretam “a la limón” a canção “La Llamarada” e o poema de Benedetti “Pregón”, Concerto em Montevideo, Uruguai, América Latina, Planeta Terra. Ao começar, Daniel faz um reconhecimento de tod@s @s que não estão no palco, mas fazem com que seja possível Daniel e Mário estarem. Quase no fim, podem escutar Mário Benedetti cantando, cantando-se, cantando-nos e, sem importar o calendário e a geografia, vice versa.
Amparanoia interpreta “Somos Viento”. Em uma parte, Amaparo Sánces diz “Ik´otik”, que em tzeltal quer dizer “somos vento”.
Amparo Ochoa, voz que ainda ecoa em nossas montanhas, interpretando “Quién tiene la voz”, de Gabino Palomares.

Eles e Nós. VI. Os Olhares. 2. Olhar e escutar de e para abaixo

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS

VI.- Os Olhares 2.

2.- Olhar e escutar de e para abaixo.

Podemos todavia escolher para onde e desde onde olhar?

Podemos, por exemplo, escolher entre olhar quem trabalha na rede de supermercados, reclamar aos trabalhador@s de serem cúmplices da fraude eleitoral, e fazer escárnio do uniforme laranja com que obrigam a vestir-se @s empregad@s, ou olhar a empregada que, depois de entregar a conta…?

/ A caixa vai e tira o avental laranja, resmungando pela coragem que lhe deu que reclamassem dela ser cúmplice da fraude que levou ao Poder a ignorância e a frivolidade. Dela, mulher, jovem ou madura ou mãe ou solteira ou divorciada ou viúva ou mãe solteira ou esperando ou sem filhos ou o que seja, que entra no trabalho às 7 da manhã e sai às 4 da tarde, claro, se não tem horas extras, e sem contar o tempo de casa para o trabalho e a volta, e logo ao ir à escola ou à casa, os “trabalhos-próprios-de-seu-sexo-se-pode-fazer-com-um-toque-de-vaidade”, leu em uma das revistas que estão ao lado do caixa, em um dia que não havia muita gente. Ela, a quem se supõe que esses vão salvar, questão de um voto e pronto, a felicidade. “Por acaso os donos se vestem com o avental laranja?”, murmura irritada. Ela arruma um pouco o desalinho proposital com que chega para trabalhar para que o gerente não a moleste. Sai. Lá fora espera sua companhia. Se abraçam, se beijam, se tocam com o olhar, caminham. Entram em um café-internet ou cibercafé ou como se diga. 10 pesos a hora, 5 meia hora… /

Meia hora – dizem, fazendo mentalmente contas do orçamento-tempo-do metrô-ônibus-caminhar.

Pendura Roco, não seja pão-duro – diz ele.

– Tá bom, mas em quinze dias você paga, se não o patrão cai em cima de mim e você que vai me fazer fiado.

Tá bom, mas será quando tenha carro, cara, porque estou de lava-rápido.

– Então lave, cara! – diz Roco.

Riem os 3.

– A número 7 – diz Roco.

– Anda, procura – diz ela.

Ele põe um número.

– Não – diz ela -, procura quando começou tudo.

Navegam. Chegam quando são um pouco mais de 131. Colocam o vídeo.

– São morangos – diz ele.

Acalme-se vanguarda revolucionária. Você está mal da cabeça se julga as pessoas por sua aparência. Se me chamam, por ser de pele clara, de moranguinho, e não veem que mal chego ao dia 15 do mês. Tem que ver a história de cada um e o que faz, bestadiz ela, acompanhando a argumentação com um tapa.

Continuam assistindo.

Olham, calam, escutam.

– Depois que cantaram em frente a esse Peña Nieto… são valentes, sim, se vê que têm culhões –, diz ele.

– E ovários, imbecil – outra alfinetada dela para ele.

– Vê lá minha rainha, vou te denunciar por violência intrafamiliar.

– Será violência de gênero, imbecil – e outro tapa.

Acabam de ver o vídeo.

Ele: – É assim que começam as coisas, com uns poucos que não tem medo.

Ela: – Ou se tem medo, o controlam.

– Meia hora! – grita Roco.

– Sim, vamos.

Ela vai rindo.

– E agora ri de quê?

– De nada, estava me lembrando – chega mais perto dele – disso que disse de “intrafamiliar”. Quer dizer como quem diz que você quer que sejamos família?

Ele nem duvida:

– Calma, minha rainha, pra logo, já estamos indo, mas sem tantos tapas, melhor beijinhos, e mais abaixo e à esquerda.

– Não enche o saco! – outro tapa – E nada de “minha rainha”, não somos contra a maldita monarquia?

Ele, antes do tapa: – Tá bom, vai, minha… plebéia.

Ela ri, ele também. Depois de uns passos, ela:

– E você acha os zapatistas nos convidam? Certo, se o Vins é meu amigo e disse que ele é muito amigo do “cara de meia” porque o deixou ganhar no Mortal Kombat, nas máquinas, assim que é só dizermos que somos da turma do Vins e já está feito – ele argumenta entusiasmado.

– E será que vou poder levar minha mãe?, já está idosa…

– Claro, falando de bruxas, se temos sorte ela fica até atolada no lodo, a futura sogra – ele abaixa a cabeça esperando o tapa que não chega.

Ela, já com nojo:

– E que raios nos vão dar os zapatistas se estão tão longe? Por acaso vão me dar um salário melhor, vão fazer que me respeitem, que os malditos homens não fiquem olhando minha bunda na rua, e que o filho da puta do patrão pare de me tocar por qualquer motivo? Me vão dar para pagar o aluguel, para comprar roupa pra minha filha, meu filho? Vão abaixar o preço do açúcar, do feijão, do arroz, do óleo? Vão me dar o que comer? Vão enfrentar a polícia que todo dia incomoda e extorque no bairro os que vendem discos piratas dizendo que é para não denunciá-los para o senhor ou a senhora Sony..?

– Não se diz “pirata”, mas “produção alternativa”, minha rain… plebéia. E não estoura comigo que estamos na mesma.

Mas ela já está viajando, e ninguém pode pará-la.

– E você, vão devolver seu trabalho na fábrica, onde já era qualificado e não sei o que mais? Vão fazer valer seus estudos, os cursos de capacitação, e tudo para que o imprestável do patrão leve a empresa não sei onde, e o sindicato e a greve, e tudo o que fez, para depois terminar lavando carros? Ou como seu amigo, que tiram o trabalho dele e somem com o patrão para que ele não possa se defender e o governo com seu rolo de sempre de que é para melhorar o serviço e a classe mundial e a mãe do morto e por acaso baixaram as tarifas, se está mais caro, e a luz cai toda hora e crretino Calderón vai ter aulas de sem-vergonhice com os gringos, que são os mestres nisso. E meu pai, que deus o tenha em sua santa glória, que foi trabalhar no outro lado [nos EUA], não para ser turista, mas para conseguir dinheiro, a luz, a lã, a grana para nos manter quando a gente estava pequeno e assim sem mais nem menos atravessando a fronteira a polícia de imigração o pegou como se fosse um terrorista e não um trabalhador honrado e nem o corpo nos entregaram e esse cretino Obama que parece que tem o coração com a cor do dólar.

– Tá bom, pare o carro e vai pra calçada, minha plebéia.

É que cada vez que me lembro me dá coragem, tanto dar, dar, para que no final os de acima fiquem com tudo, só falta que privatizem o sorriso, embora não acredito, porque desses tem poucos, mas as lágrimas sim, essas abundam e se fazem ricos… mais ricos. E depois vem você com essas suas coisas de que os zapatistas pra cá e os zapatistas pra lá, e que abaixo e à esquerda e que a oitava…

– A Sexta, não a oitava – interrompe.

– Que seja, esses caras estão muito longe e depois falam um espanhol pior que o seu.

– Ora, ora, não seja má.

Ela limpa as lágrimas e murmura: – Maldita chuva, já arruinou meu Estée Lauder, e eu que tinha me dado de presente porque você gosta de doces.

Eiii, você eu gosto mais sem nada… de roupa.

Riem.

Ela, muito séria: – Bom, vai, me diga, esses zapatistas vão nos salvar?

– Não, minha plebéia, não vão nos salvar. Isso e outras coisas temos que fazer nós mesmos.

– E então?

– Ah, pois, nos vão ensinar.

– E que nos vão ensinar?

– Que não estamos sozinhos.

Ela fica calada um momento. E logo:

– Nem sozinhas, imbecil! – outro tapa.

O transporte coletivo vai explodir de tão lotado. Melhor esperar o próximo.

Faz frio, está chovendo. Se abraçam mais, não para não se molharem, mas para se molharem juntos.

Longe alguém espera, sempre há alguém que espera. E enquanto espera, com um velho lápis e em um caderno velho e esfarrapado, conta os olhares de abaixo que por uma janela os olha.

(Continuará…)

Desde qualquer canto, em qualquer dos mundos.

SupMarcos.
Planeta Terra.
Janeiro de 2013.

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  • “Los Nadies”, baseada no texto homônimo de Eduardo Galeano. Interpreta “La Gran Orquesta Republicana”, banda de ska-fusión, Mallorca, Espanha. Formada por Javier Vegas, Nacho Vegas: saxo. Nestor Casas: trompeta. Didac Buscató: trombón. Juan Antonio Molina: guitarra eléctrica. Xema Bestard: bajo. José Luis García: batería.

http://www.youtube.com/watch?v=ucN-xogQHRQ&feature=player_embedded

Liliana Daunes narra um conto muito “outro” chamado: “Simpre y Nunca contra A Veces”. Saudações à Rede de Solidariedade com Chiapas, que luta e resiste aqui singelamente, em Buenos Aires, Argentina, América Latina, Planeta Terra.

http://www.youtube.com/watch?v=80EIfHMndnQ&feature=player_embedded

“Salario Mínimo” Oscar Chávez e Los Morales.

http://www.youtube.com/watch?v=hyKSN0CRe7w&feature=player_embedded

Eles e Nós. VI. Os olhares. 1. Olhar para impor ou olhar para escutar

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS

VI.- Os Olhares

1.- Olhar para impor ou olhar para escutar.

Por uma vez poderei dizer
Sem que haja ninguém que me contradiga
Que não é o mesmo aquele que deseja

Que aquele que cobiça

Como não são as mesmas as palavras

Ditas para serem escutadas

Que ditas para serem obedecidas

Nem tampouco é o mesmo aquele que me fala

Para dizer-me algo

Que aquele que me fala para que me cale”.

Tomás Segovia.

Quarto Rastreamento” em “Rastreamentos e Outros Poemas”
da editora que tem o bom gosto de chamar-se “Sem Nome”.
Obrigada e um abraço a María Luisa Capella, a Inés e Francisco
(bendito seja o digno sangue que em seus corações pulsa)
pelos livros e as letras-guía.

Olhar é uma forma de perguntar, dizemos nós, @s zapatistas.

Ou de procurar…

Quando se olha no calendário e na geografia, por mais distante que estejam uma da outra, se pergunta, se interroga.

E é no olhar onde o outro, a outra, x outrx aparece. E é no olhar onde este outro existe, onde se traça seu perfil como estranho, como alheio, como enigma, como vítima, como juiz e carrasco, como inimigo… ou como companheir@.

É no olhar onde o medo se aninha, mas também onde pode nascer o respeito.

Se não aprendemos a olhar o olhar-se do outro, que sentido tem nosso olhar, nossas perguntas?

Quem és?

                Qual é a tua história?

                                                  De onde, tuas dores?

                                                                           Quando, tuas esperanças?

Porém não importa somente o quê ou a quem olha. Também, e sobretudo, importa desde onde se olha.

E escolher aonde olhar é também escolher desde onde.

Ou é o mesmo, olhar desde acima a dor daqueles que perdem aqueles que amam e de que necessitam, pela morte absoluta, inexplicável, definitiva, que olhar desde abaixo?

Quando alguém de acima olha os de abaixo e se pergunta “quantos são?”, na realidade está perguntando “quanto valem?”.

E se não valem, que importa quantos são? Para obscurecer este inoportuno número estão os grandes meios de comunicação comerciais, os exércitos, as polícias, os juízes, as prisões, os cemitérios. E para o olhar nosso, as respontas nunca são simples.

Ao olharmos olhar oque olhamos, nos damos uma identidade que tem a ver com dores e lutas, com nossos calendários e nossa geografia.

Nossa força, se é que temos alguma, está neste reconhecimento: somos quem somos, e há outr@s que são quem são, e há outro para quem todavia não temos palavra para nomeá-lo e, ainda assim, é quem é. Quando dizemos “nós” não estamos absorvendo, e assim subordinando, identidades, mas sim ressaltando as pontes que existem entre as diferentes dores e as distintas rebeldias. Somos iguais porque somos diferentes.

Na Sexta, as zapatistas, os zapatistas, reiteramos nosso rechaço a toda tentativa de hegemonia, quer dizer, a todo vanguardismo, seja nos colocando à frente ou à margem, ou, como ao longo dos séculos, na retaguarda.

Se com a Sexta buscamos nossos semelhantes em dores e lutas, sem importar os calendários e as geografias que nos distanciem, é porque sabemos bem que o Chefão não se vence com um só pensamento, uma só força, uma só direção (por mais revolucionária, coerente, radical, engenhosa, numerosa, poderosa e outras coisas que esta direção seja).

É ensinamento de nossos mortos, que a diversidade e a diferença não são debilidades dos de abaixo, mas sim nossa força para parir, sobre as cinzas do velho, o mundo novo que queremos, que necessitamos, que merecemos.

Sabemos bem que este mundo não é imaginado somente por nós. Mas em nosso sonho, esse mundo não é um, e sim muitos, diferentes, diversos. E é em sua diversidade onde tem sua riqueza.

As reiteradas tentativas de impor a unanimidade, são as responsáveis para que a máquina tenha enlouquecido e se aproxime, cada minuto, ao minuto final da civilização como é conhecida até agora.

Na atual etapa da globalização neoliberal, a homogeneidade não é senão a mediocridade imposta como uniforme universal. E se é diferente em alguma coisa da loucura hitleriana, não é em seu objetivo, mas sim na modernidade dos meios para alcançá-lo.

-*-

E se, não só nós, buscamos o como, o quando, o onde, o quê.

Vocês, por exemplos, não são Eles. Bem, ainda não parecem ter nenhum problema em aliar-se com Eles para… enganá-los e derrotá-los desde dentro? Para ser como Eles mas não tão Eles? Para minguar a velocidade da máquina, limar as presas da besta, humanizar a selvagem?

Sim, sabemos. Há uma montanha de argumentos para dar sustento a isto. Inclusive poderiam forçar alguns exemplos.

Porém…

Vocês nos dizem que somos iguais, que estamos na mesma, que é a mesma luta, o mesmo inimigo…. Mmh, não, não dizem “inimigo”, dizem “adversário”. De acordo, isto também depende do contexto.

Vocês que dizem que devemos tod@s nos unir porque não há outro caminho: ou as eleições ou as armas. E vocês, que neste argumento falaz sustentam seu projeto de invalidar tudo o que não se subordina ao reiterado espetáculo da política de acima, nos alertam: morram ou rendam-se. E até nos oferecem a cartada, porque, argumentam, como se trata de tomar o Poder, só há estes dois caminhos.

Ah!, e nós tão desobedientes: nem morremos, nem nos rendemos. E, como foi demonstrado no dia do fim do mundo: nem luta eleitoral, nem luta armada.

E se não se trata de tomar o Poder? Melhor ainda: e se o Poder já não reside neste Estado Nação, este Estado Zombie povoado de uma classe política parasita que pratica a rapina sobre as outras nações?

E se os eleitores que vocês são tão obcecados (por isso seu fascínio pelas multidões), não fazem senão votar por alguém que outros já escolheram, como vez após vez lhes demonstram Eles enquanto se divertem com cada novo truque que fazem?

Sim, claro, vocês se escondem atrás de seus preconceitos: os que não votam? “é por apatia, por desinteresse, por falta de educação, flertam com a direita”…seus aliados em tantas geografias, em não poucos calendários. Votam, mas não em vocês? “são de direita, ignoratnes, vendidos, traidores, mortos de fome, zombies!

Nota de Marquitos Spoil:Sim, nós simpatizamos com os zombies. Não só por nossa semelhança física (nem maquiagem necessitamos e ainda assim arrasaríamos no casting de “The Walking Dead”). Também e sobretudo porque pensamos, junto com George A. Romero, que, em um apocalipse zombie, a brutalidade mais enlouquecida seria obra da civilização sobrevivente, não a dos mortos que caminham. E se algum vestígio de humanidade sobrasse, brilharia nos párias de sempre, os mortos-vivos para os quais o apocalipse começa a nascer e nunca termina. Como agora mesmo acontece em qualquer canto de qualquer dos mundos que existam. E não há filme, nem quadrinho, nem série televisiva que dê conta dele.

O olhar de vocês está marcado pelo desprezo quando olham para abaixo (ainda que seja ao espelho), e de suspiros de inveja quando olham para acima.

Vocês não podem nem imaginar que alguém tenha outro interesse ao olhar este “acima”, que não seja como tirá-los de lá.

-*-

Olhar. Para onde e desde onde. Aí está o que nos separa.

Vocês creem que são os únicos, nós sabemos que somos mais um.

Vocês olham acima, nós abaixo.

Vocês olham como se acomodam, nós como servimos.

Vocês olham como dirigir, nós como acompanhar.

Vocês olham quanto se ganha, nós quanto se perde.

Vocês olham o que é, nós o que pode ser.

Vocês olham números, nós pessoas.

Vocês calculam estatísticas, nós histórias.

Vocês falam, nós escutamos.

Você olham como se vêem, nós olhamos o olhar.

Vocês nos olham e reclamam onde estávamos quando seu calendário marcava suas urgências “históricas”. Nós os olhamos e não lhes perguntamos onde estavam durante estes mais de 500 anos de história.

Vocês olham como aproveitar a conjuntura, nós como criá-la,

Vocês se preocupam pelos vidros quebrados, nós pela raiva que os quebra.

Vocês olham os muitos, nós os poucos.

Vocês olham muros intransponíveis, nós as rachaduras.

Vocês olham possibilidades, nós o que é impossível só até a véspera.

Vocês buscam espelhos, nós cristais.

Vocês e nós não somos o mesmo.

-*-

Vocês olham o calendário de acima e a ele subordinam a primavera das mobilizações, as massas, a festa, a rebeldia das multidões, as ruas repletas de músicas e cores, chamadas, desafios,os que já são muito mais que só cento e trinta e tantos, as praças cheias, as urnas ansiosas por encher-se de votos, e vocês correm rapidamente porque é-claro-que-lhes-falta-uma-direção-revolucionária-partidária-uma-política-de-alianças-ampla-flexível-porque-o-eleitoral-é-seu-destino-natural-mas-estão-muito-despreparad@s-são-pequeno-burgueses-lumpen-prole – número-de-votantes – potenciais-ignorantes-inexperientes-ingênu@s-lerdos-estúpidos, sobretudo estúpidos . E veem em cada ato massivo a culminação dos tempos. E depois, quando já não há multidões ansiosas por um líder, nem urnas, nem festas, decidem que se acabou, que não mais, que talvez em outra ocasião, que há que esperar 6 anos, 6 séculos, que há que olhar para o outro lado, mas sempre para o calendário de acima: a filiação, as alianças, os postos.

E nós, sempre com o olhar torto, remontamos o calendário, buscamos o inverno, nadamos rio acima, passamos pelo riacho, chegamos ao manancial. Aí vemos aqueles que começam, os poucos. Não lhes dizemos, não lhes saudamos, não lhes dizemos o que fazer, não lhes dizemos o que não fazer. Em troca os escutamos, os vemos com respeito, com admiração. E elas, eles, talvez nunca reparem nesta pequena flor vermelha, tão parecida com uma estrela, tão pequena que é apenas uma pedrinha, e que nossa mão deixa abaixo, próximo de seu pé esquerdo. Não porque queremos dizer-lhes assim que a flor-de-pedra era nossa, das zapatistas, dos zapatistas. Não para que tomem esta pedrinha e a lancem contra algo, contra alguém, ainda que não falte vontades e motivos. Mas talvez porque é nosso modo de dizer-lhes, a el@s e a tod@s noss@s compas da Sexta, que as casas e os mundos começam a se construir com pequenas pedrinhas e logo crescem e quase ninguém se recorda destes pedregulhos que começam, tão pequenos, tão pouca coisa, tão inúteis, tão sós, e então vem uma zapatista, um zapatista, e vê a pedrinha e a saúda e se senta ao seu lado e não falam, por que as pequenas pedras, comos os zapatistas, não falam…até que falam, e logo o caso, ou coisa, é que se calam. E não, não se calam nunca, o que passa é que logo não há quem escute. Ou talvez porque vimos mais longe no calendário e sabíamos, antes, que esta noite chegaria. Ou talvez porque assim lhes dissemos, ainda que não saibam, porém nós sabemos, que não estão sozinh@s. Porque são com @s pouc@s que as coisas iniciam e reiniciam.

-*-

Vocês não nos viram antes…e seguem sem nos olhar.

E, sobretudo, não nos viram olhando-os.

Não nos viram olhando-os em sua soberbia, estupidamente destruindo as pontes, socavando os caminhos, aliando-se com nossos perseguidores, depreciando-nos. Convencendo-se de que o que não existe na mídia, simplesmente não existe.

Não nos viram olhando-os e dizendo que assim ficavam em terra firme, que o possível é o terreno sólido, que cortavam amarras deste absurdo barcos de absurdos e impossíveis, e que eram estes loucos (nós) que ficávamos à deriva, ilhados, sós, sem rumo, pagando com nossa existência o ser consequente.

Puderam ver o ressurgimento como parte de suas vitórias, e agora o ruminam como mais uma de suas derrotas.

Vá, sigam seu caminho.

Não nos escutem, não nos olhem.

Porque com a Sexta e com @s zapatistas não se pode olhar nem escutar impunemente.

E esta é nossa virtude ou nossa maldição, depende de onde você olha e, sobretudo, de onde surge seu olhar.

(continuará…)

Desde qualquer canto, em qualquer dos mundos.

SupMarcos.

Planeta Terra.

Fevereiro de 2013.

:::::::::::::::::

Reincidentes. Grupo de Rock, Sevilla, Espanha. Manuel J. Pizarro Fernández: Batería. Fernando Madina Pepper: Bajo y voz. Juan M. Rodríguez Barea: Guitarra y voz.  Finito de Badajoz “Candy”: Guitarra y voz.  Carlos Domínguez Reinhardt: Técnico de sonido. Versão rock de “Yo te nombro libertad” em vídeo dedicado à heróica luta do Povo Mapuche.

http://www.youtube.com/watch?v=j2rLm-jf4as&feature=player_embedded

Eduardo Galeano narra um conto deViejo Antonio: “La Historia de las Miradas“.

http://www.youtube.com/watch?v=WWjly5G63a4&feature=player_embedded

Joan Manuel Serrat cantando “El Sur También Existe“, de Mario Benedetti, em um concerto na Argentina, América Latina. Ao terminar de cantar, Serrat se dirige aos bastidores e traz para o palco Mario Benedetti, tão querido para nós. (minuto 3:01 adiante).

http://www.youtube.com/watch?v=TaKrfKjloUA&feature=player_embedded

P.S. à Sexta que, como seu nome indica, foi a quinta parte de “Eles e Nós”.

 

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

PS à Sexta que, como seu nome indica, foi a quinta parte de “Eles e Nós”.

 

Janeiro de 2013.

 

P.S. QUE DÁ ALGUMAS DICAS PARA REFORÇAR SUAS SUSPEITAS:

 

1.- Se alguma pessoa…

 

possui todos, vários ou algum dos seguintes perfis, como por exemplo: ser mulher, ser homem, ser criança, ser jovem, ser estudante, ser empregad@, ser rebelde, ser lésbica, ser gay, ser indígena, ser obrer@, ser colon@, ser campesin@, ser desempregad@, ser crente, ser trabalhador@ sexual, ser artista, ser empregad@ doméstic@ mas não domesticad@, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É diferente e não só não tem vergonha e não se esconde, ao contrário, anda por aí desafiando as boas consciências, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É uma organização, grupo ou coletivo livre e/ou libertário, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É alguém que não cabe em outra lista que naão seja a de “dispensáveis”, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É alguém que não aceita ordens que não sejam de sua consciência, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É alguém que não espera, nem suspira por salvadores supremos, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É alguém que semeia sabendo que não verá o fruto, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

É alguém que, quando você lhe explica pacientemente e de bom modo (ou seja, a beira da histeria) que a máquina é todo-poderosa e invencível, sorrí, não como se não entendesse, mas sim como se não importasse, então tenha cuidado, pode ser que seja da Sexta.

 

P.S. DE MÚLTIPLA OPÇÃO:

 

Está você conversando com outr@ compa, sobre o que seja, em todo caso, é coisa de vocês. Precisamente quando você está dizendo ao/a seu/sua interlocutor(a): “Camaradda, então aí você está vendo”, neste momento chega um senhor com cara de “sou-muito-respeitável-tenho-muitos-conhecimentos”,descarrega frente a sua cara uma longa fileira de cartilhasrevolucionárias de analista revolucionário sobre todas as revoluções ocorridas e por ocorrer, e começa a lhe explicar, com tom estridente, que deve obedecê-lo e fazer como ele lhe aconselhe-assessoreordene. E, quando você está a ponto de dizer a seu/sua compa “o que há com este cara?”, o senhor sobe o tom de sua voz e diz, mostrando seu alto nível intelectual e tapando os ouvidos, “não ouço, não ouço, ‘soy de palo, tengo orejas de pescado’”(1) e parte furioso. Então você:

 

a).- corre atrás dele para suplicar-lhe que não o abandone na escuridão de sua ignorância (sua, se entende) e que por favor siga iluminando-lhe com sua diáfana luz (dele, se entende).

 

b).- diz, soluçando, “está certo, fui um louco e um ingrato, não farei travessuras”.

 

c).- completa o “o que há com esse cara?” que havia ficado incompleto.

 

d).- diz a sua/seu compa: “Cara, pensei que em algum momento ia aparecer a polícia, quero dizer, a outra polícia”.

 

e).- diz a si mesmo “puta que o pariu, esta cidade já não vale um puto”.

 

f).-nem dá atenção, e segue olhando fixamente este muro tão desnudo, tão solitário, tão sem mancha, e vai pensando em conseguir a grana para conseguir uns potes porque, pensa você, a um muro assim não se pode negar uma assinatura nem um grafite, questão de entrar em acordo com o “crew”, colocar a hora e o lugar, ou, como alguém disse, o calendário e a geografia. Além disso, já tem ideia do que vai pixar, por exemplo isso do Mario Bendetti que diz: “De dois perigos deve proteger-se o homem novo: da direita quando é habilidosa, da esquerda quando é sinistra”(2)

 

g).- regressa a sua casa, canto, barraco, lar, como se diga, e diz a sua dupla: “Creio que já não volto a comer estas tortas-tacos-garnachas. Hoje alucinei que, em plena rua, estava no programa de Laura Bozzo e ao ouvir o “que venha o desgraçado”, me empurram dizendo “Oras, não se faça, é sua vez”.

 

h).- você pensa, “cara, não é que as drogas e/ou o álcool afetam mesmo o cérebro”.

 

i).- você se pergunta “a quem se referirá?”

 

Se marcou as respostas a e/ou b, então você tem futuro, mas lhe faltam detalhes. Por exemplo, deveria oferecer-se a carregar-lhe os livros. Se o faz por mal e não por ser servil,então adicione à pilha de livros o de Pascal Quignard llamado “Butes” ou “Boutés” (já se vê que o francês agora está na moda), da editora Sextopiso (gosto desse nome). Quem sabe o senhor o leia e aprenda a usar melhor a alegoria das sereias. Ah, mas como ele quer vai dizer que siga você remando para levar o herói para casa.

 

Se marcou qualquer uma das opções c, d, e, f, g, h, então você, compa, não tem remédio e com certeza não terá um lugar vip na impostergável-revolução-mundial-que-iniciará-a-aurora-para-as-massas-desamparadas-guiadas-pela-análise-profunda-e-concreta-da-realidade-concreta dos sábios analistas. Bem feito, quem mandou você andar com estas más companhias da rebeldia, liberdade e autonomia.

 

Se marcou a resposta i, não se preocupe, não vale a pena.

 

P.S. QUE TE ORIENTA E TE DIZ QUE…

 

Você está perdendo o tempo se…

 

1.- Se você está argumentando a alguém que ao dizer que “O medo às alturas é ilógico. O medo de cair, por outro lado, é prudente e evolucionista”, Sheldon Cooper(3) está dando sua versão de “abaixo” e argumentando a conveniência de permanecer abaixo; e seu interlocutor, depois de repassar mentalmente todos os nomes dos autores revolucionários clássicos e os nomes de todos os secretários gerais de todos os partidos, lhe pergunta “quem diabo é esse Sheldon Cooper, outro lumpen da Sexta?”

 

2.- Se você está repetindo em voz alta:

 

Sempre há uma possibilidade. Tudo se trata de pequenas possibilidades. Enfrentamos uma longa e dura viagem, talvez mais dura do que possa imaginar. Mas não pode ser mais difícil que nossa viagem até agora. Só ficamos uns poucos. Por isso precisamos permanecer unidos, lutar pelos demais, estar dispostos a dar nossas vidas pelos demais se for necessário.”

 

E alguém lhe interrompe, irritado, dizendo:

 

Chega de recitar o que escreve o cabeça-de-trapo-homem-com-meia-furada-camisinha-de-lã(4). Já estou farto disso, bando de ingênu@s. E essa explicação da seguinte etapa da Sexta não é senão literatura barata do sub-comediante Marcos. Não se dá conta de que só usa os indígenas para conseguir dinheiro e ir para a Europa passear com a Cassez(5)? Porque qualquer um sabe que o topete(6) compactuou com o palhaço do Marcos a liberação dessa francesinha, e que exoneraram o PRI da fraude eleitoral”.

 

Quem lhe diz isso se retira então, satisfeito por tê-lo iluminado, e você já não pode esclarecer-lhe que é uma fala do personagem Rick Grimes (interpretado por Andrew Lincoln) no primeiro episódio da segunda temporada da série televisiva “The Walking Dead“, desenvolvida por Frank Darabont, baseada na HQ homônima criada por Robert Kirkman e Tony Moore, e produzida por AMC.

 

Nota de Marquitos Spoil: Sim, eu também opino que não devem morrer Daryl Dixon (interpretado por Norman Reedus) nem Michone (interpretada por Danai Gurira), mas talvez os roteiristas temam que os dois possam aderir à Sexta, cumprem com o perfil.

 

P.S. QUE SEGUE ACONSELHANDO:

 

Você pode recuperar algum tempo perdido se, passados os dois episódios referidos antes, e depois de pensar um pouco, se pergunta “Que diabos é a Sexta?”

 

Então vá você e põe no buscador de sua preferência: “Sexta” e…

 

então lhe aparece na janela todos os WARNINGS existentes e por existir, desde os “cuidado, isto pode afetar seriamente sua saúde mental”, “url maliciosa” (ah, grande homenagem involuntária desse programa antivírus, obrigada), até o clássico “vírus libertário detectado, não afeta o hardware mas faz um caos no software do seu pensamento“; e continuando as opções: “elimine o vírus sem maiores complicações“, “coloque-o na quarentena de ‘assuntos a evitar”, “passe à seção de causas perdidas”, “arquive em ingenuidades”, etc.

 

Você, está claro, é como quem disse, contrário(7) (se não, por quê segue lendo?) e lhe fode (bib de censura), quer dizer, lhe incomoda que lhe digam o que pode ou deve ou não fazer, assim que lhe dá um click e então se arrepende quase imediatamente porque, para dizê-lo em termos não cibernéticos, a tela é um completo caos, com tantas cores que nem o protetor de tela mais psicodélico imaginou, depois músicas (sem incomodar os leitores) de todo tipo. Você, claro, está perguntando-se que programador é esse e que, já que estamos nessa, pois não seja um infortúnio e vamos que vamos, tarán!, palavras, muitas palavras, que logo já se acomodam e você pode ler:

 

A Sexta“.- Nome com que @s zapatistas do EZLN se referem à Sexta Declaração da Selva Lacandona e/ou aqueles que aderem a esta declaração. Nome com o qual se autodenomina um pequeno, bem pequeno, pequeníssimo, ínfimo, grupo de homens, mulheres, crianças, anciões e outr@s que resistem e lutam contra o capitalismo e se propõem fazer um mundo melhor, não perfeito, mas sim melhor. Nome com o qual se designa a gente suja, feia, má, grosseira e rebelde que pretende construir outra forma de fazer política (ou seja que estão remando contra a maréporque para isso não há financiamentos, nem cargos, nem prestígio socialmente reconhecido). Nome com o qual se identifica um grupo indeterminado porém desprezível de pessoas e grupos, que se sentem convocados mas não subordinados pel@s zapatistas, mantém sua autonomia, seu calendário e sua geografia (a maioria não é sujeito de crédito, portanto são perfeitamente prescindíveis). Já disse que são sujos, feios, maus, grosseiros? Ah, é que o são realmente. Para “zapatistas”, veja também “zapatos”, “zapatillas”, “zapateros”, “rebeldes”, “molestos”, “estorvos”, “inúteis”, “irreverentes”, “sem credencial de eleitor”, “inexistentes”, “grosseiros, sobretudo grosseiros”, “sim, também sujos, feios e maus”.

 

P.S. SOBRE A MALDITA (em mais de um sentido) SENHA:

 

Compas da Sexta e não da Sexta: Eu sei que recebi um número impreciso (é mais elegante que colocar “uma caralhada”) de xingamentos, que não são de menta, por causa da senha. Porém diminuam o acelerador e lhes explico:

 

Como vocês puderam perceber, nossa página cai ao sétimo click que lhe deem. Eu sei que poderia somar às teorias de complô e justificar-nos alegando um ataque cibernético do vilão em turno, do supremo governo, do pentágono, o MI6, a DGSE, a CIA, o da KGB (Já não existe a KGB??? Aí vocês tem a prova de que estamos na pré-história), mas a verdade é que temos um servidor que,embalado na onde alternativa, funciona com pozol e, quando dizemos aos/as compas encarregad@s, “dêem ao servidor”, pois se servem eles e tornam o copo, e já não sobra nada para o outro servidor.

 

Então nós percebemos outras vezes que há compas que sabem disto e possuem seus meios livres, blogs, páginas, e tudo isso. E são os que pegam os escritos e, as vezes, também os vídeos. Os vídeos são muito importantes nos textos, tanto que os preparamos igual ou mais que as palavras. Por isso os mandamos pela página “Enlace Zapatista”, porque assim pura palavra fica melhor se há uma música e vídeo que como alguém disse completa a palavra, como se fosse um postscript muito pós-moderno, muito do estilo dos de aqui. Bom, mas lhes dizia ques est@s compas de meios livres e libertários, grupos, coletivos, indivíduos, pegam o que dizemos e o lançam mais longe e a mais partes.

 

Então fizemos o que chamam de testes. Sabemos que para ess@s compas não há senha que resista e, ainda que não saibam simplesmente qual é, pois lhe cutucam aqui e ali e ¡zás!, já estão lendo. E então pensamos, o que acontece se os maus governos nos escondem a palavra e os meios pagos nos castigam com o chicote de seu desprezo e nada mais pode sair? Já o fizeram outras vezes, por isso há pessoas que ficam e ficam nesta besteira de por quê estamos calados, e por quê até agora e blá, blá, blá.

 

Então pensamos que se eles nos escondem, se est@s compas em um bom plano pegam nossa palavra e a lançam para outros. Porque a nós nos interessa também como interlocutores aqueles que se informam aí, com el@s. Então pensamos, vamos fazer um teste se os compas que estão longe, sobretudo os que não sabem que são nossos compas (e nós também não sabemos, mas este não é o tema), topam com obstáculos para saber de nós: Que fazem? Vão buscar com outros?, o quê. E isto fizemos. E isto vimos: pois a est@s compas cibernéticos a senha não durou nem para o começo, e rapidamente entraram e rapidamente puseram o texto completo, e a maioria com tudo e vídeos. E então vimos também que, assim como caia a página, também caiam as queixas e reclamações, todavia apareciam por aí nos meios e blogs e essas coisas e diziam “aqui está completo” juntamente com o dedo médio levantando. Ok, ok, ok, sem mais piadas. Então, pois, nós dissemos que “se se queixam a um, que se queixem a todos”. Ok, ok, não é assim, mas agora já sabem, compas, que se não podem entrar na página pois que busquem com outros compas. E a estes compas livres e/ou libertários de meios, blogs, páginas, ou como se diga, pois de verdade, com nosso coração: obrigada. Porque nós valorizamos muito as palavras, tanto que fizemos uma guerra por elas.

 

De vez em quando vão sair trechos com senha, mas será para coisas muito concretas e para não aborrecer o pessoal com assuntos que talvez a ninguém interesse, bom talvez para os da Sexta sim, mas não tod@s, muito poucos. Por exemplo: se nós colocamos que um convite que lhes fazemos é para agosto deste ano de 2013, quando as Juntas de Bom Governo zapatistas completam 10 anos dando autonomia libertária; e que vai haver uma pequena festa nas comunidades zapatistas; e que para estas datas chove muito, e que aqui, além da dignidade, o único que vai abundar vai ser o lodo, assim que os que venham, tragam o necessário para não ficar com cor de terra. Bom, pois estas coisas, compas, vamos colocar com senhas, porque à maioria não vai interessar esta informação, só aos/as da Sexta e alguns mais que vão ser convidad@s. Então assim está. Espero que as queixas agora sim sejam construtivas.

 

Bem. Saúde e, de verdade, nos mandem e lemos tudo o que escrevem, positivo e negativo, em todas as partes. Porque nós sabemos que o mundo é muito grande, que tem muitos mundos, e que a unanimidade só existe para as cabeças d@s fascistas de todo o espectro político que tratam de impor sua homogeneidade.

 

Desde qualquer canto de qualquer mundo.

SupMarcos.

Janeiro de 2013.

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1) “Soy de palo, tengo orejas de pescado”, rima tradicional usada comumente usada por crianças quando tapam os ouvidos e não querem escutar.


2)
“De dos peligros debe cuidarse el hombre nuevo: de la derecha cuando es diestra, de la izquierda cuando es siniestra.”

 

3) Personagem da série “The Big Bang Theory”.

 

4) “cabeza-de-trapo-calcetín-con-rombos-man-condón-de-estambre”. Xingamentos usados em referência ao subcomandante Marcos e demais zapatistas. Referências ao uso do passamontanha.


5) Refere-se a Florence Cassez.

6) Referência a Enrique Peña Nieto e seu penteado.

7)O original é “Contreras,” brincando com a palavra “contrário”, mas usando o último nome de Elias Contreras, o personagem principal de “Muertos Incómodos”.

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Eles e Nós. V. A Sexta

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS
V.- A SEXTA.
EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.
MÉXICO.
Janeiro de 2013.
Para: @s companheir@s aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona em todo o mundo.
De: As zapatistas, os zapatistas de Chiapas, México.
Companheiras, companheiros e “compañeroas“:
Compas das Rede contra a Repressão e pela Solidariedade:
Recebam todas, todos, as saudações das mulheres, homens, crianças e anciões do Exército Zapatista de Libertação Nacional, os menores de seus companheiros.
Decidimos que nossa primeira palavra especialmente dirigida a noss@s companheir@s da Sexta, seja conhecida primeiramente em um espaço de luta, como é a Rede contra a Repressão e pela Solidaridade. Mas as palavras, sentimentos e pensamentos que aqui se desenham tem como destinatário também aqueles que não estão presentes. E, sobretudo, são para el@s.
-*-
Gostaríamos de agradecer o apoio que têm brindado a nossas comunidades, a nossos companheiros bases de apoio zapatistas e aos compas aderentes presos em Chiapas, durante todo este tempo.
Em nosso coração estão guardadas suas palavras de alento e a mão coletiva que se entrelaçou com a nossa.
Estamos certos que um dos pontos a tratar em sua reunião será, ou já foi, levantar uma grande campanha em apoio ao compa Kuy, para denunciar a agressão de que foi objeto e demandar para ele e para todos os lesionados nesta data, e para exigir a liberdade absoluta de todos os detidos na Cidade do México e em Guadalajara na ocasião dos protestos contra a imposição de Enrique Peña Nieto como titular do Executivo Federal.
Não somente, mas também é importante que essa companha contemple arrecadar fundos para apoiar o compa Kuy com os gastos de hospitalização, e com os de suas posterior recuperação, que as zapatistas e os zapatistas desejam logo.
Para apoiar esta campanha de fundos, estamos mandando uma pequena quantidade de dinheiro em espécie. Pedimo-lhes que, ainda que pequena, a somem ao que estão reunindo para nosso companheiro de luta. Enquanto possamos reunir mais, faremos chegar a quem vocês disignem para este trabalho.
-*-
Quisemos aproveitar esta reunião que tem, não somente para saudar seu empenho, também e sobretudo, para saudar, através de vocês, a todos os compas no México e no mundo que se tem mantido firmes neste laço que nos une e que chamamos a Sexta.
Saibam que tem sido uma honra tê-los como “compañeroas”.
Sabemos que parece uma despedida, mas não o é. Somente significa que temos dado por terminada uma etapa no caminho que nos assinala a Sexta, e que pensamos que é necessário dar outro passo.
Não tem sido poucos os dissabores que temos padecido, as vezes juntos, as vezes cada qual em sua geografia.
Agora queremos explicar-lhes e comunicar algumas mudanças que faremos em nosso caminhar e no qual, se estão de acordo e nos acompanham, voltaremos, mas de outra forma, ao longo relato de dores e esperanças que antes se chamou a Outra Campanha no México e a Sexta Internacional no mundo, e que agora será simplesmente A Sexta. Agora iremos mais adiante, até…
O Tempo do “Não”, o Tempo do “Sim”.
Companheiras, Companheiros:
Definido quem somos, nossa história passada e atual, nosso lugar e o inimigo que estamos enfrentando, como está plasmado na Sexta Declaração da Selva Lacandona, segue pendente acabar de definir o por quê lutamos.
Definidos os “não”, falta acabar de delinear os “sim”.
E não só, falta também mais respostas aos “como”, “quando”, “com quem”.
Todos vocês conhecem que nosso pensamento não é construir uma grande organização com um centro diretor, um comando centralizado, um chefe, seja individual ou colegiado.
Nossa análise do sistema dominante, de seu funcionamento, de suas fortalezas e debilidades, nos tem levado apontar que a unidade de ação pode dar-se se se respeitam o que nós chamamos de “os modos” de cada qual.
E isto dos “modos” não é outra coisa que os conhecimentos que cada um de nós, individual ou coletivo, tem de sua geografia e calendário. Quer dizer, de suas dores e suas lutas.
Nós estamos convencidos que toda intenção de homogeneidade não é mais que uma intenção fascista de dominação, ainda que se oculte em uma linguagem revolucionária, esotérica, religiosa ou similar.
Quando se fala de “unidade”, se omite apontar que essa “unidade” é sob a chefia de alguém ou algo, individual ou coletivo.
Na falácia do altar da unidade não somente se sacrificam as diferenças, também se esconde a sobrevivência de todos os pequenos mundos de tiranias e injustiças que padecemos.
Em nossa história, a lição se repete uma e outra vez. E em cada volta ao mundo, sempre é para nós o lugar do oprimido, do depreciado, do explorado, do despojado.
As que chamamos “4 rodas do capitalismo”: exploração, despojo, repressão e descaso,  se repetem ao longo de toda nossa história, com diferentes nomes acima, porém nós somos sempre os mesmos abaixo.
Mas o atual sistema tem chegado a um estado de loucura extrema. Seu afã depredador, seu descaso absoluto pela vida, seu deleite pela morte e a destruição, seu empenho em instalar o apartheid para todos os diferentes, quer dizer, todos os de baixo, está levando a humanidade ao seu desaparecimento como forma de vida no planeta.
Podemos, como alguém pudera aconselhar, esperar pacientemente que os de cima acabem por destruirem a si mesmos, sem reparar que sua insana soberbia leva à destruição de tudo.
Em seu afã de estar mais e mais acima, dinamitam os andares de baixo, os cimentos. O edifício, o mundo, terminará por colapsar e não haverá quem culpar como responsável.
Nós pensamos que sim, que algo anda mal, muito mal. Mas que se, para salvar a humanidade e a maltratada casa em que habitam, alguém se tem que ir, deve ser, precisa ser os de cima.
E não nos referimos a desterrar as pessoas de cima. Falamos de destruir as relações sociais que possibilitam que alguém esteja acima as custas que alguém esteja abaixo.
Os zapatistas, as zapatistas sabemos que esta grande linha que temos traçado sobre a geografia do mundo não é nada clássica. Que isto de “acima” e o “abaixo” molesta, incomoda e irrita. Sim, não é o único que irrita, o sabemos, mas agora estamos nos referindo a este incômodo.
Podemos estar equivocados. Seguramente estamos. Já apareceram os policiais e comissários do pensamento para nos julgar, condenar e executar. Tomara que só o seja em seus flamejantes escritos e não escondam sua vocação de carrascos atrás da de juízes.
Porém assim é como os zapatistas, as zapatistas vemos o mundo e seus modos:
Há machismo, patriarcado, misoginia, ou como se chame, mas uma coisa é ser mulher de acima e outra completamente diferente sê-la de abaixo.
Há homofobia sim, mas uma coisa é ser homossexual de acima e outra é sê-lo de abaixo.
Há descaso ao diferente sim, mas uma coisa é ser diferente acima e outra sê-lo de abaixo.
Há esquerda como alternativa à direita, mas uma coisa é ser de esquerda acima e algo completamente diferente (e oposto, acrescentamos nós) sê-lo de abaixo.
Ponham vocês sua identidade neste parâmetro que assinalamos e verão isto que lhes dissemos.
A identidade mais traiçoeira, em alta cada vez que o Estado moderno entra em crise, é a de “cidadania”.
Não tem nada em comum e sim tudo de oposto e contraditório o “cidadão” de acima e o “cidadão” de abaixo.
As diferenças são perseguidas, segregadas, ignoradas, depreciadas, reprimidas, despojadas e exploradas, sim.
Mas nós, vemos uma diferença maior que atravessa estas diferenças: o acima e o abaixo, os que possuem e os que não possuem.
E vemos que essa grande diferença tem algo de substancial: o acima está acima sobre o de baixo; o que tem possui porque despoja os que não tem.
Sempre segundo nós, isto de acima e abaixo determina nossos olhares, nossas palavras, nossos ouvidos, nossos passos, nossas dores e nossas lutas.
Talvez haja outra oportunidade para explicar mais de nosso pensamento sobre isto. Por ora só diremos que olhares, palavras, ouvidos e passos de acima tendem à conservação desta divisão. Claro que isso não implica imobilidade. O conservadorismo parece estar muito distante de um sistema que descobre mais e melhores formas de impor as 4 feridas que o mundo de abaixo padece. Porém estas “modernizações” ou “progressos” não tem outro objetivo que conservar acima os de acima da única forma em que é possível, quer dizer, sobre os de abaixo.
O olhar, a palavra, o ouvir e os passos de abaixo, segundo nós, são determinados pelo questionamento: Por quê assim? Por quê el@s? Por quê nós?
Paraimpor respostas a estas perguntas, ou para evitar que as façamos, se tem construído catedrais gigantescas de idéias, algumas mais ou menos elaboradas, a maioria das vezes tão grotescas que não só se admira que alguém as tenha elaborado e alguém nelas acredite, também que se tem construído universidades e centros de estudos e análises sustentados nelas.
Mas sempre aparece um estraga-prazeres que arruina os sucessivos festejos de culminação da história.
E ess@ desgraçad@ responde a estas perguntas com outra: “Poderia ser de outra forma?”
Esta pergunta talvez possa ser a que detona a rebeldia em sua acepção mais ampla. E pode sê-la porque há um “não” que a pariu: não tem por por que ser assim.
Desculpem se este confuso rodeio os irritou. Atribuam-o vocês ao nosso modo, ou a nossos usos e costumes.
O que queremos dizer, companheiras, companheiros, compañeroas, é que o que nos convocou na Sexta foi este “não” rebelde, hereje, grosseiro, irreverente, molesto, incomodo.
Chegamos aqui porque nossas realidades, nossas histórias, nossas rebeldias nos levaram a esse “não tem por por que ser assim”.
Isso e que, intuitivamente ou elaboradamente, temos respondido “sim” à pergunta “Poderia ser de outra forma?”

Falta responder às perguntas que se atropelam depois desse “sim”.

Como é essa outra maneira, esse outro mundo, essa outra sociedade que imaginamos, que queremos, que necessitamos?

O que é preciso fazer?
Com quem?
Teremos que buscar as respostas a estas perguntas se não as temos. E se as temos, devemos dar a conhecer entre nós.
-*-
Neste novo passo, porém no mesmo caminho da Sexta Declaração da Selva Lacandona, como zapatistas que somos trataremos de aplicar algo do que aprendemos nestes 7 anos e faremos mudanças no ritmo e na velocidade do passo, sim, mas também em companhia.
Sabem vocês, um dos muitos e grandes defeito que temos as zapatistas, os zapatistas, é a memória. Recordamos quem esteve, quando e onde, que disse, que fez, que calou, que desfez, que escreveu, que apagou. Recordamos  os calendários e as geografias.
Que não nos interprete mal. Não julgamos ninguém, cada qual constrói como pode sua desculpa para o que faz e desfaz. O avanço teimoso da história dirá se foi um acerto oou um erro.
De nossa parte, os temos visto, os temos escutado, com tod@s temos aprendido.
Já vimos quais foram os que só se aproximaram paratirar proveito político próprio da Outra Campanha, quem vai brincando de uma mobilização a outra, seduzidos pelas massas, e dissimulando assim sua incapacidade de construir algo por si mesmos. Um dia são anti eleições, outro dia despontam suas bandeiras na mobilização da moda; um dia são professores, em outro estudantes; um dia são indigenistas, em outro se aliam com latifundiários e paramilitares. Clamam pelo fogo justiceiro das massas, e desaparecem quando chegam os jatos d’água dos tanques anti-motins.
Não voltaremos a caminhar junto com eles.
Já vimos quais são os que aparecem quando há palanques, discursos, boa imprensa, atenção, e desaparecem na hora do trabalho sem visibilidade porém necessário, como a maioria dos que aqui escutam ou lêem esta carta sabem. Todo este tempo, nosso olhar e nosso escutar não foram para aqueles que estavam acima dos placos, e sim para os que o levantaram, os que fizeram a comida, varreram, cuidaram, dirigiram, manejaram, volantearam, como se diz por aí. Também vimos e escutamos aqueles que subiram em cima dos demais.
Não voltaremos a caminhar junto com eles.
Já vimos quem são os profissionais das assembleias, suas técnicas e táticas para destruir as reuniões de modo que só eles, e aqueles que os seguem, ficam para aprovar suas propostas. Distribuem derrotas por onde aparecem dirigindo as mesas moderadoras, se opondo aos “yuppies” e “pequeno burgueses” que não entendem que na ordem do dia se joga o futuro da revolução mundial Os que vem mal qualquer movimento que não termine em uma assembleia conduzida por el@s.
Não voltaremos a caminhar junto com eles.
Já vimos quais são os que se apresentam como lutadores pela liberdade dos presos e presas nos eventos e campanhas, mas que nos demandaram abandonar os presos de Atenco e continuar o percurso da Outra Campanha porque já possuíam sua estratégia e seus eventos programados.
Não voltaremos a caminhar junto com eles.
-*-
A Sexta é uma convocatória. Convocar não é unir. Não pretendemos unir sob uma direção, nem zapatista nem de qualquer outra filiação. Não buscamos cooptar, recrutar, suplantar, aparentar, simular, enganar, dirigir, subordinar, usar. O destino é o mesmo, mas a diferença, a heterogeneidade, a autonomia dos modos de caminhar, são a riqueza da Sexta, são sua força. Oferecemos e ofereceremos respeito, e demandamos e demandaremos respeito. À Sexta se adere sem mais requisitos que o “não” que nos convoca e o compromisso de construir o “sim” necessário.
-*-
Compañeroas, companheiros, companheiras:
Por parte do EZLN lhes dizemos:
1.- Para o EZLN já não haverá uma Outra Campanha nacional e uma Sexta Internacional. A partir de agora caminharemos junto àqueles que convidamos e nos aceitam como compas, o mesmo que na costa de Chiapas e que a da Nova Zelandia.
Assim que o território do nosso acionar está agora claramente delimitado: o planeta chamado “Terra”, localizado no chamado Sistema Solar.
Seremos agora o que somos de fato: “A Sexta”.
2.- Para o EZLN, ser da Sexta não requer afiliação, cota, inscrição em lista, original e/ou cópia de uma identificação oficial, comprovante de renda, estar no lugar do juíz, ou do jurado, ou o acusado, ou o verdugo.  Não há bandeiras. Há compromissos e consequências destes compromissos. Nos convocam os “não”, nos move a construção dos “sim”.
2.- Quem, com o ressurgimento do EZLN, esperam uma nova temporada de palanques e grandes concentrações, e as massas juntando-se ao porvir, e os equivalentes aos assaltos ao palácio de inverno, se desiludirão. É melhor que partam de uma vez.  Não percam tempo, e não nos façam perder tempo. A caminhada da Sexta é longa, não para anões de pensamento. Para ações “históricas” e “conjunturais” há outros espaços onde seguramente encontrarão acômodo.  Nós não queremos apenas trocar de governo, queremos trocar de mundo.
3.- Ratificamos que como EZLN não nos aliaremos a nenhum movimento eleitoral no México. Nossa concepção tem sido clara sobre isto na Sexta e não há variação. Entendemos que haja quem pense que é possível transformar as coisas desde cima sem converter-se em mais um deles. Oxalá as desilusões consecutivas não os levem a converter-se nisso que lutam contra.
4.- Nossa palavra que lhes proponha iniciativas organzativas, políticas e de difusão será EXCLUSIVA para aqueles que nos requiram e aceitemos, e enviadas pelo e-mail da página eletrônica aos endereços que temos. Também aparecerão na página do Enlace Zapatista, mas só poderá acessar seu conteúdo completo por meio de uma senha que irá mudando continuamente. Essa senha a faremos chegar de algum modo, porém será fácil de deduzir para quem lê com atenção o que se vê e para quem aprendeu a decifrar os sentimentos que se fazem letras em nossa palavra.
Cada individu@, grupo, coletivo, organização ou como se chame, tem o direito  a liberdade de passar-lhe essa informação a quem creia conveniente. Tod@s @s aderentes à Sexta terão o poder de abrir a janela de nossa palavra e de nossa realidade a quem desejem. A janela, não a porta.
5.-  O EZLN lhes pede paciência para ir dando a conhecer as iniciativas que, durante 7 anos, temos amadurecido, e cujo principal objetivo será que estejam em contato com as bases de apoio zapatistas na forma que, em minha humilde opinião e larga experiência, é a melhor: como alunos.
6.- Por enquanto somente lhes adiantamos que quem possa e queira, e que seja convidado expressamente pela Sexta-EZLN, vá juntando o varo, o dinheiro, o money ou como se diga a moeda de câmbio em cada parte do planeta, para estar em possibilidades de viajar a terras zapatistas em datas necessárias. Mas depois lhes diremos mais detalhes.
Para terminar esta carta  (que, como é evidente, tem a desvantagem de não possuir um vídeo ou uma  música que a acompanhe e complete em sua versão lida), queremos mandar o  melhor de nossos abraços (e só temos um) aos homens, mulheres, crianças  e anciões, grupos, organizações, movimentos, ou como cada qual se nomeie, que em todo o tempo não nos afastaram de seus corações, e resistiram e apoiaram como companheiras, companheiros e “compañeroas” que somos.
Compas:
Somos a Sexta.
Nos vai custar muito.
Não serão menores nossas dores ao nos abrirmos para aqueles que sofrem em todo o mundo. O caminho será mais tortuoso.
Batalharemos.
Resistiremos.
Lutaremos.
Morreremos talvez.
Porém uma, dez, cem, mil vezes, sempre venceremos sempre.
Pelo Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional.
A Sexta – EZLN
Subcomandante Insurgente Marcos.
Chiapas, México, Planeta Terra.
Janeiro de 2013.
P.S.- Por exemplo, a senha para ver este escrito na página é, como é evidente, “marichiweu“, assim, com aspas e começando à esquerda.

Eles e Nós. IV. As dores de abaixo.

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS

IV. – As dores de abaixo
Janeiro de 2013.
“Quantas vez nos parou na rua
uma viatura pelo delito de 
“ter cara” suspeita e depois de uns golpes e de ser 
extorquido nos deixam ir? “
Repressão e Criminalização”, Cruz Negra Anarquista-México. Janeiro/2013
E os jovens que agora mesmo vem em ti um herói e um exemplo de
pessoa que foi injustamente castigada por um sistema repressor? – 
– Herói não. Herói é cada um dos jovens que saem cada dia À
rua organizando-se para mudar esta sociedade injusta e este sistema
econômico, político. E se organizam, se defendem… Que não temam, 
que o medo vai mudar de bando(1) –  
Alfonso Fernández, levado preso nos protestos do 14N, na Espanha,
entrevistado por Shangay Lily, em Kaos en la Red.Janeiro de 2013.
É necessário um inimigo para dar ao povo uma esperança. (…)
Agora veja, o sentimento de identidade se funde ao ódio aos que não são iguais.
Há que cultivar o ódio como paixão civil. O inimigo é o amgos dos povos.
Faz falta a quem odiar para sentir-se justificados em sua própria miséria. 
Sempre. O ódio é a verdadeira paixão primordial”
Umberto Eco. O Cemitério de Praga.
Onde e quando começa a violência?
Vejamos.
Frente a um espelho, em qualquer calendário e em qualquer geografia…
Imagine que você é diferente da maioria das pessoas.
Imagine que você é algo muito “outro”.
Imagine que você possui determinada cor de pele ou de cabelo.
Imagine que o desprezam e o humilham, que o perseguem, que o prendem, que o matam por isso, por ser diferente.
Imagine que desde que nasce, todo o sistema te diz e te repete que você é estranho, anormal, doente, que deve arrepender-se do que é e que, depois de culpar a má sorte e/ou a justiça divina, deve a todo custo fazer o possível para modificar este “defeito de fabricação”.
E claro, olhe você, precisamente temos um produto que simplesmente
faz m-a-r-a-v-i-l-h-a-s com defeitos congênitos. Este pensamento o alivia
da rebeldia e este tão incômodo estar reclamando de tudo. Este creme muda
sua cor de pele. Esta tinta para o cabelo te dá a tonalidade da moda.
Este curso de “como ganhar amig@s e ser popular na rede” te dá
todo o necessário para ser uma pessoa moderna. Este tratamento te
devolverá a juventude. Este dvd te mostrará como portar-se à mesa,
na rua, no trabalho, na cama, nos assaltos ilegais (ladrões), nos
assaltos legais (bancos, governos, eleições, empresas legalmente estabelecidas),
nas reuniões sociais… Quê? Oh, não te convidam para as reuniões sociais?…
ok, também te indica o que fazer para que o convidem.
Enfim, aqui saberá você o segredo de como triunfar na vida. Deixe para trás
Lady Gaga e Justin Bieber em número de seguidores no twitter! Inclui
uma máscara segundo sua escolha. Temos todas! Também a de CSG(2)…
ok, ok, ok, este foi um péssimo exemplo, mas sim temos uma para cada necessidade.
Que já não te olhem com asco! Que já não te chamem de maloqueir@, índi@,
negr@, região 4, zombie, filozapatista!
Imagine você que, apesar de todos seus esforços e boas ações, não consegue ocultar sua cor de pele ou de cabelo.
Agora imagine que se lança uma campanha para eliminar tod@s que são como você.
Não é que haja um evento para dar-lhe início, ou uma lei que o estabeleça, contudo você se dá conta de que todo o sistema começa a andar e dirigir-se contra você, e contra aqueles que são como você. Toda a sociedade convertida em uma máquina cujo propósito inicial é aniquilá-lo.
Primeiro há os olhares de reprovação, asco, desprezo. Seguem os insultos, agressões. Depois há detidos, deportados, encarcerados. Logo mortos por aqui e por lá, legal e ilegalmente. Finalmente uma campanha formada, a máquina em toda sua potência, para sumir com você e tod@s @s que se assemelham. A identidade daqueles que formam a sociedade se firma com o ódio contra você. Sua culpa? Ser diferente.
-*-
Ainda não percebe?
Ok, imagine então que você é…(ponha você o masculino, feminino, ou outro, segundo seu caso).
Um indígena em um país dominado por estrangeiros. Uma revoada de helicópteros militares se dirige às suas terras. A imprensa dirá que a ocupação do parque eólico impedia a diminuição da contaminação ou que a selva estava sendo destruída. “A desocupação era necessária para reduzir o aquecimento global”, secretário de governo.
Um negro em uma nação dominada por brancos. Um juíz WASP(3) vai ditar a sentença. O Juri o declarou culpado. Entre as provas apresentadas pela fiscalização está uma análise da pigmentação da sua pele.
Um judeu na Alemanha nazista. O oficial da Gestapo o olha fixamente. Em breve o informe dirá que se foi depurada a raça humana.
Um palestino na Palestina atual. O míssil do exército israelense aponta para a escola, o hospital, o bairro, a casa. Amanhã a mídia dirá que se abateram alvos militares.
Um imigrante no outro lado de qualquer fronteira. Se aproxima uma patrula da imigração. No dia seguinte não aparecerá nada nos noticiários.
Um padre, monge, secular que optou pelos pobres, em meio a opulência do Vaticano. O discurso do Cardeal é dirigido contra aqueles que se envolvem em coisas terrenas.
Um vendedor ambulante em um centro comercial exclusivo em uma zona residencial exclusiva. A Tropa de Choque estaciona. “Defendemos o livre comércio”, declarará o delegado governamental.
Uma mulher sozinha, de dia ou de noite, em um transporte público cheio de homens. Uma pequena porção da “violência de gênero”. O agente policial dirá: “é que elas provocam”.
Um gay sozinho, de dia ou de noite, em um transporte público cheio de machos. Uma pequena porção da “violência homofóbica”.
Uma trabalhadora do sexo em uma rua estranha e esquina vazia… se aproxima uma viatura. “O governo combate a prostituição com eficácia” dirá a imprensa.
Uma punk, um rastafari, uma skatista, um cholo, uma metaleira, na rua, a noite… se aproxima outra viatura. “Estamos inibindo as condutas anti-sociais e o vandalismo”, chefe de governo.
Um grafiteiro pixando no World Trade Center… se aproxima uma outra viatura. “Faremos todo o necessário para ter uma cidade bela e atrativa para o turismo”, qualquer funcionário.
Um comunista em uma reunião do partido fascista de direita. “Estamos contra os totalitarismos que fizeram tanto dano no mundo”, o presidente do partido.
Um anarquista em uma reunião do partido comunita. “Estamos contra os desvios pequeno-burgueses que fazem tanto dano à revolução mundial”, o secretário geral do partido.
Um programa do jornal “31 minutos”(4)  na barra informativa da CNN. Tulio Triviño e Juan Carlos Bodoque se entreolham desconcertados, não dizem nada.
Um grupo alternativo de música vendendo seu CD em um show da Lady Gaga, Madonna, Justin Bieber, ou seja o que escutem. A policial se aproxima. Os fãs gritam raivosos.
Uma artista dançando fora do grande centro cultural onde se apresenta o Ballet Bolshoi (sim-de-gala-só-com-convite-sentimos-muito-senhorita-você-está-incomodando). A segurança reestabelece a tranquilidade.
Um idoso em uma reunião presidida pelo ministro japonês de finanças Taró Asó (estudou em Stanford e há pouco pediu às pessoas idosas “que se apresassem em morrer” porque sai muito caro que sigam vivos). Se corta mais um gasto social.
Um Anonymous criticando o “copyright” em uma conferência da Microsoft-Apple. “Um perigoso hacker atrás das grades”, apontarão os meios de comunicação.
Um jovem Mapuche que, no Chile, reivindica o território de seus antepassados enquanto vê se aproximar os tanques e o verde ofensivo dos carabineiros. A bala que o fere mortalmente nas costas seguirá impune.
Um jovem e/ou estudante ou desempregadon em um quartel do exército-polícia-guarda civil-carabineiros. O último que escutou? “Disparem!”
Um “comunero” nahua nas oficinas de uma empresa mineradora transnacional. Uniformizados o sequestram. “Estamos investigando“, respectivos governos.
Um dissidente frente aos muros de metal cinza levantados, enquanto do outro lado a classe política mexicana engole o sapo de mais uma imposição. Recebe o golpe de uma bala de borracha que o faz perder um olho ou lhe rompe o crânio. “Se chama a unidade pelo bem do país. Hora de deixar as rivalidades para trás“, cabeças de noticiários.
Um campesino frente a um exército de advogados e policiais escutando que a terra onde trabalha, onde nasceram e cresceram seus pais, seus avós, seus tataravós, e assim até que o tempo se confunde, é agora propriedade de uma empresa imobiliária e que você está despojando os pobres empresários de algo que legalmente os pertence. A prisão.
Um opositor à fraude eleitoral que vê como são exonerados os 40 ladrões e seus puxa-sacos(5). A piada: “há que virar a página e olhar adiante”.
Um homem ou uma mulher que se aproxima para ver o que é a mobilização e logo é “encapsulada” pelas forças de ordem. Enquanto a ou o empurram, golpeiam e chutam para levar-la à viatura, você consegue ver que as câmeras dos famosos canais de televisão estão apontando para o outro lado.
Um indígena zapatista na prisão do mau governo (PRI-PAN-PRD-PT-MC) desde muitos anos. Lê no jornal: “Por quê o EZLN reaparece justamente agora que o PRI retornou ao Poder? Muito suspeito.”
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Nos segue?
Agora…
Sente a certeza de estar fora de lugar?
Sente o medo de ser ignorad@, insultad@, golpead@, enganad@, humilhad@, violad@, encarcerad@, assassinad@ somente por ser quem é?
Sente a impotência de não poder fazernada para evitar, para defender-se, para ser escutado?
Amaldiçoou você o momento em que se meteu neste lugar, o dia em que nasceu, a hora em que começou a ler este texto?
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Vários destes exemplos acima mencionados possuem nome, calendário e geografia:
Juan Francisco Kuykendall Leal. O compa Kuy, da Sexta, professor, dramaturgo, diretor de teatro. Crânio destruído em 1º de dezembro de 2012 por um disparo das “forças de ordem”. Planejaba fazer uma obra de teatro sobre Enrique Peña Nieto.
José Uriel Sandoval Díaz. Jovem estudante da Universidade Autônoma da Cidade do México, e integrante do Conselho Estudantil de Luta. Perdeu um olho na repressão do 1º de dezembro de 2012, a raíz do ataque das “forças de ordem”. Planejava resistir à imposição de Enrique Peña Nieto.
Celedonio Prudencio Monroy. Indígena Nahua. Sequestrado em 23 de outubro de 2012 pelas “forças de ordem”. Planejava resistir ao despojo das terras nahuas por parte das mineradoras e madereiras.
Adrián Javier González Villarreal. Jovem aluno da Faculdade de Engenharia Mecânica e Elétrica da Universidade Autônoma de Nuevo León, México, assassinado em janeiro de 2013 pelas “forças de ordem”. Planejava graduar-se e ser um profissional respeitado.
Cruz Morales Calderón e Juvencio Lascurain. Campesinos presos em Veracruz, 2010-2011, pelas “forças de ordem”. Planejavam resistir ao despojo de suas terras por parte de empresas imobiliárias.
Matías Valentín Catrileo Quezada. Jovem indígena Mapuche, assassinado em 3 de janeiro de 2008, no Chile, América Latina, pelas “forças de ordem”. Planejava resistir ao despojo da terra mapuche por parte do governo, latifundiários e empresas transnacionais.
Francisco Sántiz López, indígena zapatista, preso injustamente pelas “forças de ordem”. Planejava resistir à contrainsurgência governamental de Juan Sabines Guerrero e Felipe Calderón Hinojosa.
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Agora… não se desespere, já quase terminamos….
Agora imagine você que não tem medo, ou que se tem, o controla.
Imagine que você vai e, frente ao espelho, não somente não oculta ou maqueia sua diferença, mas sim a reforça.
Imagine que você faz este “ser diferente” um escudo e uma arma, se defende, encontra outr@s como você, se organiza, resiste, luta, e, sem dar-se conta, pasa do “sou diferente” ao “somos diferentes”.
Imagine que você não se esconde atrás da “maturidade” e a “sensatez”, atrás do “não é a hora”, “não há condições”, “há que esperar”, “é inútil”, “não há remédio”.
Imagine que não se vende, que não cede, que não se rende.
Pode imaginar?
Bem, pois ainda que nem nós nem você saibamos, somos parte de um “nós” maior e ainda por construir.
(continuará…)
Desde qualquer canto, em qualquer dos mundos.
SupMarcos.
Planeta Terra.
Janeiro de 2013.
NOTAS
1) “el miedo va a cambiar de bando” é uma canção do projeto “Riot Propaganda. United Artists of Revolution” projeto das bandas “Los Chikos del Maíz” e “Habeas Corpus”.
2) Carlos Salinas de Gortari
3) [White Anglo Saxon Protestant]
4) “31 Minutos” é um programa chileno de televisão que parodia os telejornais. Tulio Triviño e Juan Carlos Bodoque são dois fantoches que apresentam o programa.
5) “40 ladrões” (como em Ali Babá e seus 40 ladrões) refere-se aos 30 governadores e membros do gabinete presidencial que auxiliaram o lançamento da “Cruzada Nacional contra a Fome”, de Enrique Peña Nieto em Las Margaritas, Chiapas, mas também é utilizado pelo Subcomandante Insurgente Marcos e @s zapatistas como uma maneira de se referir à classe política mexicana em geral.