Comunicados Zapatistas

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Eles e Nós. III. Os Capatazes.

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS. III.- Os Capatazes.

 

Em algum lugar do México…

O senhor golpeia a mesa, furioso.

– Aniquile-os!!!

– Senhor, com todo respeito, levamos mais de 500 anos tentando. Os sucessivos grandes impérios tem tentado com todo o poderio militar da época –.

– E por quê seguem aí?

– Err… todavia estamos tentando entender – o lacaio olha com ar de reprovação ao que usa uniforme militar.

O aludido se levanta e, em posição de sentido, estende seu braço direito à frente, com a mão estendida, e grita com entusiasmo:

– ¡Heil…! perdão, quis dizer, o saúdo, senhor – Logo depois de dirigir uma olhada ameaçadora que cala as risadinhas dos demais comensais, continua: – O problema, senhor, é que estes hereges não nos enfrentam onde somos fortes, nos dão a volta, nos atacam em nossas debilidades. Se tudo fosse questão de armas e fogo, bem, pois faz tempo que estas terras, com seus bosques, água, minerais, gente, haveriam sido conquistadas e assim você podéria ter-los oferecido em homenagem ao grande Chefe, senhor. Estes covardes, ao invés de nos enfrentar só com seus heróicos peitos desnudos, ou com arcos, flechas e lanças, e entrar para a história como heróis (derrotados sim, mas como heróis), se preparam, se organizam, se unem, nos contornam, se escondem quando lhe tiram a máscara. Porém não estaríamos nesta situação se tivessem me escutado quando começou tudo -, e olha com reprovação ao comensal cujo letreiro na mesa se lê: “chupa-cabras versão 8.8.1.3″.

O comensal então diz sorrindo:

– General, com todo respeito, não possuíamos uma bomba atômica. E ainda que pudéssemos ter conseguido uma de nossos aliados (o comensal que tem o letreiro de embaixador agradece a menção), conseguiríamos ter aniquilado todos os indígenas, mas também teríamos destruído os bosques e a água, além de que os trabalhos de exploração e exportação de minerais seriam impossíveis por, digamos, vários séculos -.

Outro dos lacaios intervém:

– Lhes oferecemos que à sua morte haveriam canções e poemas celebrando seu sacrifício, músicas, filmes, mesas redondas, ensaios, livros, obras de teatro, estátuas, seu nome em letras douradas. Lhes dissemos que se se empenhassem em resistir e seguir vivos, íamos semear rumores e dúvidas sobre por quê não desapareceram, por quê não morreram, e diríamos que eram criação nossa, que íamos levar adiante uma campanha para desacreditá-los que contaria inclusive com apoio de alguns intelectuais, artistas e jornalistas progressistas.

Os comensais aludidos fazem um gesto de aprovação, ainda que mais de um se desagrade por tantos “istas”.

O senhor interrompe impaciente:

– E?

– Nos responderam com um sinal assim – (o lacaio ergue a mão com o dedo médio levantado)

Os comensais se revolvem indignados e clamam:

– Proles! Favelados! Grosseiros! Plebeus! Marginais!

O lacaio com o dedo médio levantado, olhando de frente ao senhor.

Este o repreende:

– Já entendi!, já pode baixar a mão.

O lacaio baixa a mão lentamente, enquanto pisca para os demais comensais. Depois continua:

– O problema, senhor, é que estas pessoas não cultuam a morte, e sim a vida. Temos tentado eliminar seus líderes visíveis, comprá-los, seduzi-los.

– E então?

– Além de não termos conseguido, nos demos conta de que o problema maior são os líderes invisíveis.

– Ok, encontre-os.

– Já os encontramos, senhor.

– E? –

– São tod@s, senhor. –

Como que tod@s?

– Sim, todas, todos. Esta foi uma da mensagens que deixaram no dia do fim do mundo. Conseguimos que não se veiculasse isto nos meios de comunicação, porém acredito que aqui podemos dizê-lo sem temor que alguém mais se dê conta. Usaram um código para que nós entendessemos: o que está acima do tablado é o chefe.

– Quê?! 40 mil chefes e chefas?

– Err… senhor, desculpe, estes são os que vimos, havia muitos mais que não vimos.

– Compre-os então. Imagino que temos dinheiro suficiente. – acrescenta ele dirigindo-se ao comensal com o letreiro de “caixa não automático”.

O chamado “caixa”, começa a gaguejar:

– Bem, senhor, teríamos que vender algo do Estado e já quase não sobrou nada.

O lacaio interrompe:

– Senhor, já o tentamos.

– E?

– Não tem preço.

– Então os convença.

– Não entendem o que os dizemos. E para falar a verdade, nós também não entendemos o que eles dizem. Falam de dignidade, de liberdade, de justiça, de democracia…

– Bom, então façamos como que não existam. Assim morrerão de fome, doenças curáveis, com um bom cerco informativo, ninguém perceberá até que seja tarde. Isto, que morram de esquecimento.

O comensal que se assemelha surpreendentemente a um chupa-cabras faz um sinal de aprovação. O senhor agradece o gesto.

– Sim, senhor, mas há um problema.

– Qual?

– Ainda que os ignoremos, insistem em seguir existindo. Sem nossas esmolas, perdão, quis dizer sem nossa ajuda, construíram escolas, produziram na terra, levantaram clínicas e hospitais, melhoraram suas moradias e sua alimentação, baixaram os índices de delinquência, acabaram com o alcoolismo. E, além de proibirem a produção, distribuição e consumo de narcóticos, elevaram sua expectativa de vida e quase a igualaram com a das grandes cidades.

– Ah, ou seja, segue sendo maior nas cidades – o senhor sorri contente.

– Não senhor, quando disse “quase” é que a deles é superior. A expectativa de vida nas cidades se reduziu graças à estratégia de seu antecessor, senhor.

Todos se viram com olhar de censura e desprezo ao personagem de gravata azul.

– Quer dizer que estes rebeldes vivem melhor que os que se vendem a nós?

– Completamente, senhor. Mas com isto não há que preocupar-se, montamos uma campanha midiática ad hoc para esconder isto.

– E?

– O problema é que nem eles nem os nossos veem televisão, nem leem nossos jornais, não tem twitter, nem facebook, nem sequer sinal de celular. Eles sabem que estão melhor e os nossos sabem que estão pior.

Se levanta o comensal com o letreiro de “esquerda moderna”:

– Senhor, se me permite. Com o novo programa de Solid…perdão, quis dizer com a Cruzada Nacional…

O lacaio o interrompe impaciente:

– Basta Chayo, não comece com discursos para a mídia. Todos nós concordamos que nosso principal inimigo são estes malditos índios e não o inominável(1) outro. A este o temos bem infiltrado e cercado por pessoas que recebem ordens do senhor aqui presente.

O do letreiro “chupa-cabras” concorda com satisfação e recebe agradecido as palmadinhas que lhe dão os comensais próximos.

O lacaio continua:

– Porém você e eu, e todos os demais que estamos aqui, sabemos que tudo isso dos programas sociais é uma mentira, que não importa quanto dinheiro se invista, no fim da linha quase não sobra nada. Porque cada um leva sua parte. Depois do senhor, com todo respeito, tu agarra uma boa parte, todos os aqui presentes também, logo os senhores governadores, os mandantes das zonas militares e navais, as legislaturas locais, os presidentes municipais, os comissionados, os líderes, os encarregados, total, que para baixo já sobra muito pouco, ou nada.

O senhor intervém:

– Pois há que se fazer algo já, porque se não o Chefe vai buscar outros capatazes e vocês sabem bem, damas e cavalheiros, o que isso significa: o desemprego, o escárnio, talvez a prisão ou o exílio.

A personagem rotulada “chupa-cabras” se estremece e faz um gesto afirmativo.

– E é urgente, porque se estes índios pé-rachado… (a filha do senhor faz um sinal de asco, a senhora se sente subitamente indisposta e adquire uma cor verde que até ofusca o Lanterna Verde). A senhora se retira argumentando estar passando mal.

O senhor segue:

– Se estes malditos índios se unem entre si, estaremos com graves problemas porque…

– Han, han, senhor – interrompe o lacaio.

– Sim? –

– Temo que há um problema maior, quer dizer, pior, senhor -.

– Maior? Pior? Quê pode ser pior que toda a indiada insurgente? –

– Bom, pois que se alinhem com @s outr@s, senhor -,

– @s outr@s? Quem são? –

– Mmh… deixe me ver… bem, pois campesinos, operários, desempregados, jovens, estudantes, professores, empregados, mulheres, homens, idosos, profissionais, maricas e machonas, punks, rastafaris, skatistas, rappers, hip-hoperos, rockeiros, metaleiros, motoristas, colonos, ong’s, ambulantes, bandas, raças, marginais, favelados… –

– Basta!, já entendi… creio.

Os lacaios se entreolham com um sorriso cúmplice.

– Onde estão os líderes que compramos? Onde estão os que convencemos de que a solução é tornar-se um de nós?

– Cada vez acreditam menos, senhor. Cada vez controlam menos seu povo.

– Procurem quem comprar! Ofereçam-lhes dinheiros, viagens, programas de televisão, escrituras, cargos, governos! Mas sobretudo dinheiro, muito dinheiro!

– Estamos fazendo, senhor, mas… – o lacaio hesita.

– E? – o pressiona o senhor.

– Cada vez encontramos mais… –

– Magnífico! Precisa de mais dinheiro então?

– Senhor, quero dizer que cada vez encontramos mais que não se vendem.

– O terror então?

– Senhor, cada vez são mais os que não tem medo, ou que se o tem, o controlam.

– A manipulação?

– Senhor, cada vez são mais os que pensam por si próprios.

– Há que exterminar todos então!

– Senhor, se exterminarmos todos, também nós desapareceríamos. Quem semeará a terra, quem operará as máquinas, quem trabalhará nos grandes meios, quem nos atenderá, quem lutará em nossas guerras, quem nos bajulará?

– Então há que convencê-los que nós também somos tão necessários quanto eles.

– Senhor, além de cada vez mais gente está se dando conta de que não somos necessários, parece que o Chefe está duvidando de nossa utilidade, e por “nossa” me refiro a todos nós.

Os convidados da mesa do senhor se reviram incômodos em seus asentos.

– E então?

– Senhor, enquanto procuramos outra solução, porque a do “Pacto”(2) não serviu para nada, e vendo que é necessário evitar a vergonha de se refugiar de novo em um banheiro(3), adquirimos algo mais conveniente: um”quarto de pânico”!

Os comensais ficam em pé para aplaudir. Todos se amontoam ao redor da máquina. O senhor entra e se coloca frente aos controles.

O lacaio, nervoso, adverte:

– Senhor, só tenha cuidado para não apertar o botão de “ejeção”.

– Este?

– Nãããããããããããããããão!

As maquiadoras e os marionetes correm para dar os primeiros socorros.

O lacaio se dirige até um dos cinegrafistas que havia filmado tudo:

– Tens que apagar esta parte… E diga ao Chefe que vá preparando um boneco de reposição. Este vai ficar “resetando” a cada minuto.

Os comensais ajeitam a gravata, a saia, se penteiam, tossem, buscando chamar a atenção. Os clicks das câmeras e a luz dos flashes ofuscam todo…

(continuará…)

Desde qualquer canto em qualquer mundo.

 

SupMarcos.

Planeta Terra.

Janeiro de 2013.

 

Dados tomados do Informe #69 do Serviço de Inteligência Autônoma (SIA) sobre o que foi escutado e visto em uma reunião ultra-alta-extremamente-hiper secreta, realizada em México, D.F., quintal dos Estados Unidos da América, latitude 19° 24´ N, longitude 99° 9´ W. Data: Há umas poucas horas. Classificação: Somente para Seus Olhos. Recomendação: não tornar pública esta informação porque nos vão delatar. Nota: mandem mais pozol porque Elías(4) se acabou ao grito de “joguem-se que há lama!”, e está dançando ska com a música de Tijuana No, “Transgresores de la Ley”, na versão de Nana Pancha. Sim, está bela a canção, mas está difícil entrar no bate-cabeça porque Elías está de botas mineras com ponta de aço.

———————

Notas:

1) O inominável é uma referência a Andrés Manuel Lopez Obrador;

2) Se refere ao ”Pacto por México”;

3) Durante um discurso na Universidade Iberoamericana durante as campanhas presidenciais, Enrique Peña Nieto precisou se esconder no banheiro masculino enquanto os estudantes faziam um protesto contra ele;

———————-

 

Escute e veja o vídeo que acompanha o texto:

http://www.youtube.com/watch?v=RRqmPk3TnGs&feature=player_embedded

“Luna Negra”. Versos de Arcadio Hidalgo. Música e interpretaçãon de Los Cojolites. Agora sim que o outro é jarocho. ¡A zapatearle en el fandango raza!

http://www.youtube.com/watch?v=F9C61W_QnCA&feature=player_embedded

“En esta tierra que me vio nacer”, com MC LOKOTER. Agradecimentos ao Outro Zumpango. Produção e Fotografia: Joana López. Direção e edição: Ricardo Santillán. Produção: BLASJOY DESIGNER. Ano 2012.

Nota: Um “MC” é algo como um DJ de sentimentos nobres e palavras lindas, mas com rima hip hopera. ¡A Rapeeeeeeeeeeeeeeeear!

 

http://www.youtube.com/watch?v=L5IhoPxC_ks&feature=player_embedded

“Transgresores de la ley” de Tijuana No, na versão do grupo musical Nana Pancha, de seu disco “Flores para los muertos”. Cada vez que os “Tijuana No” tocavam esta canção, a dedicavam ao ezetaelene [EZLN], ainda que os zapatistas não estivessem na moda. Obrigad@ e um grande abraço àqueles que nunca nos esqueceram. Skaaaaaaaaaaaaaaa! ¡Al brincolín banda!

ELES E NÓS II.- A Máquina em quase 2 páginas.

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS

II.- A Máquina em quase 2 páginas.

Janeiro de 2013.

Fala o vendedor:

É maravilhosa, muito “cool” para que me entenda. Se chama “globalização neoliberal versão 6.6.6”, mas preferimos nomear “a selvagem” ou “a besta”. Sim, um nome agressivo de iniciativa pois, muito grrr. Sim, isto aprendi no curso de superação pessoal “Como vender um pesadelo”mas voltemos à máquina. Seu funcionamento é muito simples. É auto suficiente (ou “sustentável”, como agora se diz). Produz sim, ganancias exorbitantes… Quê? Converter parte desta ganância para suprir a fome, o desemprego, a falta de ensino? Mas se são exatamente estas carências que fazem andar esta preciosidade! Que tal, é? Uma máquina que produz ao mesmo tempo o combustível que necessita para andar: a miséria e o desemprego.

Claro, também produz mercadorias, mas não só. Observe você: suponhamos que se produz algo completamente inútil, que ninguém necessita, sem mercado pois. Bom, esta maravilha não só produz o inútil, também cria o mercado onde esta inutilidade se converte em um artigo de primeira necessidade.

As crises? Claro, só aperte você este botão aqui…não, esse não, esse é o de ejeçãoo outro… sim. Bom, aperte você este botão e tarán!, aí tem você a crise que necessita., completa, com seus milhões de desempregados, seus tanques anti-motins, suas especulações financeiras, suas secas, suas fomes, seu desmatamento, suas guerras, suas religiões apocalípticas, seus salvadores supremos, suas prisões e cemitérios (para os que não sigam aos salvadores supremos), seus paraísos fiscais, seus programas assistencialistas com tema musical e coreografia incluídos….claro, um pouco de caridade sempre será bem visto.

Porém não é tudo, agora permita-me, deixe que ponha este demo. Quando você a põe em modo “destruição/despovoamento-reconstrução/reordenamento” faz milagres. Veja este exemplo: Vê estes bosques? Não, não se preocupe com estes indígenas… sim, são do povo Mapuche, mas poderiam ser yaquis, mayos, nahuas, purépechas, maya, guaranís, aymarás, quechúas. Bem, aperte você este botãoplaye veja como desaparecem os bosques (também os indígenas, mas estes nunca importam), agora veja como tudo se converte em um páramo, espere… Aí chegam as máquinas, e ¡voilá!: aí tem você o campo de golfe que sempre sonhou, com seu conjunto residencial exclusivo e com todos os serviços. Ah, maravilhoso não?

Também vem com um software que é o último dos últimos. Você pode clicar aqui, onde diz “filtro”, e em sua TV, rádio, jornais, revistas, facebook, twiiter, youtube, aparecem somente salmos e louvores para você e os seus. Sim, elimina todo comentário, escrito, imagem, ruído, toda a má vibração que habitualmente postam estes proles anônimos, sujos, feios e maus… e grosseiros, sim.

Possui câmbio manual (ainda que você possa passar ao piloto automático com apenas um click);heliporto; não, um boleto de avião não, porque logo não haverá para onde escapar, mas sim um lugar no lançador espacial que estiver para sair.; também possui seu mall super-hiper-mega exclusivo; campo de golfe; bar; clube de iates; um diploma de Harvard nomeado; casa de verão; pista de gelosim, eu sei, o quê faríamos sem a esquerda moderna e suas ideias extravagantes? Ah, e com esta maravilha você poderá estar em “tempo real” e simultaneamente em qualquer parte do planeta, é como se tivesse seu próprio e exclusivo caixa eletrônico global.

Mmh… sim, inclui uma bula papal para assegurar-te um lugar V.I.P. No céu. Sim, eu sei, mas já estamos trabalhando nisto da imortalidade. Todavia, te podemos instalar como acessório (com custo a parte, claro, mas estou seguro que isso não é problema para alguém como você): um quarto de pânico! Sim, vai que estes vândalos começam a exigir o que os pertence com isso de “a terra é de quem nela trabalha” Oh,mas não há com que preocupar-se. Para isto temos governantes, partidos políticos, religiões novas, “reality shows”. Mas claro, é um supositório, e se chegarem a falhar alguma vez? Com certeza, em questões de segurança nenhum gasto é oneroso. Claro, deixe que anoto: “incluir Quarto de Pânico”.

Inclui também um estudio de TV, um de rádio, e uma mesa de redação. Não, não me interprete mal. Não são para ver televisão, nem escutar rádio, nem ler jornais e revistas, isto é para os mal nascidos. São para produzir a informação e o entretenimento daqueles que fazem a máquina andar. Não é genial?

Quê?Oh…bem…sim…temo que este pequeno problema não foi solucionado por nossos especialistas. Sim, se a matéria-prima, quero dizer, se a multidão trabalhadora se rebela não há nada que fazer. Sim, pode ser que o “quarto de pânico” seja também inútil nessa situação. Mas não há que ficar pessimista, pense que este dia… ou noite… está muito distante. Sim, isto do otimismo “new age” também aprendi no curso de superação pessoal. É? Quê? Estou despedido?


(continuará…)

Desde qualquer canto, em qualquer dos mundos.

SupMarcos.
Planeta Terra.
Janeiro de 2013.

Escute e veja o vídeo que acompanha este texto:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&list=PLFC422381A5A58784&v=8SQpb39fUV4

FuckTha Posse – El Fin De Los Días (Dr. Loncho, Oscar A Secas y Hazhe) – 20 Minutes Mixtape Vol. 1

Sobre la lucha del Pueblo Mapuche.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=6wvVB-gcKM0

ELES E NÓS. I. – As (des) razões de acima.

Tradução feita por: amandac

Revisão: pendente

ELES E NÓS. I. – As (des) razões de acima.

ELES E NÓS.

I.- As (des) razões de acima.

Janeiro de 2013.

Dizem os de acima:

Nós somos os que mandamos. Somos mais poderosos, ainda que sejamos menos. Não nos importa o que diga-escute-pense-faça, sempre estará mudo, surdo, imóvil.”

Podemos impor como governante alguém medianamente inteligente (ainda que já é muito difícil encontrá-los na classe política), mas elegemos alguém que nem sequer pode simular que sabe qual é o assunto.

Por quê? Porque podemos fazê-lo.

Podemos usar o aparato policial e militar para perseguir e encarcerar os verdadeiros delinquentes, mas esses criminosos são parte vital nossa. Em troca escolhemos perseguir-te, golpear-te, deter-te, torturar-te, encarcerar-te, assassinar-te.

Por quê? Porque podemos fazê-lo.

Inocente ou culpado? E a quem importa se eres um ou outro? A justiça é uma puta a mais em nosso pequeno caderno de contatos e, acredite, não é a mais cara.

E ainda que cumpra ao pé da letra com o molde que impomos, ainda que não faça nada, ainda que seja inocente, te esmagaremos.

E se insistes em perguntar por que o fazemos, te respondemos: porque podemos fazê-lo.

Isso é possuir o Poder. Se fala muito em dinheiro, riquezas e essas coisas. Mas acredite que o que excita é este sentimento de poder decidir sobre a vida, a liberdade e os bens de qualquer um. Não, o poder não é o dinheiro, é o que pode possuir com ele. O Poder não é somente exercê-lo impunemente, também e sobretudo, fazê-lo irracionalmente. Porque ter o Poder é fazer e desfazer sem ter mais motivos que a posse do Poder.

E não importa quem apareça à frente, ocultando-nos. Isto de direita e esquerda, são só referenciais para que o chofer estacione o carro. A máquina funciona por si só. Nem sequer temos que ordenar que castiguem a insolência de nos desafiar. Governos grandes, médios e pequenos, de todo o espectro político, além de intelectuais, artistas, jornalistas, políticos, líderes religiosos, disputam o privilégio de nos agradar.

Assim que se dane, que se foda, que apodreça, que morra, que se desiluda, que se renda.

Para o resto do mundo tu não existe, és ninguém.

Sim, temos semeado o ódio, o cinismo, o rancor, a desesperança o senso teórico e prático de foda-se-o-mundo, o conformismo do “menos pior”, o medo transformado em resignação.

Entretanto, tememos que isto se transforme em raiva organizada, rebelde, sem preço.

Porque o caos que impomos o controlamos, o administramos, o dosificamos, o alimentamos. Nossas “forças de ordem” são nossas forças para impor nosso caos.

Porém o kaos que vem de abaixo…

Ah, esse… nem sequer entendemos o que dizem, quem são, quanto custam.

E são tão grosseiros que já não mendigam, esperam, pedem, suplicam, apenas exercem sua liberdade. Onde já se viu tamanha obscenidade!

Este é o verdadeiro perigo. Gente que olha para o outro lado, que sai do molde, o rompe, o ignora.

Sabes o que nos tem dado um ótimo resultado? Este mito da unidade a todo custo. Entender-se somente com o chefe, dirigente, líder, caudilho, ou como se chame. Controlar, administrar, conter, comprar a um/a é mais fácil que a muitos. Sim, e mais barato. Isto e as rebeldias individuais. São tão comovedoramente inúteis.

Em contrapartida, o que sim é um perigo, é que cada qual se organize em coletivo, grupo, banda, raça, organização, e ao seu lado aprenda a dizer “não” e a dizer “sim”, e que se ponham em acordo entre eles. Porque o “não” aponta a nós que mandamos. E o “sim”… uf… isto sim é uma calamidade, imagina-te que cada qual construa seu próprio destino, e decidam o que ser e fazer. Seria como apontar que nós somos os dispensáveis, os que sobramos, os que estorvamos, os que não somos necessários, os que devemos ser encarcerados, os que devemos desaparecer.

Sim, um pesadelo. Sim, claro, só que agora é para nós.Imagine que mal gosto seria este mundo? Cheio de índios, de negros, de pardos, de amarelos, de vermelhos, de rastas, de tatuagens, de piercings, de rebites, de punks, de gótic@s, de chol@s,de skatistas, dessa bandeira do (A) tão sem nação para comprá-la, de jovens, de mulheres, de put@s, de crianças, de idosos, de pachucos, de motoristas, de campesinos, de operários, de manos, de favelados, de pobres, de anônimos, de… de outr@s. Sem um espaço privilegiado para nós, “the beautiful people“… a “gente de bem” para que nos entenda…. porque se vê de longe que você não estudou em Harvard.

Sim, este dia seria noite para nós… Sim, tudo reverteria. O que faríamos?

Mmh… não havíamos pensado nisso. Pensamos, planejamos e executamos o que fazer para que não ocorra, mas… não, não nos havia ocorrido.

Bom, neste caso, pois…mmh… não sei… pode ser que buscássemos culpados e logo, pensar, não sei, um plano “B”. Claro que então tudo seria inútil. Creio que então recordaríamos a deste maldito judeu vermelho… não, Marx não, Einstein, Albert Einstein. Me parece que foi ele quem disse: “A teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. A prática é quando tudo funciona e ninguém sabe porquê. Neste caso combinamos a teoria e a prática: nada funciona… e ninguém sabe porquê.”

Não, tens razão, nem sequer alcançaríamos uma risada. O senso de humor sempre foi um patrimônio não expropriável. Não é uma pena?

Sim, sem dúvida: são tempos de crises.

Ei, e não vai tirar fotos? Digo, para nos arrumarmos um pouco e vestirmos algo mais distinto. Nah, este modelito já o usamos em “Hola”1…ah, mas pelo que conversamos, se nota que você não passou do “libro vaquero” [HQ mexicana].

Ah, mal podemos esperar para contar a noss@s amig@s que nos veio entrevistar um tão…tão…tão…outro. Vão ficar encantados. E, bem, a nós nos vai dar um ar tão cosmopolita…

Não, claro que não te tememos. E sobre esta profecia…bah, se trata só de supertições, tão…tão…tão autóctones. Sim, tão de Região 4… hahahaha… que ótima piada, deixe que anotemos para quando vejamos as crianças…

Quê? Não é uma profecia?…

Oh, é uma promessa…

(…) (som de titutata-tatatatá, do smartphone)

Bom, polícia? Sim, para reportar que veio alguém nos ver. Sim, pensamos que era um jornalista ou algo assim. Veio tão…tão… tão outro, sim. Não, não nos fez nada. Não, também não levou nada. É que, agora que saimos para o clube para ver noss@s amig@s, estamos vendo que pintaram algo no portão de entrada do jardim. Não, os guardas não se deram conta de quem. Claro que não! Os fantasmas não existem. Bom, está pintado assim com muitas cores… Não, não vimos nenhum pote de tinta por perto…Bom, lhe diziamos que está pintado com muitas cores, assim, muito colorido, muito mano, muito outro, nada a ver com as galerias onde… quê? Não, não queremos que mande nenhuma patrulha. Sim, já sabemos. Porém ligamos para ver se podem investigar o que quer dizer o que está pintado. Não sabemos se é uma chave, ou uma língua dessas estranhas que falam os proles. Sim, é uma só palavra, mas não sabemos por quê nos produz calafrios. Diz:

¡MARICHIWEU!”2

(continuará…)

Desde qualquer canto, em qualquer dos mundos.

SupMarcos.
Planeta Terra.
Janeiro de 2013.

Escute e veja os vídeos que acompanham este texto:

a) Pachuco

http://www.youtube.com/watch?v=4UXRUUVjV7A&feature=player_embedded

Pachuco“, com La Maldita Vecindad y los Hijos del 5to Patio. Um video que, agora sim, é de uma perspectiva “de abaixo”, ou seja, do meio do tumulto. Moral da história: Não grave enquanto estiver no trampolim. E como vai, Maldita? Não seja tão previsível e chegue a um acordo. Ou o que? Você vai abandonar as pessoas à merce des Justin Biebers e outros? Okay então, um abraço daqui de Solin, porque todos vocês entenderam que as comunidades são a verdadeira Kalimán3.

b) “Más por tu dinero”

http://www.youtube.com/watch?v=UklPFLM3E0w&feature=player_embedded

Más por tu dinero“. Roteiro e direção de Yordi Capó. Guadalajara, México, Agosto de 2003.

c) “De ratones y gatos”

http://www.youtube.com/watch?v=e-fEX3_GBsc&feature=player_embedded

Desenhos animados baseados em palavras de Thomas C. Douglas (1904-1986).

 

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1Revista “Hola” é a equivalente à Revista “Quem” no Brasil, que escreve sobre a vida das celebridades.

2“Cem vezes venceremos” em Mapuche

3Kalimán é mais uma antiga HQ. Solin era o ajudante de Kalimán.