Retirado de <http://www.congresonacionalindigena.org/o-que-e-o-cni/>. Acesso em: 3/5/17.
O Congresso Nacional Indígena se constituiu no dia 12 de outubro de 1996, almejando ser a casa de todos os povos indígenas, o que quer dizer que é um espaço onde os povos originários encontraremos um espaço de reflexão e de solidariedade para fortalecer nossas lutas de resistência e rebeldia, com nossas próprias formas de organização, de representação e de tomada de decisões, é um espaço dos índios que somos. Somos os povos, nações e tribos originárias desse país México: Amuzgo, Binnizá, Chichimeca, Chinanteco, Chol, Chontal de Oaxaca, Chontal de Tabasco, Coca, Comcac, Cuicateco, Cucapá, Guarijío, Ikoots, Kumiai, Lacandón, Mam, Matlazinca, Maya, Mayo, Mazahua, Mazateco, Mixe, Mixteco, Nahua, Ñahñu/Ñajtho/Ñuhu, Náyeri, Popoluca, Purépecha, Rarámuri, Sayulteco, Tepehua, Tepehuano, Tlapaneco, Tohono Oódham, Tojolabal, Totonaco, Triqui, Tzeltal, Tzotzil, Wixárika, Yaqui, Zoque, Afromestizo e Mestizo.
Que quando dizemos povo o que somos, é porque levamos em nosso sangue, em nossa carne e em nossa pele toda a história, toda a esperança, toda a sabedoria, a cultura, a língua e a identidade. Somos os povos que continuamos sendo apesar dos 5 séculos de extermínio, violência, dominação, expropriação/exclusão do capitalismo e seus aliados dos donos do dinheiro, os representantes da morte. O capitalismo nasceu do
sangue de nossos povos e continua se alimentando dele.
Não esquecemos. Porque esse sangue, essas vidas, essas lutas, essa história são a essência de nossa resistência e da nossa rebeldia, que se fazem autonomias, reivindicações ancestrais de educação, segurança, justiça, espiritualidade, comunicação, autodefesa e autogoverno.
Coletivamente construímos, abraçamos, defendemos e exercemos os acordos de San Andrés Sakamch´en de los Pobres como a constituição de nossos povos, porque representam a única forma de seguir existindo como povos que somos, são o nosso direito a livre determinação e autonomia, o que quer dizer de decidir sobre nossos território, nossas formas de nos organizar coletivamente e a forma que queremos construir nosso futuro.
Os povos que formamos o CNI nos regemos por sete princípios e nosso espaço máximo de decisão é a assembleia geral reunida no congresso, onde todas e todos temos palavra para decidir coletivamente.
1.- Servir e não servir-se.
2.- Construir e não destruir.
3.- Representar e não suplantar.
4.- Convencer e não vencer.
5.- Obedecer e não mandar.
6.- Baixar e não subir.
7.- Propor e não impor.
Em 1998 realizamos nosso II Congresso Nacional Indígena no México Tenochitlán e dissemos: Pela reconstituição integral dos nossos povos pela qual decidimos impulsionar junto aos nossos irmãos do EZLN a Consulta Nacional para o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e pelo fim da guerra de extermínio.
Em 2001, no nosso III Congresso Nacional Indígena realizado em Nurío Michoacán dissemos: pelo reconhecimento constitucional de nossos direitos coletivos e nos somamos a Marcha pela Dignidade Indígena que encabeçaram nossos irmãos do EZLN, onde a voz primeira dos nossos povos e pela voz majoritária da sociedade mexicana se expressou exigindo o tal reconhecimento. Mas a resposta desse mal governo foi a de traição ao aprovar a contrarreforma indígena de 2001, proposta pelo poder executivo, materializada pelo poder legislativo e avalizada pelo poder judiciário, evidenciando que nossa palavra e nosso sentir apenas serviram de piada e de escárnio aos poderosos. Nos demos conta que o tempo de nos virar para cima havia se acabado, que o tempo de olhar para baixo nos sacudia e exigia empreender os passos que a história nos exigia.
No ano de 2006, no IV Congresso Nacional Indígena em San Pedro Atlapulco por meio de muita reflexão decidimos assinar a Sexta Declaração da Selva Lacandona: exercer até a últimas consequências a autonomia nos fazeres e na resistência indígenas.
Mas cientes de que construímos nossas autonomias, o despojo e a guerra de extermínio que foram ficando mais violentos e nossas dores cada vez mais profundas. A guerra quer nos matar como povos e nos matar como indivíduos.
Frente aos despejos que se multiplicam em novas formas e em novos rincões e que trazem tanta morte seguimos sendo os povos vivos e coletivos, os povos dignos com nossas rebeldias e resistências que se fizeram lutas e resistências nas que vemos espelhos que se refletem no espelho que somos.
Esses espelhos são os despejos que sofremos e que vivemos em nossos territórios, são os que nos fazem saber em uma emergência que atenta contra a nossa vida.
Da nossa dor nasceu a nossa raiva, da raiva nossa rebeldia e da rebeldia nascerá a liberdade dos povos do mundo. Porque o coração de nossa mãe terra vive no espírito livre dos nossos povos.
Isso é o que somos, nossa palavra, nosso caminhar e nossa luta irrenunciável, pois somos o Congresso Nacional Indígena e nosso é o futuro de nossos povos.